Prédio da Fiesp, na avenida Paulista (Julia Moraes/Fiesp/Divulgação)
Estadão Conteúdo
Publicado em 11 de dezembro de 2022 às 12h47.
Depois do presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) , Josué Gomes, não ter convocado uma assembleia após pedido de 86 sindicatos associados, a maioria do Conselho de Administração da entidade decidiu seguir em frente e marcar a reunião para o próximo dia 21 de dezembro. A assembleia poderá, na prática, culminar com a queda do presidente do cargo, que ocupa a cadeira desde janeiro.
Conforme o edital de convocação da assembleia, que foi publicado hoje, todos os itens da pauta giram em torno da atuação de Josué como presidente da entidade. Estão no texto, por exemplo, a necessidade de se debater a “atuação do sr. diretor presidente da Fiesp acerca de atos que denotam desvirtuamento dos fins estabelecidos nos estatutos, da Fiesp”, esclarecimentos sobre “atos e procedimentos que se encontram pormenorizados em correspondência do dia 16 de novembro”, momento que em os sindicatos pediram a convocação da assembleia.
Josué, segundo fontes, não teria convocado a assembleia porque o pedido não respeitaria as delimitações do estatuto. Para a atual convocação, não houve uma reunião formal de todo o Conselho ontem, quando a decisão foi tomada, mas foi uma decisão de conjunta dos 86 sindicatos, que formam uma maioria, de formalizar a convocação da assembleia. Segundo fontes, a insatisfação do grupo gira em torno da atuação do Josué da Fiesp “que não tem tempo para reuniões” e “não ouve as demandas dos sincatos”.
Uma fonte da Fiesp, que pediu anonimato, explicou que o que tem gerado insatisfação na verdade é a mudança na estrutura de poder na entidade, capitaneada pela gestão de Josué. Com isso, a federação trouxe de volta à Fiesp grandes industriais que tinham se afastado ao longo da gestão de Paulo Skaf, que ficou por quase duas décadas na frente da entidade.
Pelo estatuto da Fiesp, que o Estadão teve acesso, a maioria absoluta dos sindicatos podem convocar uma assembleia em caso de negativa do presidente, mas decorrido um prazo de 30 dias. No edital, a justificativa para o prazo é de que a notificação pedindo a convocação da assembleia ocorreu no dia 18 de novembro. Com isso, o prazo exigido de 30 dias terminaria no dia 20 próximo, podendo, assim, haver a assembleia no dia 21 de dezembro, conforme a leitura do grupo. Para respeitar um prazo mínimo para a convocação de 10 dias para a data da assembleia, o edital foi publicado neste domingo, dia 11.
Josué, que é filho do ex-vice-presidente no governo Lula, José Alencar, que morreu em 2011, é hoje o principal cotado para assumir o MDIC, que será recriado pelo presidente eleito, a partir de 2023, segundo fontes.
O momento é de grande divisão da Fiesp, conforme fontes consultadas pela reportagem. Um dos problemas levantados é de que uma grande maioria dos sindicatos que fazem parte da entidade - são 112 no total - são de pequeno porte e não envolve nenhuma das grandes indústrias.
Um dos movimentos que ocorre em paralelo é para que o estatuto da entidade seja revisto após essa crise, assim como a própria formação do conselho da entidade, que conta com um número muito grande de representantes, com quase todos os sindicatos associados. “Estou muito envergonhado com tudo isso. Se eu fosse o Josué mandaria imediatamente minha demissão, ele não precisa desse posto e só está se desgastando”, disse uma fonte, que preside um grande sindicato.
Conforme informações do estatuto da Fiesp, a perda do mandato pode ocorrer por “conduta incompatível com a ética”, “abandono do cargo”, dilapidação de do patrimônio social”, dentre outros itens. “Nada que justifique, de longe, o impeachment de Josué”, disseram fontes. Procurado, Josué Gomes não respondeu à reportagem até o momento.
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