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Governo ignorou proposta da Pfizer que previa 1,5 mi de doses em 2020

AO VIVO: primeira oferta da farmacêutica ao Brasil foi feita em agosto de 2020; país rejeitou seis propostas antes de fechar contrato

CPI da Covid encerra segunda semana de depoimentos nesta quinta (Jefferson Rudy/Agência Senado)

CPI da Covid encerra segunda semana de depoimentos nesta quinta (Jefferson Rudy/Agência Senado)

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Alessandra Azevedo

Publicado em 13 de maio de 2021 às 06h00.

Última atualização em 13 de maio de 2021 às 14h51.

O ex-presidente da Pfizer no Brasil Carlos Murillo afirmou que o governo brasileiro rejeitou ofertas de vacinas contra a covid-19 seis vezes desde agosto de 2020. As três propostas iniciais eram para dois contratos, de 70 milhões e de 30 milhões de doses. Duas das ofertas feitas em agosto previam entrega de 1,5 milhão de doses já no ano passado. 

Uma delas garantia, além de 1,5 milhão em 2020, mais 3 milhões de doses no primeiro trimestre de 2021. Ou seja, o Brasil já teria recebido, até agora, 4,5 milhões de doses a mais se tivesse assinado o contrato em 26 de agosto de 2020.

Antes de o governo firmar o contrato de 100 milhões de doses, em março deste ano, a Pfizer já havia feito três ofertas em agosto de 2020, duas em novembro de 2020 e uma em fevereiro de 2021. A primeira foi em 14 de agosto de 2020, dividida em duas ofertas, uma de 30 milhões e outra de 70 milhões de doses. 

Cada contrato oferecido nessa primeira proposta previa a entrega de 500 mil doses ainda em 2020, depois 1,5 milhão no primeiro trimestre de 2021, 5 milhões no segundo trimestre e o restante até o fim do ano. 

Sem resposta do governo brasileiro, a Pfizer fez uma segunda proposta, em 18 de agosto, também para dois contratos, de 70 milhões e de 30 milhões de doses. Na segunda oferta, cada contrato previa a entrega de 1,5 milhão de doses ainda em 2020.

Em 26 de agosto, veio a terceira proposta, nos mesmos moldes: duas ofertas, de 30 milhões e de 70 milhões de doses. Cada uma também previa a entrega de 1,5 milhões de doses ainda em 2020. “Nossa oferta de 26 de agosto era vinculante. Estávamos nesse processo com todos os governos. Teria validade de 15 dias. Passados esses 15 dias, o governo do Brasil não rejeitou, mas também não aceitou a oferta”, contou Murillo. 

A Pfizer voltou a ofertar vacinas ao Brasil em 11 de novembro de 2020 -- dessa vez, uma única oferta de 70 milhões de doses. “Quantitativo que, nesse momento, conseguimos ofertar”, disse Murillo. A previsão era de entrega a partir de 2021: 2 milhões de doses no primeiro trimestre, 6,5 milhões no segundo trimestre e o restante no resto do ano.

Depois, em 24 de novembro de 2020, a Pfizer fez a mesma oferta, com algumas considerações diferentes, "principalmente no que diz respeito às condições para execução do contrato, com base nas discussões com o Ministério da Saúde que tinham a ver com necessidade de ter registro aprovado para assinar essa oferta", disse Murillo.

Em 15 de fevereiro de 2021, a Pfizer ofereceu 100 milhões de doses, 8,7 milhões para entrega no segundo trimestre do ano e o restante a partir do terceiro trimestre. O governo, entretanto, só fechou acordo com a farmacêutica com base na sétima oferta, feita em 8 de março. Foram contratadas 14 milhões de doses para entrega no segundo trimestre e 86 milhões no terceiro trimestre.

Depoimento

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid fecha a segunda semana de depoimentos nesta quinta-feira, 13, com a oitiva do ex-presidente da Pfizer no Brasil Carlos Murillo, hoje gerente-geral da Pfizer para a América Latina. Ele deve ser questionado sobre tratativas com o governo para a aquisição de vacinas contra a covid-19.

Em depoimento prestado ontem à CPI, Fabio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação da Presidência, afirmou que a Pfizer enviou uma carta ao governo brasileiro em setembro de 2020 para negociar a compra de doses do imunizante, que ainda estava em fase de testes. O presidente Jair Bolsonaro e o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello ignoraram a correspondência.

Wajngarten contou que respondeu a Pfizer dois meses depois, em novembro, quando soube da carta. Depois disso, teria se encontrado três vezes com representantes da farmacêutica. Os senadores da comissão devem confirmar a veracidade das informações com Murillo, que presidia a Pfizer no Brasil à época.

Os integrantes da CPI também querem saber quantas doses teriam sido ofertadas pela Pfizer e se esse número foi discutido com Wajngarten. O ex-secretário disse que não participou das negociações e que não soube se a oferta seria de 70 milhões de doses, como foi veiculado pela imprensa. Segundo ele, o lote inicial sugerido pela empresa foi de 500 mil doses.

O representante da Pfizer também deve ser perguntado quando foi a primeira tentativa de contato com o governo brasileiro para discutir a venda de vacinas e por que o acordo só foi formalizado neste ano. O primeiro lote, com 1 milhão de doses, chegou ao Brasil em 29 de abril.

Os depoimentos devem continuar na próxima semana. Na terça-feira, 18, será ouvido o ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo. Na quarta-feira, 19, será a vez do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, que iria à CPI na semana passada, mas adiou por ter tido contato com pessoas com covid-19. A secretária de Gestão do Trabalho do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, prestará depoimento na quinta-feira, 20.

Confira: 

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