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Contra recessão, país deve priorizar reformas estruturais

Redução da carga de tributária e melhoria da infraestrutura serão desafios para o novo presidente do Brasil, segundo especialistas


	Ônibus: o aumento de tarifas em 2015 é praticamente dado como certo pelos economistas
 (Dado Galdieri/Bloomberg)

Ônibus: o aumento de tarifas em 2015 é praticamente dado como certo pelos economistas (Dado Galdieri/Bloomberg)

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Da Redação

Publicado em 18 de setembro de 2014 às 07h03.

Brasília - Para segurar o aumento de preços, o próximo governante precisará adotar medidas recessivas, acreditam especialistas ouvidos pela Agência Brasil. De acordo com eles, a redução do controle sobre preços administrados (como tarifas públicas e combustíveis nas refinarias) terá impacto temporário na inflação em 2015.

Dessa forma, o Banco Central deve manter os juros altos, e o governo vai ter de cortar gastos públicos, o que pode impedir a retomada do crescimento da economia no próximo ano.

“O próximo presidente terá de adotar medidas fortes em 2015, para que a economia volte aos trilhos. Algumas serão impopulares, mas todas são necessárias para recuperar a credibilidade dos investidores na economia brasileira, o que vai destravar o crescimento mais tarde”, diz a professora de economia Virene Matesco, da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Além disso, serão necessárias reformas estruturais, acreditam os economistas ouvidos pela reportagem. “Para as expectativas melhorarem de forma definitiva e o crescimento ser sustentável, o ideal seriam reformas estruturais, como a redução da carga tributária e a melhoria da infraestrutura”, destaca Virene.

O coordenador do curso de economia do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), Márcio Salvato, considera inevitável a tomada de medidas recessivas no próximo ano.

“Não espero que a taxa de crescimento se recupere em 2015. As medidas são como um remédio amargo, com efeitos colaterais em um primeiro momento, mas que curam o doente depois”, alega.

O aumento de tarifas em 2015 é praticamente dado como certo pelos economistas porque muitos preços de empresas que prestam serviços públicos ficaram represados nos últimos anos.

Além disso, a Petrobras será cada vez mais pressionada a aumentar o preço da gasolina e do diesel por causa do endividamento com a exploração da área pré-sal.

“Esse realinhamento de preços poderá ser mais gradual ou mais intenso. Dependerá do interesse do próximo governo em resolver o problema porque quando se segura um preço, todo o sistema de preços fica distorcido”, acredita Virene. “Haverá repique na inflação, mas será momentâneo. Não é uma situação que vai se perpetuar.”

Para impedir que a alta das tarifas contamine os demais preços da economia, declaram os especialistas, o próximo governo terá de agir tanto na política monetária quanto na fiscal. Primeiramente, o Banco Central terá de manter os juros altos e tomar medidas de regulação que restrinjam o acesso ao crédito, como o aumento do compulsório, parcela que os bancos não podem emprestar.

“Não creio que o Banco Central reduza os juros em 2015. Os juros vão ser mantidos elevados no primeiro semestre. Se o governo arrumar a casa, pode ser que venha uma queda no segundo semestre, mas nada que impulsione o crescimento”, acredita Salvato.

Para Virene, aumentos de juros poderão ser evitados se a autoridade monetária reverter parte das medidas regulatórias de expansão do crédito tomadas nos últimos anos.

“Não adianta aumentar juros de um lado e liberar crédito do outro porque isso anula a eficácia da política monetária. Se o Banco Central tomar medidas macroprudenciais no sentido certo, pode evitar que os juros aumentem para conter a inflação”, explica.

Outra forma de impedir aumento de juros para conter a inflação, destacam os especialistas, é o ajuste fiscal, com o fortalecimento do superávit primário – economia para o pagamento dos juros da dívida pública. Para os especialistas, o corte de gastos públicos será inevitável por causa da necessidade de o próximo governo recuperar a credibilidade nas contas públicas.

“A política fiscal também terá de ser mais restritiva, com contenção dos gastos públicos para segurar o déficit público e aliviar a alta ainda maior dos juros. Quando a política monetária está associada à fiscal, a inflação cai. Basta o governo conter gastos que não geram eficácia para a economia”, diz Virene.

Além do corte de gastos, o ajuste fiscal pode ser feito por meio do aumento de impostos, caso o próximo governo acabe com desonerações concedidas nos últimos anos.

“O ideal seria o próximo presidente reduzir o número de ministérios e cortar despesas de custeio [manutenção da máquina pública], mas o ajuste fiscal também pode vir do outro lado, pela alta de impostos”, declara.

Tanto o ajuste fiscal quanto a contenção do crédito, ressaltam os especialistas, são políticas recessivas, que devem manter o baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas produzidas no país) em 2015.

Para Salvato, o próximo governante terá de pensar em ajustes estruturais para que o país possa crescer sem se preocupar com a inflação.

“Hoje, o modelo econômico é baseado na demanda, com estímulos ao consumo que não têm dado mais certo, mas o problema mais relevante do Brasil hoje é o desaquecimento da oferta. Os empresários precisam de garantias para que os investimentos tenham retorno futuro, como redução dos gargalos da infraestrutura e redução da carga tributária. Existe um programa de concessões de infraestrutura, mas os efeitos são demorados”, diz o professor do Ibmec.

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