Senador Flávio Bolsonaro. (Edilson Rodrigues/Agência Senado)
Estadão Conteúdo
Publicado em 27 de abril de 2021 às 15h20.
Última atualização em 27 de abril de 2021 às 20h37.
O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) foi o responsável pela principal defesa do governo federal na sessão que inaugurou a CPI da Covid, nesta terça-feira, 27. Embora não seja membro da comissão, o filho do presidente Jair Bolsonaro atacou o relator da investigação, senador Renan Calheiros (MDB-AL), a quem acusa de parcial, e criticou até mesmo o presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), chamado por ele de "irresponsável" e "ingrato". O senador do DEM foi eleito para o comando da Casa em fevereiro com ajuda do Palácio do Planalto.
Para Flávio Bolsonaro, Pacheco erra ao permitir trabalhos presenciais no Senado e será responsável por eventuais mortes de parlamentares e servidores. "O presidente Rodrigo Pacheco está errando, está sendo irresponsável, porque está assumindo a possibilidade de, durante os trabalhos desta CPI, acontecer morte de senadores, morte de assessores, morte de funcionários. Nem todos estão vacinados", disse.
Pacheco foi contra a instalação da comissão, mas determinou a criação do colegiado após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Nos bastidores, Pacheco foi pressionado pelo Palácio do Planalto para adiar o funcionamento da CPI, mas mesmo assim deu aval para a investigação neste momento. Para atender a governistas, o presidente do Senado aceitou ampliar o escopo para apurar também o repasse de verbas a Estados e municípios.
Mesmo assim, Flávio Bolsonaro reclamou de ingratidão de Pacheco. "Eu tenho um CPF e o presidente da República tem outro. Da minha parte, entendo, sim, que houve uma ingratidão, uma falta de consideração por parte do presidente (Pacheco). Pelo menos nos buscar para que pudéssemos dar nosso ponto de vista sobre conveniência e oportunidade de se instalar uma CPI como essa", disse, em entrevista a jornalistas no Senado.
A sessão de instalação dos trabalhos tem sido marcada por manobras de governistas para tentar barrar uma configuração adversa nos principais postos da CPI. O esforço de aliados do governo é para apontar parcialidade de Renan Calheiros, pai do governador de Alagoas, Renan Filho, e crítico do governo Bolsonaro. A comissão também vai apurar a destinação de verbas federais por Estados e municípios. Os parlamentares da base governista questionam até mesmo a participação de Renan como titular da comissão.
Flávio Bolsonaro fez coro às críticas ao relator e alegou que Renan já julgou antecipadamente a gestão do governo federal em pronunciamentos. "Essa antecipação de julgamento dele, sem nem acompanhar trabalho nenhum, sem colher prova de nada, sem ouvir ninguém, é uma clara demonstração de qual será o encaminhamento não só no relatório final, mas em todo o trabalho da CPI. Como filho do presidente, tenho bom senso. Eu não estaria na CPI. Entendo que não teria a imparcialidade necessária para fazer parte dela", afirmou.
Flávio Bolsonaro também saiu em defesa das vacinas contra a covid-19 para questionar o início dos trabalhos. O ritmo lento na imunização e as negativas da gestão Bolsonaro para acordos de compra dos insumos ainda no ano passado são uma das principais frentes de investigação contra o governo. O próprio presidente fez campanha e desincentivou o uso de vacinas.
"Lamento que a CPI já comece dessa forma. Tenho grandes dúvidas. Quantas vacinas essa CPI vai conseguir aplicar no braço dos brasileiros? Qual a ajuda que essa CPI vai dar neste momento mais difícil que passamos no Brasil com relação à pandemia? Nenhuma", disse, antes de prosseguir: "Vai ser um palanque político. Lamento que senadores vão usar caixões de 400 mil mortes para fazer política barata contra o governo federal".
Flávio Bolsonaro também afirmou haver uma articulação para o Republicanos desembarcar do bloco formado pelo MDB após a indicação de Renan para relatar a CPI. Junto com o Progressistas o partido do filho do presidente ameaça implodir o bloco, o que pode mexer na distribuição de vagas em comissões no futuro, entre elas a Comissão Mista de Orçamento (CMO), que definirá as verbas federais em ano de eleição presidencial.