Bares e casas noturnas registraram menor movimento em outubro devido à crise do metanol (Getty Images)
Estagiária de jornalismo
Publicado em 16 de outubro de 2025 às 18h45.
Última atualização em 16 de outubro de 2025 às 18h52.
Bares, restaurantes e casas noturnas de São Paulo recuperaram parte do movimento após semanas em baixa e começam a observar um retorno à normalidade em meio à crise do metanol, segundo Edson Pinto, diretor-executivo da Federação de Hotéis, Restaurantes e Bares do Estado de São Paulo (Fhoresp).
"O setor já começa a trabalhar com uma certa normalidade", afirma em entrevista à EXAME. O executivo diz, porém, que as projeções de faturamento anual das empresas afetadas devem ser reduzidas em razão da crise, segundo a associação.
No primeiro fim de semana de outubro, dados da Fhoresp mostraram que o movimento de clientes em bares, restaurantes e casas noturnas caiu 27%. O consumo de bebidas alcoólicas destiladas teve queda mais dramática, de 52%.
Alguns estabelecimentos suspenderam a venda de bebidas alcoólicas, outros fecharam mais cedo.
"Evidentemente, bares e casas noturnas foram mais afetados do que o resto do setor [de alimentos]", diz Edson Pinto.
De acordo com o executivo, o andamento das investigações acalmou o setor e tranquilizou os clientes.
"O pico da crise já passou", afirma Edson.
Com a chegada do terceiro fim de semana da crise, o impacto estimado está em cerca de 10% e a redução do consumo de destilados em 40%.
Segundo o último boletim do Ministério da Saúde, o total de casos confirmados subiu de 32 na nesta segunda-feira, 13, para 41 na quarta-feira, 15.
Outros 107 casos permanecem em investigação, enquanto 469 sobre os quais havia suspeita foram descartados.
Os números de casos confirmados são:
Apesar da recuperação de parte da clientela, os efeitos da crise podem ser duradouros.
Um levantamento da Fhoresp projetou para 2025 um faturamento de R$ 575 bilhões e crescimento de 6,1% do setor de alimentação, ou seja, bares, restaurantes e casas noturnas.
"Agora nós estamos monitorando o impacto da crise do metanol. Se isso se estender até o verão, o impacto financeiro será mais significativo", diz Edson. "Os R$ 575 bilhões de faturamento são uma previsão, om certeza vamos ter que revisar esse número para baixo em função da crise".
Além disso, o comportamento dos consumidores foi alterado. Bares mais tradicionais e estabelecimentos que adotaram a política de divulgar notas fiscais têm atraído mais clientes, afirma Edson.
Segundo outro estudo da Fhoresp, 36% das bebidas comercializadas no Brasil são ilegais. Isso configura mais de um terço do mercado e indica uma grande infiltração de produtos irregulares e adulterados.
Arthur Rollo, ex-secretário Nacional do Consumidor no Ministério da Justiça, acredita que esse dado mostra uma omissão da fiscalização.
"No momento que o Estado fez a fiscalização de fato, vários falsificadores foram presos, várias empresas foram fechadas e vários insumos para falsificação foram apreendidos. Se for olharmos para trás, é visível que nada disso aconteceu antes e os falsificadores já estavam lá", afirma.
Rollo também acredita que ainda é cedo para a normalização dos hábitos de consumo e que as investigações recentes são apenas "a ponta do iceberg".
"Na minha opinião, esses eventos recentes revelam uma absoluta insegurança do consumidor em relação às bebidas que ele vai consumir. Eu acredito que há subnotificação de casos de intoxicação, pois a adulteração é um fenômeno muito amplo", diz.