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Contra corrupção, brasileiros se voltam a candidatos "outsiders"

Nesse contexto, o novo prefeito de São Paulo, João Doria, pode ser o maior beneficiário

João Doria: a onda anti-establishment já poderia atingir as próximas eleições em 2018 (Rodrigo Paiva/Reuters)

João Doria: a onda anti-establishment já poderia atingir as próximas eleições em 2018 (Rodrigo Paiva/Reuters)

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AFP

Publicado em 19 de abril de 2017 às 14h22.

Cansados com um escândalo de corrupção que não parece ter fim, os brasileiros podem vir a dar as costas para a classe política tradicional e confiar nas eleições de 2018 em candidatos atípicos, até mesmo de extrema-direita. Mas, aparentemente, considerados fichas limpas.

A onda anti-establishment já poderia atingir as próximas eleições em 2018, acreditam os analistas.

Uma reação fortalecida pelas revelações de que dezenas de políticos de todos os partidos foram apontados como envolvidos no Petrolãos pela operação "Lava Jato".

Em 11 de abril, o Supremo Tribunal Federal autorizou a abertura de dezenas de investigações: pelo menos um terço dos ministros do presidente Michel Temer e do Senado estão na mira da justiça, bem como quarenta deputados.

As delações de ex-executivos da construtora Odebrecht expõe o vasto sistema de fraudes de contratos públicos que desviou mais de 2 bilhões de dólares da Petrobras desde o início dos anos 2000.

Os políticos citados são suspeitos de receber propina da Odebrecht para financiar suas campanhas e também por lavagem de dinheiro e associação criminosa.

Donald Trump brasileiro

"Os brasileiros querem mudança", assegura David Fleischer, professor emérito da Universidade de Brasília, que faz um paralelo com a vitória do Brexit no Reino Unido e a de Donald Trump nos Estados Unidos.

"Isso abre grandes oportunidades para aqueles que podem dizer 'eu não sou um político, nunca fui um político'", acrescenta.

A onda é de tal magnitude que espirra em graus variados nos cinco ex-presidentes ainda vivos desde o fim da ditadura em 1985.

Assim, o ícone da esquerda brasileira, Luiz Inacio Lula da Silva (2003-2010), pode ver suas pretensões concorrer de novo à presidência comprometidas pelos cinco casos de corrupção nos quais é citado.

Liderando as pesquisas, incluindo a realizada pela CNT em fevereiro, que concedia a ele 30,5% dos votos, uma condenação à prisão ou à inelegibilidade atiçará o jogo político.

Se os eleitores brasileiros decidirem confiar suas vozes a um outsider com as mãos limpas, o novo prefeito de São Paulo, João Doria, pode ser o maior beneficiário.

Milionário, este especialista em comunicação apresentou a versão brasileira de "O Aprendiz", o reality show animado de 2008 a 2014 por Donald Trump nos Estados Unidos.

Sob a bandeira do PSDB, encantou a capital econômica do PT de Lula. Sem anunciar uma possível candidatura à presidência, já é creditado com 5% dos votos, de acordo com o último levantamento divulgado na terça-feira pela Vox Populi.

Declarações abertamente homofóbicas

Os brasileiros também podem se voltar para o deputado Jair Bolsonaro, famoso por elogiar um torturador e a ditadura militar (1964-1985) diante de milhões de telespectadores em 2016 durante o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

Além de suas declarações abertamente homofóbicas, também é conhecido por seu ataque a uma deputada do PT, Maria do Rosário. Em 2003, ele a chamou de "vagabunda", e em 2015 afirmou: "Eu não a estupraria porque você não merece".

Bolsonaro, que não está na lista de políticos suspeitos de corrupção, é visto por alguns como o homem forte que pode limpar a paisagem política.

"Nós temos que estancar a hemorragia da corrupção", escreveu em seu perfil no Twitter.

Na pesquisa de fevereiro e na de terça-feira, ele reunia 11,3% das intenções de voto.

O ressentimento da população também pode se materializar nas eleições legislativas do próximo ano, a exemplo das municipais no final de 2016, um verdadeiro fiasco para o PT.

"Um medo está se espalhando entre os membros de partidos tradicionais brasileiros: que a 'Lava Jato' destrua o sistema político tal como conhecem", escreveu na terça-feira a empresa de análise Stratfor.

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