Brasil

No Brasil, 68% das mortes violentas são de negros

Pretos e pardos são os que mais morrem e os que mais são presos; para advogado, dados evidenciam a realidade do racismo no Brasil

EXAME.com (EXAME.com)

EXAME.com (EXAME.com)

Mariana Desidério

Mariana Desidério

Publicado em 20 de novembro de 2014 às 11h02.

São Paulo - Das pessoas que morrem de forma violenta no Brasil, 68% são negros. Dentre os presos, 61% têm a pele de cor preta ou parda. A maioria está encarcerada por pequenos crimes, muitas vezes sem julgamento.

No Dia da Consciência Negra, o país deve olhar para os números que evidenciam a situação em que vive essa população. “Os dados ajudam a mostram uma realidade que a gente insistir em esconder: o racismo no Brasil”, afirma Rafael Custódio, advogado e coordenador do programa de justiça da ONG Conecta Direitos Humanos.

Os números citados acima estão no Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2014, divulgado no início do mês. Eles mostram que a proporção de negros mortos ou presos é bem maior que a proporção deste segmento na população. De acordo com o IBGE, os negros (pretos e pardos) são 52% dos habitantes do país.

Fonte: Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2014 (Exame.com)

Para Custódio, parte do problema se explica pela mentalidade de nossas instituições de segurança e justiça, cujo principal ator junto à sociedade são as polícias militares. “Elas são treinadas para enxergar o cidadão como potencial inimigo”, afirma.

Ao mesmo tempo, essas polícias “não têm sofisticação”, diz o advogado, o que faz com elas concentrem seus esforços nos pequenos crimes, cometidos por jovens pobres da periferia. O fato de o Brasil ainda ter uma predominância da raça negra entre os pobres só agrava a situação.

Um estudo da UFSCar divulgado em abril mostra que o índice de negros mortos em decorrência de ações policiais a cada 100 mil habitantes em São Paulo é quase três vezes o registrado para a população branca.

De acordo com o mesmo estudo, a taxa de prisões em flagrante de negros é duas vezes e meia a verificada para os brancos. Para Custódio, os resultados evidenciam que há, sim, um componente de racismo na atuação da polícia.

“A polícia de São Paulo aborda, prende e mata muito mais gente não branca. Isso numa quantidade muito desproporcional à presença dessa população no estado de São Paulo. É evidente que há um componente racial nessa questão”, afirma.

Fonte: Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2014 e Pnad (Exame.com)


Para ele, o combate a essa seletividade da violência passa pela mudança das polícias e pela revisão de leis, como a Lei de Drogas, de 2006. A principal crítica a essa legislação é que ela não deixa clara a distinção entre traficantes e usuários. 

Segundo a campanha “Lei de Drogas: é preciso mudar”, desde que a lei entrou em vigor, dobrou o número de presos por crimes relacionados às drogas no Brasil.

“O resultado é que essa lei só prende jovens, pretos ou pardos, e moradores das periferias. Essas pessoas são presas geralmente sem arma e não fazem parte de organização criminosa”, argumenta Custódio.

O advogado da ONG completa: “As pessoas acham que racismo só existe quando há uma lei discriminando negros ou brancos. Mas o racismo também tem um lado mais sutil, e é importante que a sociedade enfrente isso de uma forma mais aberta do que vem fazendo até agora”.

Agora veja 8 dados que mostram o abismo social entre negros e brancos

Acompanhe tudo sobre:NegrosPreconceitosRacismoViolência policialViolência urbana

Mais de Brasil

Moraes determina que plataforma Rumble indique representante legal no Brasil

Moraes nega pedido da defesa de Bolsonaro e mantém prazo de 15 dias para contestação de denúncia

Defesa de Bolsonaro diz que vai pedir anulação da delação de Cid

Justiça anula decisão do Ibama que reduziu geração de energia em Belo Monte