Casal de lésbicas de mãos dadas: São Paulo foi a cidade campeã nos assassinatos de homossexuais em 2012, seguida por Pernambuco e Bahia (David Silverman/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 10 de janeiro de 2013 às 18h24.
Salvador - Levantamento feito pelo Grupo Gay da Bahia (GGB), mais antiga organização de defesa de homossexuais do Brasil, fundada em 1980, divulgado nesta quinta-feira (10), mostra que foram assassinados, no ano passado, 338 integrantes brasileiros do chamado grupo LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais). O dado representa um crescimento de 27% no número de homicídios na comparação dom 2011 (266 casos). Desde 2005 (81 casos), o montante avançou 317%.
O levantamento, feito há três décadas com base em reportagens publicadas em todo o País e informações coletadas por Organizações Não-Governamentais (ONGs), inclui suicídios, casos em que as vítimas foram confundidas com homossexuais e mortes de brasileiros no exterior - no ano passado, foi registrada a morte de dois travestis brasileiros na Itália. "Esses dados são só a ponta do iceberg", acredita o antropólogo Luiz Mott, fundador do GGB e organizador da pesquisa. "A realidade deve ser muito maior que essa estimativa, há muita subnotificação. Ainda assim, somos os campeões mundiais de assassinatos de homossexuais, com 44% de todos os casos do planeta."
De acordo com o estudo, São Paulo registrou o maior número absoluto de assassinatos de homossexuais, com 45 casos, seguido de Pernambuco, com 33, e Bahia, com 29. O levantamento, porém, aponta Alagoas como o Estado mais perigoso para integrantes do grupo LGBT, com 5,6 homicídios de homossexuais por grupo de 1 milhão de habitantes (18 casos no total), seguido por Paraíba, com 4,9 assassinatos por milhão de habitantes (19 casos) e Piauí, com 4,7 mortes por milhão de habitantes (15 casos). O Nordeste concentrou 45% dos homicídios.
Para o presidente do GGB, Marcelo Cerqueira, a falta de educação sexual no País e a impunidade são os principais combustíveis para o avanço dos crimes contra homossexuais. "A homofobia precisa ser severamente punida pela polícia e pela Justiça", acredita. "A certeza da impunidade e o estereótipo do gay como fraco, indefeso, estimulam a ação dos assassinos." De acordo com o levantamento, em apenas 89 casos, dos 338, o autor do homicídio foi identificado - e apenas 24 deles foram presos.
Entre os casos destacados pelo GGB, estão o assassinato do jornalista e ativista LGBT goiano Lucas Cardoso Fortuna, de 28 anos, morto por espancamento em novembro por dois assaltantes em uma praia da região metropolitana de Recife, e o homicídio de José Leonardo da Silva, de 22 anos, morto a pedradas na saída de uma festa em Camaçari (BA), em junho. Ele foi confundido com um gay por estar abraçado ao irmão gêmeo, que também ficou ferido no ataque. Nos dois casos, porém, os agressores foram presos.