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Crise dos Estados pode levar a desmonte de universidades

UERJ não tem funcionários nem para determinar quais servidores pediram exoneração nos últimos anos, por falta de salário

Rio de Janeiro - Alunos e servidores da Uerj fazem manifestação contra salários atrasados e incertezas sobre repasses de verbas à instituição (Tomaz Silva/Agência Brasil/Agência Brasil)

Rio de Janeiro - Alunos e servidores da Uerj fazem manifestação contra salários atrasados e incertezas sobre repasses de verbas à instituição (Tomaz Silva/Agência Brasil/Agência Brasil)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 9 de julho de 2017 às 12h19.

São Paulo - A crise dos Estados poderá trazer um desmonte na rede brasileira de ensino e pesquisas similar ao causado pelo regime militar, que aposentou e afastou compulsoriamente dezenas de professores universitários contrários à ditadura, na década de 70. A opinião é de Glauco Arbix, pesquisador do Observatório de Inovação e Competitividade do Instituto de Estudos Avançados e professor da USP.

"As universidades vão sentir, daqui a dez anos, os efeitos na interrupção na formação de novos acadêmicos", diz ele. "Haverá mais professores crus, sem formação rigorosa, como aconteceu quando caçaram toda uma geração durante a ditadura."

O Ministério da Educação não tem um levantamento do impacto causado pela crise dos Estados e pela restrição orçamentária nas universidades, nos centros e institutos de pesquisa espalhados pelo País. Mas, para se ter uma ideia, apenas na UERJ, 335 profissionais pediram exoneração entre 2014 e fevereiro de 2017, por conta dos atrasos nos salários.

"Devido ao reduzido número de funcionários na universidade em função da falta de salários, não será possível no momento informar separadamente o número de docentes e técnicos administrativo (que pediram exoneração)", informou a assessoria de imprensa da UERJ, por e-mail.

Uma dessas acadêmicas que se afastaram é a professora de ciência política Elizabeth Stein. Americana, ela estudou em seu doutorado a relação entre os militantes e a mídia, entre 1974 e o fim do regime militar. Gostou da ideia de lecionar no Brasil e foi contratada pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos da instituição, em 2012.

Pouco depois, porém, começaram os problemas. Além das burocracias que a levaram, por exemplo, a esperar dois meses por sua posse na universidade e por anos sua identificação de residente permanente, em 2015 começaram os atrasos no salário. O 13.º foi parcelado, as datas de pagamento começaram a ser sucessivamente postergadas e promessas dos depósitos de salário nunca eram cumpridas.

Sem família no Brasil e com dívida estudantil nos EUA, se viu sem saída. "Foi bem difícil", diz ela. "Quando a UERJ começava a pagar, às vezes tinham cinco depósitos no mês, alguns de apenas R$ 300." Liz, como é chamada, só conseguiu atravessar esse período graças a empréstimos. "Se eu não tivesse uma família e amigos tão bons, não sei o que faria", afirma.

A professora de ciência política voltou aos EUA, onde hoje dá aulas na Universidade de Indiana. "Não vi defesa de teses de alguns alunos e metodologias estatísticas que levei a UERJ, hoje não são mais ensinadas", diz.

As informações são do jornal O Estado de S.Paulo

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