Alfredo Gaspar: deputado e relator da CPMI do INSS propôs investigação a partir dde 2015. (Geraldo Magela/Agência Senado)
Agência de notícias
Publicado em 26 de agosto de 2025 às 11h20.
Última atualização em 26 de agosto de 2025 às 11h54.
A CPI do INSS iniciou os seus trabalhos nesta terça-feira, com o relator Alfredo Gaspar (União-AL) apresentando um plano de trabalho que abrange investigar fraudes em benefícios pagos pelo instituto desde 2015, período que engloba o segundo mandato da ex-presidente Dilma Rousseff. A intenção de incluir a gestão da petista é alvo de protesto de governistas, que ameaçam não aprovar o documento de Gaspar. A ideia é que o plano seja votado ainda nesta terça-feira.
"Serão consideradas as condutas criminosas praticadas a partir do segundo governo da presidente Dilma Rousseff, perpassando por todos os governos até os dias atuais. Ou seja, não tem partidário aqui, todos serão investigados", disse Gaspar.
O senador Carlos Viana (Podemos-MG), presidente do colegiado, anunciou que após a leitura do plano de trabalho por Gaspar, a sessão terá uma pausa para que se chegue a um consenso.
No início da sessão, os governistas conseguiram emplacar o deputado Duarte Júnior (PSB-MA) como vice-presidente. Os primeiros requerimentos para convocação de depoimentos também devem ser votados nesta terça. Algumas possíveis testemunhas são tidas como sensíveis, incluindo o irmão do presidente Lula, José Ferreira da Silva, conhecido como Frei Chico, vice-presidente de um sindicato. Em seu pronunciamento, Duarte disse que quer ser um nome de "isenção técnica".
"Terei isenção técnica. Não teremos bandido de estimação, seja ele de direita ou de esquerda" afirmou.
A comissão foi instalada em um momento em que o governo acumula desgaste por derrotas recentes no Congresso e busca evitar que a investigação se transforme em palco de confronto direto entre aliados e opositores. Mesmo antes de votar seus primeiros requerimentos, a CPI já acumula 910 pedidos ainda não apreciados. Entre os requerimentos que estão na pauta desta terça-feira estão convocações de nomes ligados aos governos Lula e Bolsonaro, além de pedidos de acesso às investigações sobre as fraudes.
A derrota do governo na eleição da presidência da CPI ficou clara com a vitória de Carlos Viana, em uma chapa que reuniu setores da oposição, que indicou Alfredo Gaspar como relator. A movimentação surpreendeu a base, expondo fragilidades na articulação interna, apesar de o bloco governista manter maioria numérica no colegiado. Inicialmente, a base havia articulado acordo com os presidentes do Senado e da Câmara, Davi Alcolumbre (União-AP) e Hugo Motta (Republicanos-PB), respectivamente, prevendo Omar Aziz (PSD-AM) na presidência e Ricardo Ayres (Republicanos-TO) na relatoria, mas o plano foi frustrado pela ofensiva da oposição.
Além da disputa por cargos, o governo monitora a pauta da comissão e tenta influenciar o calendário das reuniões, atualmente marcadas pela oposição para segundas e quintas, dias em que Brasília costuma estar mais vazia. A estratégia inclui também contatos com senadores independentes, estudos jurídicos sobre a possibilidade de restringir convocações e articulações para que depoimentos como o de Frei Chico não ocorram.
O irmão de Lula é ligado ao Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi), citado em relatório da Controladoria-Geral da União (CGU) sobre possíveis fraudes. Frei Chico não é investigado, e o sindicato nega irregularidades. Não há requerimento de convocação dele na pauta desta sessão.
O governo também tenta pautar requerimentos-chave como a convocação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e do senador e ex-ministro da Justiça, Sergio Moro. Esses pedidos não estão na pauta da sessão de hoje e devem enfrentar dificuldades para serem votados.
A CPI do INSS se configura como um teste de capacidade de articulação do governo, que precisa equilibrar a defesa de aliados, evitar desgastes políticos desnecessários e manter o controle sobre o fluxo de informações e documentos enquanto a comissão avança na coleta de depoimentos. Para aliados do Planalto, o desafio é impedir que a investigação se transforme em um instrumento de pressão política contra Lula e sua base, ao mesmo tempo que se preserva a imagem de transparência e legalidade.