CPI da covid-19: grupos menos engajados politicamente têm falado menos sobre a comissão (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Carolina Riveira
Publicado em 16 de agosto de 2021 às 12h26.
Última atualização em 16 de agosto de 2021 às 12h31.
Em julho, a CPI da covid-19 partiu para o recesso quase no auge das descobertas: das primeiras menções ao deputado Ricardo Barros (PP-PR) às suspeitas de relação de membros do governo com atravessadores na compra de vacinas.
Mas desde a volta da comissão, em 3 de agosto, o debate nas redes sociais — um dos principais termômetros do impacto da CPI até agora — ainda segue morno, e ofuscado por outros temas políticos, do "voto impresso" à privatização dos Correios.
Levantamento da consultoria de dados digitais .MAP, feito à pedido da EXAME, mostra que, enquanto a CPI respondeu por 8% do debate nas redes em junho e 6,5% em julho, em agosto, até agora, representa cerca de 2,5%.
Na análise qualitativa da movimentação no Twitter, a .MAP também concluiu que sobretudo o grupo que chama de "opinião pública" (os sem posicionamento partidário de esquerda ou direita) está menos presente no debate sobre a CPI do que em outros meses.
A participação desse grupo chegou a quase 40% em maio e junho e, no mês de agosto até quinta-feira, 12, caiu para menos de 15%.
"Desde a volta do recesso, esse grupo sem posicionamento político claro mostra um certo desinteresse pela comissão", diz Giovanna Masullo, diretora-executiva da .MAP.
"Até porque, o clima está muito quente na política, e a atenção tem sido redirecionada a esses outros assuntos."
Dentre os temas mais comentados no Twitter entre 1º e 12 de agosto, estão assuntos mais amplos, como as vacinas contra a covid-19, o Supremo Tribunal Federal, a carreta das Forças Armadas em Brasília e as Olimpíadas (que acabaram em 8 de agosto).
Um destaque fora da curva foram os Correios. Na semana em que a Câmara aprovou o projeto que abre caminho para privatização da estatal, em 5 de agosto, o tema foi o terceiro mais comentado nas redes sociais, e é o quarto no geral no mês de agosto, incluindo um debate mais amplo sobre privatizações (veja no gráfico abaixo).
Segundo a análise qualitativa da .MAP, a visão nas redes sobre a privatização dos Correios foi majoritariamente negativa. Só 1% dos posts analisados consistiam em comentários positivos.
Masullo diz que o tamanho que tomou a discussão sobre os Correios foi "surpreendente", uma vez que, antes disso, o debate sobre privatização ficava restrito a nomes como o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, e postagens com interação sobretudo da base governista.
No caso dos Correios, ela aponta que houve uma grande participação do grupo sem posicionamento político.
"Foram todos os grupos debatendo, não só os militantes", diz. "Os públicos de esquerda naturalmente entram nesse tema, mas o grupo mais neutro também repercutiu muito desta vez, com muitas críticas à privatização."
Enquanto os grupos gerais se voltam para outros temas, a discussão sobre a CPI tem ficado mais restrita aos grupos políticos já engajados.
O grupo classificado como de esquerda se manteve quase constante em participação desde o começo da comissão (na casa dos 15%, com exceção de maio, quando subiu a 22%, puxada pelos primeiros dias bombásticos de CPI).
Já público de direita, que domina tradicionalmente o debate nas redes, ficou relativamente ofuscada no começo da CPI, mas saltou de menos de 40% para 58% da participação em julho e 57% em agosto até agora.
É difícil precisar o que levou a uma queda de interesse na CPI. As hipóteses vão do fato de a comissão não ser mais uma novidade ao próprio caminho da investigação, que começa a ficar mais complexa.
"A opinião publica começa a ficar sem entender muito bem o que está acontecendo. Vai se criando uma confusão de nomes e casos, o que ajuda a tirar o interesse das pessoas", diz Masullo.
Os nomes ouvidos pela comissão desde a volta do recesso também são pouco conhecidos, com exceção do deputado Ricardo Barros, líder do governo na Câmara, mas cujo depoimento foi encerrado no meio do dia por questão de ordem (a CPI afirma que ainda pretende convocá-lo novamente).
Masullo também aponta que os grupos de direita nas redes são os mais articulados e capazes de "criar debates" que depois extrapolam para toda a sociedade, levando o foco para outros temas.
"Na questão do voto impresso, por exemplo, houve toda essa mobilização da direita, o presidente Bolsonaro entrando pesado, e isso tomou um aspecto muito grande e nacional, de modo que depois todos os públicos entraram na discussão", explica. "A articulação da direita faz com que eles consigam impor sua pauta no debate público."
Já a oposição cresce em alguns momentos mais específicos. No primeiro ato contra o presidente Jair Bolsonaro, em 31 de maio, o grupo visto como esquerda nas redes conseguiu cooptar o público sem posicionamento e cresceu, como mostrou a .MAP na ocasião. Ocasiões como os auges da CPI também geram espaço.
"Mas a esquerda ainda fica muito a reboque desses 'grandes momentos'. A militância da direita é mais constante e articulada nas redes", completa Masullo.
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