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Covas quer debater com governo federal nova política de drogas

Política municipal é focada na redução de danos e vai na contramão da política federal, que adotou a abstinência como regra

Cracolândia: política de drogas da capital paulista vai na contramão do projeto de Bolsonaro (Rovena Rosa/Agência Brasil)

Cracolândia: política de drogas da capital paulista vai na contramão do projeto de Bolsonaro (Rovena Rosa/Agência Brasil)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 3 de junho de 2019 às 15h11.

Última atualização em 3 de junho de 2019 às 15h27.

São Paulo — A gestão do prefeito de São Paulo, Bruno Covas, (PSDB) quer sentar com o ministro da Cidadania, Osmar Terra, para entender as propostas do presidente Jair Bolsonaro, que pretende adotar a abstinência como regra no país. A decisão sobre o convite partiu após uma reunião entre Covas e o governador de São Paulo, João Doria, na manhã desta segunda-feira, 3.

A política de drogas da capital paulista vai na contramão do projeto de Bolsonaro e foca na redução de danos, cujo principal objetivo é garantir que o paciente, aos poucos, melhore seu estado geral, preserve-se de doenças relacionadas ao uso de drogas e diminua o uso até chegar à abstinência.

"Temos o nosso programa municipal que trabalha primordialmente com as internações voluntárias. Temos um contato e estamos fazendo integração com o governo estadual, que trabalha com modelos de algumas internações involuntárias", explica Arthur Guerra, médico psiquiatra coordenador do programa Redenção.

"Queremos conversar com o governo federal que tem como uma possibilidade, não é a única, uma possibilidade de internação involuntária como uma ferramenta importante na recuperação desses usuários. Achamos que podemos aumentar um pouquinho e entender melhor como se faz a integração com o governo do Estado, que, além das internações voluntárias, também trabalha com algumas internações involuntárias", diz Guerra. "Queremos conversar com o governo federal para entender melhor qual é a proposta que eles têm sobre as internações involuntárias."

A princípio, de acordo com Guerra, o convite é para uma conversa. No segundo momento, pode haver um pedido de transferência de recursos do governo federal.

Há duas semanas, Covas anunciou a fase 2 do programa Redenção. O prefeito vai retomar o pagamento de uma bolsa trabalho a dependentes químicos da cracolândia. A iniciativa, similar à adotada pelo ex-prefeito Fernando Haddad (PT) por meio do programa De Braços Abertos, foi anunciada nesta segunda-feira e foca na redução de danos, ao contrário da linha defendida pelo governo federal e pelo governador João Doria (PSDB) quando este era prefeito. Ambos apoiam ações com foco na abstinência e internação forçada.

Esta foi a segunda reunião entre Prefeitura e governo estadual. A primeira foi realizada um mês atrás e a próxima está marcada para 28 de julho. No encontro desta segunda, Covas e Doria criaram ainda quatro grupos de trabalho entre secretários estaduais e municipais nas áreas de saúde, segurança pública, assistência social e geração de renda e trabalho para discutir medidas a curto e médio prazo.

Segundo o novo programa, os usuários de drogas receberão R$ 698,46 por 20 horas semanais de trabalho em atividades como limpeza, jardinagem, construção civil, pintura, hidráulica, entre outras. Inicialmente, serão disponibilizadas 300 vagas e o participante poderá ficar no programa por, no máximo, dois anos. Depois desse prazo, a ideia é que ele consiga um emprego formal.

Além da criação dos grupos de trabalho e a formalização de um convite ao ministro, a Prefeitura deve realizar uma reunião ainda nesta semana com membros da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) para a elaboração de uma pesquisa sobre a política que vem sendo utilizada com usuários de drogas da região da Luz, onde se concentra a Cracolândia.

"Vamos buscar junto a Fapesp um modelo de pesquisa que possa avaliar como esse esforço todo nosso, municipal e estadual, tem a sua credibilidade. Funciona mesmo ou não? Que pontos são positivos que devemos manter e que pontos são negativos que devemos ajustar?", explicou Guerra.

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