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Computador de delator da Odebrecht detalha repasses ilegais

Laptop, celulares e documentos de um ex-executivo da Odebrecht foram confiscados pelo Ministério Público da Suíça

Odebrecht: empresa usou seu caixa 2 para enviar "milhões de dólares" para financiar campanhas no Brasil (Janine Costa/Reuters)

Odebrecht: empresa usou seu caixa 2 para enviar "milhões de dólares" para financiar campanhas no Brasil (Janine Costa/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 16 de março de 2017 às 09h23.

Genebra - Planilhas, um laptop, celulares e documentos confiscados pelo Ministério Público da Suíça confirmam que a Odebrecht usou seu caixa 2 para enviar "milhões de dólares" para o financiamento de campanhas eleitorais no Brasil em 2010 e 2014. O material era do executivo Fernando Miggliaccio, preso em Genebra em fevereiro de 2016.

De acordo com as planilhas apreendidas, os pagamentos chegaram a ter um calendário, com transferências semanais aos beneficiados - que incluiria financiamento para a campanha da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer, em 2014.

Ao jornal O Estado de S. Paulo, fontes que acompanham o caso confirmaram que o material pode ser considerado "crucial" para as investigações no Brasil e apontariam para um pagamento "regular" por parte da construtora para partidos e políticos nacionais, em troca de favores.

Em documentos do Ministério Público de Berna, a conclusão é de que foram feitos "pagamentos em contas suíças para o financiamento de campanhas políticas no Brasil". Os partidos e os nomes dos políticos, porém, não foram revelados. Mas pessoas que já tiveram acesso ao material confirmam que os pagamentos atendiam "a todos os grupos".

Miggliaccio era um dos responsáveis pelo Departamento de Operações Estruturadas, o setor de propinas da empreiteira.

A reportagem apurou que, no início de 2016, Miggliaccio viajou para a Suíça, diante da iminente prisão de pessoas que eram consideradas "fundamentais" e que poderiam revelar detalhes de como funcionava o financiamento ilegal de campanhas.

O executivo conseguiu apagar parte substancial de um servidor que a Odebrecht mantinha na Suíça, onde estocava dados sobre o pagamento de propinas em todo o mundo.

Miggliaccio acabou detido e, em meados do ano, aceitou cooperar. Em seu compromisso, ele também aceitou entregar todos os dados, que ainda estão de posse dos suíços. A Procuradoria-Geral da República já fez pedido para reaver o material.

"Milhares de listas foram confiscadas e, a partir dos pagamentos relatados por meio do sistema ilegal, foram listados, com datas de pagamento, o valor e o nome dos recipientes", indicou o MP suíço, em documento que faz parte da decisão sobre a multa aplicada à Odebrecht.

Contas na Suíça

Em dezembro, o jornal revelou que pelo menos 66,5 milhões de francos suíços (R$ 200 milhões) foram pagos a ex-diretores de estatais e outros funcionários públicos no Brasil em propinas a partir das contas na Suíça.

No total, o país investigou mais de 300 transações bancárias, com o envolvimento de intermediários e funcionários públicos.

A constatação foi de que 440 milhões de francos suíços das subsidiárias da Odebrecht passaram pelos bancos suíços entre 21 de dezembro de 2005 e junho de 2014.

No total, o sistema criado pela Odebrecht em todo o mundo movimentou de forma ilegal US$ 635 milhões. Procurada, a empreiteira não se pronunciou.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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