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Cresce número de brasileiros que defendem democracia, diz pesquisa

Aumento partiu de momento de baixo apoio à democracia; números ainda refletem fragilidade das instituições democráticas no país

Democracia: "O que temos é uma melhora a partir de um patamar muito ruim", diz pesquisadora (Patricia Monteiro/Bloomberg)

Democracia: "O que temos é uma melhora a partir de um patamar muito ruim", diz pesquisadora (Patricia Monteiro/Bloomberg)

AO

Agência O Globo

Publicado em 27 de janeiro de 2020 às 16h41.

São Paulo — O número de brasileiros que preferem a democracia em relação a qualquer outra forma de governo cresceu entre 2018 e 2019 — de 56,2% para 64,8%. No mesmo período, caiu pela metade o número de brasileiros que acreditam que, em algumas circunstâncias, uma ditadura pode ser preferível — de 21,1% para 11,2%. É o que mostra a pesquisa “A Cara da Democracia”, realizada pelo Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação, que reúne pesquisadores sociais do Brasil, Argentina e Portugal.

Apesar das melhorias observadas, os pesquisadores alertam que a comparação parte de um momento em que o apoio dos brasileiros à regimes democráticos estava particularmente baixo.

"Houve uma queda grande no apoio a democracia no Brasil entre 2014 e 2018 devido à crise econômica, escândalos de corrupção e fragilização das instituições de combate à esta. O ponto mais baixo desse apoio, no Brasil, foi em 2018. Não por acaso o Bolsonaro foi eleito presidente naquele momento, com todas as críticas à democracia que ele tinha e, ao que parece, continua tendo", explica o coordenador da pesquisa e professor da Universidade Federal de Minas Gerais, Leonardo Avritzer. "Então, o que temos é uma melhora a partir de um patamar muito ruim".

Entre 2018 e 2019, cresceu o repúdio dos brasileiros a qualquer justificativa para um golpe militar. No último ano, mais de 70% dos brasileiros ouvidos não acreditavam que protestos sociais, desemprego ou crise econômica sejam razão para tomada de poder através de um golpe do tipo. Mais de 55% também não acreditavam que corrupção, crime ou instabilidade política justificariam o ato.

Desgaste das instituições democráticas

A pesquisa mostra também um desgaste dos demais Poderes diante da opinião pública. Metade dos brasileiros ouvidos pela pesquisa não confia no Congresso, embora esse número tenha caído de 56,3% para 50,2% entre os dois anos. Em 2018, um em cada dez brasileiros acreditava ser justificável que o chefe do Executivo feche o Congresso diante de dificuldades. Em 2019, dois em cada dez ouvidos defendiam o mesmo.

Apesar do aumento, sete em cada dez (71,4%) não acreditam que, quando o país está enfrentando dificuldades, é justificável que o Presidente de República feche o Legislativo.

O Judiciário também enfrenta uma crise de confiabilidade: apenas 8,3% dos entrevistados afirmaram confiar muito na instituição em 2019. Eram 12,9% em 2018. Não confiam no Judiciário 38,2% dos brasileiros – em 2018, eram 33,9%.

Em 2019, quando perguntados se o judiciário brasileiro tomas suas decisões sem ser influenciado por políticos, empresários ou outros interesses, 61% dos brasileiros responderam que não. Apenas 26% acreditam que o poder judiciário tome decisões de maneira isenta.

Os números refletem a fragilidade da democracia brasileira e de suas principais instituições, segundo Avritzer.

"Para uma democracia ser forte, tem que existir confiança nas instituições democráticas. Mas para ter confiança é preciso que elas se abram nessa direção", defende. "A disputa sobre o pacote da lei de abuso de autoridade entre os ministros Fux e Toffoli, por exemplo, é o tipo de conflito que ajuda na lesão das convicções democráticas dos cidadãos. O brasileiro precisa confiar nas instituições, mas elas tem comportamentos que geram a erosão dessa própria confiança".

A desconfiança também é estendida a partidos políticos, mas diminuiu – de 76,9% que em 2019 afirmaram “não confiar” nestes, para 71,3% em 2019. Caíram também o número de brasileiros que confiam muito nas Igrejas (de 35,2% para 32%) e nas Forças Armadas (de 33,9% para 29,1%).

A pesquisa tem margem de erro de dois pontos percentuais e ouviu cerca de 2000 brasileiros em 151 municípios de todas regiões do país, em 2018 e em novembro de 2019.

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