Jornalista Glenn Greenwald abraça seu parceiro David Miranda em sua chegada ao Rio de Janeiro após ter ficado detido durante nove horas no aeroporto de Londres (Ricardo Moraes/Reuters)
Da Redação
Publicado em 19 de agosto de 2013 às 17h38.
Rio de Janeiro - O companheiro brasileiro do jornalista norte-americano Glenn Greenwald, que publicou denúncias de espionagem dos EUA com base em documentos secretos revelados por Edward Snowden, pediu que as autoridades brasileiras ajam em relação a sua detenção em um aeroporto de Londres.
David Miranda, de 28 anos, foi interrogado no domingo por nove horas no aeroporto de Heathrow, em Londres, onde fazia escala de uma viagem entre Berlim e Rio de Janeiro. David foi liberado sem acusações após o interrogatório e chegou ao Brasil nesta manhã.
Autoridades britânicas valeram-se de lei antiterrorismo, que confere a agentes da imigração o direito de interrogar alguém "para determinar se aquele indivíduo está envolvido na ordem, preparação ou execução de atos de terrorismo", para deter o brasileiro, que desembarcou na manhã desta segunda-feira no Rio de Janeiro.
"Eles estavam alegando a lei sobre terrorismo. Vou tomar providências aqui no Brasil. Espero que o Senado esteja vendo isso e eu espero que eles façam alguma coisa, porque a gente sabe o que está acontecendo", disse Miranda a jornalistas no aeroporto internacional do Rio de Janeiro, onde foi recebido por Greenwald.
"Fizeram perguntas sobre a minha vida inteira, sobre tudo, levaram o meu computador, videogame, celular", afirmou Miranda. Após o incidente, o governo brasileiro emitiu uma nota manifestado "grave preocupação" com a detenção.
Greenwald, que mora no Rio de Janeiro, entrevistou recentemente Snowden, ex-prestador de serviço de uma agência de espionagem dos EUA e procurado pelas autoridades norte-americanas por ter vazado dados confidenciais.
Ele utilizou entre 15 e 20 mil documentos repassados por Snowden para revelar detalhes sobre os métodos de vigilância da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) dos EUA.
O jornalista, que escreve para o jornal inglês The Gardian, afirmou nesta segunda-feira que a detenção de seu companheiro foi uma tentativa de intimidação contra seu trabalho, mas que vai responder com novas denúncias.
"Eles quiseram mandar uma mensagem... sobre intimidação. De que eles têm poder, e se continuarmos fazendo a nossa reportagem, publicando os segredos deles, que eles não vão ficar só passivos, mas vão atacar a gente com mais intensidade", afirmou a jornalistas.
"Eu vou fazer uma reportagem com muito mais agressão do que antes, vou publicar muito mais documentos do que antes. Eu vou publicar muitas coisas sobre a Inglaterra também, eu tenho muitos documentos sobre o sistema de espionagem da Inglaterra... Acho que eles vão se arrepender do que fizeram", acrescentou.
Questão Operacional da Polícia
A Embaixada do Reino Unido em Brasília afirmou que o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, conversou nesta tarde por telefone com o chanceler britânico, William Hague, sobre o caso.
Segundo a nota, Patriota e Hague concordaram que representantes de ambos os governos permanecerão em contato sobre o assunto e afirmou que o caso "continua sendo uma questão operacional da Polícia Metropolitana de Londres".
"O Reino Unido e Brasil têm uma forte relação bilateral. Nós trabalhamos em estreita parceria em diversas áreas, incluindo comércio e investimento, educação e energia. Continuamos a discutir uma vasta gama de questões de importância mútua para a política externa e para a agenda de segurança internacional", disse o embaixador Alex Ellis na nota.
Mais cedo, Patriota reiterou o repúdio do governo brasileiro à detenção de Miranda e criticou a justificativa dada pelas autoridades britânicas de que a detenção foi baseada em suspeita de terrorismo.
"Nós ontem (domingo) emitimos uma nota em que diz com muita clareza a posição do governo brasileiro. Nós consideramos que não é justificável essa detenção por nove horas com base na lei que se aplica a suspeitos de envolvimento com terrorismo", afirmou Patriota a jornalistas no Rio de Janeiro.
"Esperamos que não volte a acontecer", acrescentou o ministro.
No domingo, o Itamaraty afirmou em comunicado que a medida foi "injustificável por envolver indivíduo contra quem não pesam quaisquer acusações que possam legitimar o uso de referida legislação".
O norte-americano Snowden está atualmente na Rússia, onde lhe foi concedido asilo por um ano, mas o governo de Barack Obama tem buscado maneiras para levá-lo de volta aos Estados Unidos para responder a acusações de espionagem.