Brasil

Contra França, PSDB barra até projeto de Alckmin na Assembleia

O PSDB voltou a fazer oposição no Estado após 23 anos, sendo duro com o governo Márcio França (PSB)

PSDB barra projetos para contrariar os interesses de França, que completa hoje 100 dias no cargo (FERNANDA KIRMAYR/CONTIGO/Reprodução)

PSDB barra projetos para contrariar os interesses de França, que completa hoje 100 dias no cargo (FERNANDA KIRMAYR/CONTIGO/Reprodução)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 15 de julho de 2018 às 10h17.

São Paulo - Os governistas dizem que a mudança de postura dos antigos aliados tem "motivação eleitoral". Para os opositores de sempre, o diagnóstico é a "abstinência de poder". Já o grupo que migrou da base para a oposição alega que foi o novo governo que mudou de rumo.

Em um ponto, porém, todos os espectros políticos na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) concordam: o PSDB voltou a fazer oposição no Estado após 23 anos, sendo mais duro com o governo Márcio França (PSB) do que foram os adversários nos seis mandatos seguidos em que o partido comandou a máquina paulista.

Para contrariar os interesses de França, que completa hoje 100 dias no cargo, a bancada do PSDB tem obstruído até a votação de um projeto encaminhado pelo antecessor e presidente nacional do partido, o ex-governador Geraldo Alckmin - que renunciou ao cargo em abril para concorrer à Presidência.

Trata-se da proposta que extingue o Instituto de Pagamentos Especiais de São Paulo (Ipesp), autarquia que gere a carteira previdenciária dos advogados e das serventias notariais (cartórios). Com a extinção, o fundo passaria a ser gerido diretamente pelo Estado, o que colocaria cerca de R$ 1,2 bilhão de uma vez no Tesouro paulista.

A verba, embora carimbada, ajudaria o governo França a fechar as contas de 2018 no azul, no momento em que a arrecadação com impostos ainda cresce abaixo das expectativas. "Nossa obrigação é votar esse projeto até o fim do ano para o Estado não fechar no vermelho. O Márcio tem pressa porque ele torrou dinheiro do Estado com programas eleitoreiros, como os convênios de recapeamento com as prefeituras. Por isso, estamos tendo cautela", disse o presidente da Alesp, Cauê Macris (PSDB).

Próximo do ex-prefeito da capital João Doria (PSDB), adversário de França na disputa pelo governo do Estado, Macris é apontado pelos aliados do governador como o principal responsável por "atrapalhar" os planos governistas no Legislativo, invertendo a ordem de prioridade de votação dos projetos.

"O PSDB está boicotando um projeto de autoria do governador Geraldo Alckmin só para prejudicar o governador Márcio. Na verdade, eles só querem tumultuar. Colocam os interesses eleitorais acima dos interesses do Estado. É lamentável", disse o líder do governo, Carlos Cezar (PSB).

Em visita à Alesp no mês passado, Alckmin reiterou aos deputados do seu partido a importância de aprovar o projeto do Ipesp, enviado por ele em março e que está na ordem do dia para votação desde 24 de abril.

Segundo o deputado Barros Munhoz, que em março deixou o PSDB após 15 anos no partido para se filiar ao PSB, o presidenciável tucano chegou a ligar para algumas lideranças partidárias pedindo apoio ao projeto, considerado "necessário" por ele. "Não há razão nenhuma para eles fazerem essa obstrução. Nem o PT fez oposição desse tipo quando o governo era do PSDB", disse Munhoz.

Até as bancadas do PT, PSOL e PCdoB, historicamente de oposição, se comprometeram a votar a favor do projeto após alterações. "O PSDB sempre mandou nesta Casa. Acontece que hoje o patrono não é mais Geraldo Alckmin, e sim João Doria. A pauta deles é impor uma derrota política ao Márcio França. Por isso, está esse caos", disse João Paulo Rillo (PSOL).

Além de barrar o projeto do Executivo, os tucanos querem derrubar um veto de França ao projeto que destina R$ 48 milhões ao Hospital Universitário. "Não consigo buscar consenso hoje na Casa por causa da inabilidade política do governo, que não organiza a base", disse Macris.

Ruptura

Para Marco Vinholi, líder do PSDB na Alesp, há um alinhamento político do governo França com partidos de esquerda que simbolizaria a "ruptura" com o governo Alckmin e justificaria uma oposição feroz. "O motivo principal da nossa obstrução é a LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2019). O governo reduziu metas nas áreas de Saúde e Educação e colocou como prioridade um programa de bolsa para 100 mil jovens que deve custar mais de R$ 600 milhões por ano e que sequer foi discutido na Casa."

O impasse na votação da LDO fez com que a Alesp suspendesse o tradicional recesso parlamentar de julho pela primeira vez em 12 anos. Na quinta-feira, a oposição apresentou requerimento para paralisar as sessões até o fim do mês, mas a medida não prosperou.As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Acompanhe tudo sobre:Partidos políticosPSB – Partido Socialista BrasileiroPSDB

Mais de Brasil

Ações isoladas ganham gravidade em contexto de plano de golpe, afirma professor da USP

Governos preparam contratos de PPPs para enfrentar eventos climáticos extremos

Há espaço na política para uma mulher de voz mansa e que leva as coisas a sério, diz Tabata Amaral

Quais são os impactos políticos e jurídicos que o PL pode sofrer após indiciamento de Valdermar