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Coordenadores de grupo por moradia são indiciados por incêndio no Paiçandu

Polícia Civil concluiu que líderes do Movimento de Luta Social por Moradia poderiam ter evitado riscos do incêndio, que seria previsível

Largo do Paiçandu: Prédio desabou após incêndio no dia 1 de maio de 2018 (Leonardo Benassatto/Reuters)

Largo do Paiçandu: Prédio desabou após incêndio no dia 1 de maio de 2018 (Leonardo Benassatto/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 1 de fevereiro de 2019 às 17h28.

Última atualização em 1 de fevereiro de 2019 às 17h37.

A Polícia Civil indiciou três coordenadores do Movimento de Luta Social por Moradia (MLSM) pelo incêndio que provocou o desabamento do Edifício Wilton Paes de Almeida, no Largo do Paiçandu, centro de São Paulo, e terminou com sete mortos e dois desaparecidos. Conhecida como "prédio de vidro", a edificação de 24 andares ruiu no dia 1.º de maio, há exatos nove meses.

Apontados como líderes dos sem-teto, Nireudes de Jesus Oliveira, Hamilton Coelho Resende e Ananias Pereira dos Santos vão responder em liberdade por crime de incêndio, conforme informou o site G1. Segundo o Código de Processo Penal, a pena máxima prevista é de seis anos de prisão.

Para a Polícia Civil, eles poderiam ter evitado riscos do incêndio, que seria previsível. Em depoimento, todos negaram que tivessem responsabilidade sobre a invasão.

O relatório foi entregue ao Ministério Público Estadual (MPE-SP) no dia 15 de outubro. Ele é assinado pelo delegado Roberto Krasovic, então titular do 3.º Distrito Policial (Campos Elísios), que assumiu o inquérito já com a investigação em curso.

Em nota, o MPE-SP afirma que ainda espera outras diligências antes de oferecer denúncia. "A promotoria aguarda uma resposta do Instituto de Criminalística a respeito das condições do prédio que foram atestadas em laudos apresentados antes do incêndio", diz o comunicado. "A investigação corre sob sigilo."

Segundo investigadores, a principal hipótese é de que o incêndio foi provocado por um curto-circuito no 5.º andar do edifício. A tese tem como base depoimento da sem-teto Walkiria Camargo do Nascimento, que morava no barraco onde o fogo teria começado. No local, um microondas, uma geladeira e uma televisão estavam conectados a uma mesma tomada, que explodiu.

À polícia, moradores do Wilton Paes de Almeida afirmaram que a energia elétrica vinha de um "gato", um conexão irregular com um semáforo.

Um laudo de sete páginas, feito pela Prefeitura de São Paulo em janeiro de 2017, também atestava que o prédio "não reunia condições mínimas de segurança contra incêndio". Entre as irregularidades, não haveria sequer extintores e apresentava disjuntores instalados em placa de madeira com diversos fios expostos.

A precariedade continuava mesmo com os moradores pagamento "aluguel" ao MLSM. A cobrança da taxa, que variava entre R$ 100 e R$ 400, é alvo de inquérito do Departamento de Investigações Criminais (Deic), que também corre sob segredo de Justiça.

Indiciados negam acusação

Em depoimento prestado em maio, Nireudes negou que fosse responsável por arrecadar taxa. "Tinha um grupo de mulheres que se reunia para discutir o que precisava ser arrecadado para, por exemplo trocar uma pia, um chuveiro, e a gente fazia uma espécie de vaquinha. Não tinha aluguel ou taxa", declarou na época. Ela também alegou ser uma moradora comum do "prédio de vidro".

Por sua vez, Ananias Pereira dos Santos e Hamilton Coelho Resende negaram que exerciam cargo de liderança do MLSM. "Não sou líder do movimento, só ajudo as pessoas", disse Ananias, na ocasião. O jornal O Estado de S. Paulo entrou em contato com a defesa dos indiciados, mas não obteve retorno.

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