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CPI das Bets vota relatório final com pedido de indiciamento de influenciadoras

Caso aprovado, o documento será encaminhado ao Ministério Público Federal

CPI das Bets: relatório apresentado pela senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS) na terça pede o indiciamento de influenciadores (Pedro França/Agência Senado)

CPI das Bets: relatório apresentado pela senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS) na terça pede o indiciamento de influenciadores (Pedro França/Agência Senado)

Agência o Globo
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Agência de notícias

Publicado em 12 de junho de 2025 às 06h47.

Última atualização em 12 de junho de 2025 às 06h49.

A CPI das Bets votará, nesta quinta-feira, 12, o relatório final dos trabalhos do colegiado. A votação acontece sete meses após o início dos trabalhos.

O relatório apresentado pela senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS) na terça pede o indiciamento das influenciadoras Virgínia Fonseca, Deolane Bezerra e de outras 14 pessoas, incluindo empresários e representantes de casas de apostas.

Caso aprovado, o documento será encaminhado ao Ministério Público Federal avaliar se há elementos para abrir uma investigação.

O relatório atribui a Virgínia o crime de estelionato e propaganda enganosa pelo fato de a influenciadora ter “simulado” apostas de altos valores em suas redes sociais, induzindo seus seguidores a jogar nos sites para os quais fez publicidade.

Em nota, Virgínia se disse “surpresa e espantada” com o pedido de indiciamento. “A defesa se pronunciará oportunamente, após a deliberação colegiada final da CPI, sempre confiando que se observe a Virgínia o mesmo tratamento dado a outros influenciadores digitais que, assim como ela, agiram licitamente”, disse.

O relatório final da CPI cita que Virgínia reconheceu, em depoimento ao colegiado, que se valia de uma “conta simulada” para fazer as apostas, durante as peças de publicidade feitas para a internet, o que configura “propaganda enganosa com com obtenção de vantagem indevida mediante indução a erro”.

“Ao induzir em erro seus milhões de seguidores — que acreditaram que suas ‘apostas’ eram reais —, e obter vantagem indevida — em razão das apostas realizadas por parte desses seguidores, que renderam milhões ela e às Bets que representou —, há indícios de que Virgínia tenha cometido o crime de estelionato”, escreveu a senadora.

A parlamentar ainda afirma que apesar de Virgínia ter negado receber o chamado “cachê da desgraça” das empresas, que prevê que quanto mais seguidores perdem, mais o influenciador ganha, o contrato dela inclui um adicional de 30% do lucro gerado para a bet. “Portanto, eufemismos à parte, chamemos as coisas pelo seu nome: essa cláusula estabelece que os ganhos da influenciadora estão atrelados às perdas incorridas por seus seguidores”, diz o texto.

Já em relação a Deolane, a relatora da CPI pede a responsabilização da advogada e influenciadora por sua ligação com a bet Zeroum, que não tem autorização do governo federal para atuar no país. A empresa opera hoje por meio de uma decisão judicial, após conseguir aval de funcionamento no Rio por meio da Loteria do Estado do Rio de Janeiro (Loterj).

A senadora afirmou que, apesar disso, a influenciadora divulgou falsamente que a Zeroum “teria autorização do órgão federal para atuar em âmbito nacional”: “A ocultação da verdadeira condição de Deolane na empresa, que se viu representada por possíveis “laranjas”, com repasses a título de propaganda, pode caracterizar, também, o delito de lavagem de dinheiro”.

Além disso, o texto afirma que a influenciadora vendeu sua participação na empresa por R$ 30 milhões, sem que houvesse qualquer registro de pagamento. Ainda assim, o relatório final da CPI afirma que, embora não conste mais no quadro societário, “há vários indícios de que Deolane continua à frente da empresa”.

O texto do relatório ainda afirma que Deolane e seus filhos registraram movimentações financeiras incompatíveis com as suas declarações de Imposto de Renda.

Pelas redes, Deolane comentou o relatório. “Tá faltando nomes aí”, escreveu a influenciadora em uma publicação na qual listou os nomes incluídos no relatório apresentado pela relatora da CPI das Bets.

A Zeroumbet, por sua vez, afirmou, em nota, ver “com estranheza” o relatório final da CPI das Bets. “O documento contém desinformações e inconsistências que, a bem da verdade, devem ser devidamente esclarecidas. Deolane não é sócia da empresa, como sugere o relatório. Ela é contratada como embaixadora da marca. Outras pessoas citadas no relatório não são sócias da empresa, mas administradores”, diz o comunicado.

Outro nome incluído entre os pedidos de indiciamento é de Adélia Soares, que participou do “Big Brother Brasil 2016” e tem um escritório de advocacia. Ela já atuou como advogada de Deolane.

Adélia é apontada no relatório da CPI como responsável pela PlayFlow, empresa usada para receber apostas dos sites ilegais. O esquema, está vinculado à máfia chinesa, segundo o parecer de Soraya. A defesa de Adélia afirma, em nota, que o relatório é “uma coleção de inverdades com o objetivo de retaliá-la pelo fato de não ter comparecido ao segundo depoimento”.

A relatora da CPI também pede o indiciamento de empresários envolvidos com casas de apostas, entre eles Fernando Oliveira Lima, da One Internet Group. Conhecido com Fernandinho OIG, a senadora afirma que ele e outros parceiros ligados à empresa utilizaram contratações para publicidade e serviços digitais como “fachada” para encobrir a origem de recursos provenientes de jogos de azar não regulados.

A defesa de Fernando, por meio de nota, negou irregularidades envolvendo suas atividades empresariais. “Todos os bens e valores encontram-se devidamente declarados às autoridades competentes, foram auditados por empresas de auditorias independentes e validados pelos órgãos de controle, de modo que descabe qualquer imputação de lavagem de dinheiro ou outros ilícitos”, afirma.

Fim do 'tigrinho'

A apresentação do relatório, de 541 páginas, ocorreu na semana final da CPI, que só tem até sábado para concluir seus trabalhos. Em declaração à Agência Senado, o senador Dr. Hiran (PP-RR), presidente do colegiado, disse ter pedido ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), autorização para votar o relatório final na semana que vem.

Alcolumbre negou um pedido anterior a estender o prazo dos trabalhos, dizem aliados, sob o argumento de que os senadores tiveram tempo suficiente e que as sessões estavam se tornando uma espécie de “show midiático”.

Além dos pedidos de indiciamento, o relatório sugere propostas de lei que regulamentem o setor. Um dos projetos sugeridos pede o fim da publicidade de apostas em eventos de temática esportiva. Além disso, uma proposta propõe proibir beneficiários de programas sociais do governo federal de apostar em bets.

"Precisamos fazer com que o Brasil avance na regulamentação deste tipo de serviço, trata-se de uma resposta sistêmica proporcional ao problema enfrentado", disse Soraya.

A senadora sugeriu ainda a proibição de jogos online como o do Tigrinho, por ter maior potencial viciante. A parlamentar defendeu, contudo, a manutenção das apostas esportivas, as bets, desde que sejam adotadas “medidas de regulação mais rígida”. Ela alegou que essa prática trouxe ganhos ao esporte nacional, sobretudo o futebol, que recebeu grande injeção de recursos.

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