Brasil

Corrida por vaga no STF expõe racha entre advogado e compadre de Lula; entenda

Cotado para a cadeira de Lewandowski, Zanin teve disputa por honorários com sogro, Roberto Teixeira, que é amigo pessoal do presidente e lhe dá orientação jurídica há 40 anos

Rompido desde o ano passado com seu sogro, o também advogado Roberto Teixeira, Zanin viu a crise da família se tornar combustível para opositores de sua candidatura e motivar a divulgação (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

Rompido desde o ano passado com seu sogro, o também advogado Roberto Teixeira, Zanin viu a crise da família se tornar combustível para opositores de sua candidatura e motivar a divulgação (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

Agência o Globo
Agência o Globo

Agência de notícias

Publicado em 23 de março de 2023 às 08h22.

Um dos principais cotados para assumir em maio a vaga do ministro Ricardo Lewandowski no Supremo Tribunal Federal (STF), o advogado Cristiano Zanin enfrenta um impasse familiar que criou embaraços em sua campanha para chegar à Corte.

Rompido desde o ano passado com seu sogro, o também advogado Roberto Teixeira, Zanin viu a crise da família se tornar combustível para opositores de sua candidatura e motivar a divulgação, nesta quarta-feira, de uma “carta de solidariedade” em reação à fritura. Teixeira é aliado de longa data e padrinho do filho mais velho do presidente Lula, além de ter sido responsável pela indicação de Zanin para a defesa do petista na Lava-Jato.

A relação entre Zanin e Teixeira se deteriorou no primeiro semestre de 2022, e o advogado desfez a sociedade com o sogro para fundar seu próprio escritório junto com a mulher, Valeska Teixeira Martins, em agosto. O atrito, até então motivado por questões pessoais, logo ganhou contornos profissionais devido a uma disputa por honorários advocatícios avaliados em R$ 9,1 milhões.

O valor é fruto de um processo no qual a Rede 21, emissora de TV defendida pela antiga banca que unia Teixeira e Zanin, cobra indenização da Igreja Universal do Reino de Deus por inadimplência e quebra de contrato, relativos à venda de horários na programação.

Em setembro do ano passado, após o fim da sociedade, os novos escritórios de Zanin e do sogro passaram a pleitear acesso aos honorários nos autos do processo, que corre na 21ª Vara Cível de São Paulo.

O escritório de Teixeira alegou que a “retirada unilateral” de Zanin e Valeska da sociedade impede o recebimento integral dos “honorários que são devidos”. O casal de advogados, por sua vez, classificou as petições como “absurdas e antijurídicas”, e argumentou que Teixeira e seus sócios buscavam “enriquecer indevidamente às custas de trabalho desempenhado exclusivamente” por Zanin.

Ao refutar o raciocínio de que Zanin teria desempenhado atuação “personalíssima” no caso, o escritório de Teixeira alegou que a banca formada por seu genro e filha sequer poderia seguir atuando na ação em questão, devido a uma cláusula de não competição com sua antiga sociedade.

Acordo milionário

A escalada da disputa levou a juíza do caso, Maria Carolina de Mattos Bertoldo, a orientar que a controvérsia fosse “discutida em via própria”, e não nos autos do processo. Na mesma decisão, de 21 de setembro, a magistrada acolheu, no entanto, a argumentação de que os honorários caberiam a Zanin, e afirmou que passaria a rejeitar novas manifestações do escritório Teixeira Advogados, “a fim de evitar tumulto processual”.

No dia 4 de outubro, os dois escritórios comunicaram à juíza ter chegado a um acordo para cada um receber cerca de R$ 2,6 milhões, valor referente ao total de pagamentos disponíveis naquele momento no processo. Àquela altura, a Justiça de São Paulo havia liberado cerca de R$ 50 milhões depositados em juízo pela Universal para indenizar a Rede 21, que cobra ainda outros R$ 41 milhões. A Universal, por sua vez, ingressou com recurso e obteve, em dezembro, uma decisão favorável para suspender novos repasses à emissora. Segundo o acordo entre os escritórios de advocacia, todo o valor que for estabelecido em honorários daqui para frente caberá a Zanin.

Advogado de Lula nos processos da Lava-Jato, cujas sentenças foram anuladas pelo STF, Zanin se aproximou do atual presidente por intermédio do sogro. No início da operação, Teixeira orientou o petista, com quem mantém relação pessoal e jurídica há quatro décadas, a adotar uma linha de defesa voltada a denunciar o uso indevido de técnicas processuais, também chamado de “lawfare”, campo que é considerado a especialidade de Zanin.

A atuação na Lava-Jato, que culminou na retomada da elegibilidade de Lula, fez com que Zanin caísse nas graças do atual presidente e também ganhasse projeção no meio jurídico. A proximidade de Teixeira com Lula, por outro lado, passou a ser um entrave aos planos de Zanin, devido à crise ainda não pacificada entre os advogados. Teixeira já fez chegar ao presidente, de acordo com interlocutores, suas reservas em relação ao genro.

Na tentativa de evitar que o problema familiar contamine a corrida ao STF, aliados de Zanin articularam uma “carta em solidariedade” ao advogado, divulgada ontem com cerca de 200 assinaturas de juristas, políticos e aliados do PT. O documento criticou o uso da briga familiar para a fritura do nome de Zanin.

“Assim, invocar questões familiares para destruir reputações é tática que coloca em segundo plano os requisitos que a Constituição exige para a escolha de um ministro do STF: notável saber jurídico e reputação ilibada”, diz a carta.

A disputa pelo STF se afunilou nas últimas semanas entre Zanin e o advogado Manoel Carlos de Almeida Neto, um dos signatários da carta em desagravo ao seu concorrente. Almeida é próximo ao ministro Ricardo Lewandowski. Procurado para comentar o problema familiar e a disputa pela vaga no STF, Zanin não quis se manifestar. O GLOBO não conseguiu contato com Teixeira.

Acompanhe tudo sobre:Supremo Tribunal Federal (STF)Luiz Inácio Lula da Silva

Mais de Brasil

Após ordem de Moraes, Anatel informa que operadoras bloquearam acesso ao Rumble no Brasil

Justiça Eleitoral condena Marçal por abuso de poder e o declara inelegível

Alexandre de Moraes determina suspensão do Rumble no Brasil

ViaMobilidade investirá R$ 1 bilhão nas linhas 8 e 9 para reduzir intervalos e reformar estações