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CPI de Brumadinho tem relatos contraditórios sobre detonação de explosivos

Funcionário afirmou ter visto uma detonação na mina entre 12h20 e 12h40 no dia do rompimento; ruptura da barragem ocorreu às 12h28

Hoje, cinco meses depois do desastre, os bombeiros contabilizam 246 mortos na tragédia. Outras 24 pessoas seguem desaparecidas (Adriano Machado/Reuters)

Hoje, cinco meses depois do desastre, os bombeiros contabilizam 246 mortos na tragédia. Outras 24 pessoas seguem desaparecidas (Adriano Machado/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 25 de junho de 2019 às 14h38.

Última atualização em 25 de junho de 2019 às 14h39.

Belo Horizonte — Um funcionário da Vale e outro terceirizado da empresa prestaram depoimentos contraditórios à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Assembleia Legislativa de Minas Gerais sobre detonação de explosivos na mina em Brumadinho no dia do rompimento da barragem da empresa, em 25 de janeiro deste ano. Hoje, cinco meses depois do desastre, os bombeiros contabilizam 246 mortos na tragédia. Outras 24 pessoas seguem desaparecidas.

Relatório emitido pela empresa Tüv Süd no ano passado, em documento que atestou a estabilidade da barragem que acabou se rompendo, se posicionava pela proibição de detonações no complexo.

As explosões fazem parte do processo de produção de empresas do setor, quando o minério está muito compacto, máquinas não conseguem realizar a extração. As detonações, então, são feitas para facilitar o trabalho nas minas. Um funcionário da Tüv Süd, Denis Valentim, conseguiu habeas corpus e não foi ouvido pela CPI.

No depoimento à comissão, nesta segunda-feira, 24, o funcionário terceirizado da Vale, Eiichi Pampulini Osawa, mecânico de máquinas pesadas, disse que no dia do rompimento trabalhava próximo à mina na manutenção de um trator. À Polícia Civil, em interrogatório confirmado à CPI, Osawa, que foi à comissão sem advogado, afirmou ter visto uma detonação na mina entre 12h20 e 12h40 do dia 25. A ruptura da barragem ocorreu às 12h28.

O depoente disse não saber se a detonação ocorreu antes ou depois de a barragem cair. "Vi a explosão e, quando desci (chegou próximo à área atingida pela lama), a represa tinha rompido", afirmou.

Blaster (profissional que trabalha com aplicação de explosivos) da Vale, Edmar de Resende, que prestou depoimento ao lado de advogado contratado pela mineradora, afirmou ter feito uma detonação na mina às 13h33 do dia 25, portanto, pouco mais de uma hora depois do rompimento da barragem. Resende apresentou um vídeo que, conforme o funcionário, foi feito da explosão no dia, com etiqueta mostrando data e horário.

O funcionário relatou que a previsão era de que o horário previsto para a detonação era por volta do meio dia, mas que a operação atrasou. Resende disse ainda que ficou sabendo do rompimento da barragem pelo rádio, no horário em que ocorreu. A partir daí, conforme o empregado da Vale, sem receber qualquer orientação da mineradora, passou a avaliar, com colegas que tinha ao lado, se ativaria ou não os explosivos, que já estavam aplicados. Decidiu, então, por conta própria, fazer a detonação às 13h33. "Não sei o que o levou (o funcionário terceirizado) a achar que a detonação ocorreu às 12h20", afirmou Resende.

Ocorreu ainda entre os dois divergência sobre a distância entre o local da detonação e a barragem. Conforme o funcionário da empresa terceirizada, um quilômetro separavam as duas áreas. Segundo o empregado da Vale, este espaço é maior, de aproximadamente quatro quilômetros. A assessoria da CPI, durante a sessão, disse que a distância é de 1,3 quilômetro

Horário

Segundo o funcionário terceirizado da Vale, as detonações normalmente aconteciam na hora do almoço. No depoimento, o empregado contratado da mineradora afirmou que, no dia 25, não houve detonações no complexo antes da realizada às 13h33.

Ambos foram interrogados na condição de testemunhas. O blaster afirmou aos deputados que em momento algum foi repassado pela empresa orientações sobre a não realização de detonações, conforme previsto no relatório da Tüv Süd.

Resende disse ter um relatório sobre detonações feitas em dias anteriores ao rompimento, e que entregou as informações a um engenheiro da Vale chamado Elon Figueiredo. Deputados da CPI vão colocar em votação requerimento para ter acesso ao documento.

A Vale emitiu dois posicionamentos sobre os depoimentos do empregado e do funcionário terceirizado à CPI. No primeiro, às 20h32 desta segunda, disse que "a ocorrência de detonações é inerente às atividades de mineração. No relatório emitido pela TUV SUD em junho/18, não existe a recomendação expressa de paralisação das operações das minas. Essas detonações, portanto, eram realizadas de forma monitorada na cava das minas de Córrego do Feijão e de Jangada, estando de acordo com as recomendações da auditoria. A legislação não estabelece distância mínima. Se houvesse necessidade de interromper as operações nas minas de Córrego do Feijão e de Jangada, isso teria sido recomendado pela auditoria".

No segundo posicionamento, às 21h06, disse: "não temos registros de detonações feitas pela Vale na manhã do dia 25, e as recomendações da Tüv Süd eram conhecidas e consideradas pela área operacional geotécnica na execução das atividades no complexo".

A barragem de rejeitos que se rompeu, chamada B1, estava, conforme informações da Vale, paralisada e em processo de descomissionamento. A mina do complexo seguia em operação mas com a produção sendo feita no modo a seco - que não necessita de reservatório para descarte do rejeito.

As operações de resgate de corpos em Brumadinho, conforme o último relatório dos bombeiros, divulgado nesta segunda-feira, mostra 134 bombeiros, dois cães e um drone distribuídos em 20 frentes de trabalho na região.

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