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Covid-19: 86% das cidades de SP com alta de casos poderão reabrir comércio

Governo afirmou que flexibilização segue inúmeros critérios e promete monitoramento

 (Germano Lüders/Exame)

(Germano Lüders/Exame)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 29 de maio de 2020 às 14h25.

Das 191 cidades paulistas que registraram alta de novos casos de covid-19 na última semana, 165 delas (86%) serão autorizadas pelo governo de São Paulo a reabrir o comércio a partir de segunda-feira, dia 1º. Mesmo com o aumento de novas infecções, 124 desses municípios foram incluídos na fase 2 do plano estadual de reabertura, na qual lojas, shoppings centers e imobiliárias, por exemplo, podem funcionar. Outras 41 dessas cidades estarão na fase 3, em que até bares, restaurantes e salões de beleza podem ser reabertos.

Os números são de levantamento feito pelo Estadão com base em dados da Secretaria da Saúde e da plataforma colaborativa Brasil. O, que reúne estatísticas por município e por data desde o início da pandemia.

A reportagem comparou o total de novos casos registrados em cada município nos sete dias prévios ao anúncio do plano de reabertura (20 a 26 de maio) com as estatísticas da semana anterior (13 a 19 de maio).

A flexibilização da quarentena mesmo em cidades com tendência de alta da pandemia contraria afirmação do governo do Estado de que a reabertura seria iniciada em localidades com queda consistente de casos.

Entre os municípios que foram incluídos nas fases 2 e 3 da reabertura mesmo registrando alta de infecções estão, além da capital, outras cidades de porte grande e com alta significativa no número de novas infecções.

São José dos Campos é um desses exemplos. Na última semana, registrou 214 novos casos confirmados de covid, número 86% maior do que os 115 notificados na semana anterior. Mesmo assim, está na fase 2 de abertura.

Jundiaí tem situação semelhante: o total de novas infecções saltou 60% em uma semana (passou de 176 para 283), mas também poderá reabrir comércios na Segunda-feira.

Em Piracicaba, também incluída na fase 2, a alta foi ainda maior no período analisado: 137%. Os novos casos passaram de 81 para 192. Taubaté, São José do Rio Preto, Ribeirão Preto, Hortolândia Limeira, Valinhos e Bragança Paulista são outras cidades na mesma situação.

Na cidade de São Paulo, a única da região metropolitana a ser poupada da fase 1 (na qual as restrições mais rígidas continuam) e ser incluída na fase 2, o número de novos casos cresceu 10%, passando de 8.958 para 9.914 no período analisado.

Araraquara e Jaú fazem parte do grupo de municípios que, apesar da alta de novos casos, foram incluídos na fase 3, ainda mais permissiva. Em ambos, o total de novos registros cresceu 43% e 48%, respectivamente.

Risco

Para o epidemiologista Paulo Lotufo, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), a decisão de reabertura do comércio em regiões com alta de casos é "arriscada". "É bastante contraditório, os critérios não foram bem definidos. A flexibilização só tem de começar a acontecer quando você tem uma redução consistente nos números. E são necessários pelo menos sete dias seguidos de queda para podermos afirmar isso."

Já o médico Alexandre Naime Barbosa, chefe da infectologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e membro titular da Sociedade Brasileira de Infectologia, reconhece que o cenário ideal seria de estabilidade no número de novos casos para flexibilização, mas afirma que o plano de reabertura pode ser positivo ao dar autonomia para que cada prefeitura defina suas regras de acordo com seu cenário epidemiológico.

"Mesmo que uma determinada cidade esteja em região de flexibilização, o prefeito não é obrigado a autorizar a reabertura. Ele tem de ser responsável e avaliar a sua realidade. É importante que haja essa reavaliação semana a semana para acompanhar a situação de cada local", destaca.

Múltiplos critérios

Questionada, a Secretaria Estadual da Saúde afirmou que a reportagem "ignora os critérios definidos pelo Estado para classificação das fases" pois o plano de reabertura é multifatorial, observando "não apenas número de casos e óbitos, mas também balanços de internações e ocupação de leitos de UTI, com análises diárias".

Os próprios dados da secretaria, no entanto, mostram que a taxa de ocupação das UTIs e o número de pessoas internadas vem aumentando nos últimos dias. Ontem, o volume de leitos de terapia intensiva ocupados no Estado bateu recorde, chegando a 77,4%. Já o número de pacientes hospitalizados com covid-19 na rede estadual saltou de 10,1 mil no dia 15 de maio para 12,5 mil ontem.

A secretaria justificou ainda que o plano "não observa os municípios de forma isolada, possuindo caráter regionalizado" e que fará monitoramento contínuo da medida, o que permitirá "requalificação num período semanal para um cenário mais restritivo conforme variação dos índices". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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