Brasil

Constituinte tenta se firmar como opção

O texto prevê a convocação da assembleia no ano que vem e proíbe que se mexa em cláusulas pétreas da atual Constituição

Congresso Nacional em Brasília

Congresso Nacional em Brasília

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 19 de dezembro de 2016 às 09h33.

Brasília - Apresentada na semana passada pelos deputados Rogério Rosso (PSD-DF) e Miro Teixeira (Rede-RJ), a Proposta de Emenda à Constituição para convocar uma Assembleia Nacional Constituinte para reforma política e eleitoral tem pouca chance de ser levada adiante, avaliam parlamentares e juristas ouvidos pela reportagem.

Os autores da proposta, no entanto, avaliam que ela pode ser uma alternativa para a crise e vão buscar apoio para isso.

O texto prevê a convocação da assembleia no ano que vem e proíbe que se mexa em cláusulas pétreas da atual Constituição, como os direitos e garantias individuais, o voto secreto e a separação entre Poderes. Mas defende a "revisão constitucional" como caminho para uma pacificação política.

Pela proposta, os atuais deputados e senadores trabalhariam em um sistema unicameral, ou seja, como uma Casa Legislativa única. Para que uma emenda à Constituição fosse aprovada, ela teria de ser votada em dois turnos, com apoio de três quintos dos membros da assembleia constituinte.

Segundo Rosso, o projeto não tem como objetivo escrever uma nova Constituição para o País, mas sim conseguir fazer uma reforma política de fato.

No atual sistema bicameral, argumenta o deputado, as últimas tentativas de alterar as regras eleitorais naufragaram porque deputados e senadores não chegaram a um consenso. "A Câmara faz uma coisa, o Senado vai lá e muda. Desse jeito não conseguimos fazer uma reforma política efetiva", disse.

Rosso cita como exemplo o fato de a Câmara ter aprovado o fim da reeleição e o projeto ter ficado parado no Senado. Pelas regras atuais, uma proposta tramita primeiro numa Casa, e depois segue para a análise da outra.

Se houver modificações no texto, volta a ser debatida pelos parlamentares que deram início à tramitação do projeto.

O deputado entende que, reunidos em uma única Casa Legislativa, seria mais fácil aos deputados e senadores chegar a acordos e aprovar mudanças no sistema político-eleitoral. Ele aponta como temas que devem ser debatidos, além do fim da reeleição, o modelo de financiamento de campanha, a chamada cláusula de desempenho para partidos, o fim das coligações proporcionais e o voto distrital, entre outras.

Para que a assembleia constituinte seja formada, a proposta terá que ser analisada na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. Se for aprovada, segue para uma comissão especial. A última etapa é a votação em dois turnos no plenário. Depois, o texto ainda tem que ser analisado pelo Senado. Todo esse trâmite ficou para 2017.

Em 2013, após a onda de manifestações que se espalhou pelo País, a então presidente Dilma Rousseff chegou a propor uma Constituinte para debater a reforma política. Ela, no entanto, recuou ao ver a proposta ser duramente criticada, tanto nos meios políticos quanto nos jurídicos.

Sem respaldo

Apesar de Rosso ter conseguido as 172 assinaturas necessárias para apresentar a PEC, o tema não tem encontrado respaldo no Congresso. O líder do PMDB na Câmara, Baleia Rossi (SP), acredita ser "muito difícil" que a ideia prospere.

Para o líder do DEM na Câmara, Pauderney Avelino (AM), o momento é "inoportuno" e a iniciativa pode aumentar o clima de instabilidade do País.

Já o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), acredita que essa ideia poderá ganhar fôlego se a crise se agravar. "O PT sempre defendeu a convocação de uma Assembleia Constituinte para discutir a reforma política", disse, lembrando, porém, que a proposta previa a eleição dos integrantes exclusivamente para participar do colegiado.

Para o jurista Miguel Reale Júnior, um dos autores do pedido do impeachment de Dilma, a ideia apresentada por Rosso "parece inconstitucional". "A proposta viola o processo legislativo", disse. Para ele, "um órgão unicameral faria desaparecer o Senado, atingindo a forma federativa, que constitui cláusula pétrea".

O ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Carlos Ayres Britto defendeu que a saída para a crise deve ser pela Constituição, não pela modificação dela.

"Se cumpríssemos o princípio da moralidade administrativa, que já está na Constituição, e da economia social de mercado, que também está no texto de 1988, viveríamos o melhor dos mundos", afirmou. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Acompanhe tudo sobre:Crise econômicaPolítica

Mais de Brasil

Inovação da indústria demanda 'transformação cultural' para atrair talentos, diz Jorge Cerezo

Reforma tributária não resolve problema fiscal, afirma presidente da Refina Brasil

Plano golpista no Planalto previa armas de guerra

Indícios contra militares presos são "fortíssimos", diz Lewandowski