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Quem tem fome tem pressa, diz Edu Lyra sobre medidas contra covid-19

CEO do Gerando Falcões defende urgência em ações de proteção social que sejam propostas tanto pelo governo quanto pela sociedade

Edu Lyra: (Leandro Fonseca/Exame)

Edu Lyra: (Leandro Fonseca/Exame)

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Clara Cerioni

Publicado em 1 de abril de 2020 às 12h07.

Última atualização em 1 de abril de 2020 às 21h02.

"Como a gente consegue vencer a covid-19 sem permitir que as pessoas morram de fome na favela?" Esse é o questionamento de Edu Lyra, fundador da Gerando Falcões, organização com foco no desenvolvimento de favelas do Brasil. 

Lyra foi o convidado desta quarta-feira, 1o de abril, na série exame.talks. Ele conversou com os repórteres Gabriela Ruic e João Pedro Caleiro sobre a importância das lideranças comunitárias perante a pandemia do novo coronavírus e do papel da sociedade e dos governos na proteção social dos mais pobres (assista na íntegra, no final da reportagem).

O empreendedor está na linha de frente de uma mobilização que já arrecadou 8 milhões de reais de investidores e sociedade para distribuir cestas básicas digitais em 70 favelas, o que vai alimentar cerca de 120.000 pessoas no Brasil ao longo dos meses de pandemia. Por meio de uma parceria com cartões de alimentação, as famílias receberão 100 reais por mês para comprar comida. "O governo sozinho não dá conta. Só a sociedade não conta. Nesse momento precisamos derrubar muros e construir pontes", defendeu o empreendedor social.

Para ele, a sociedade precisa entender que cada real doado conta, ao mesmo tempo que o governo também deve ter consciência de que conta cada dia que uma decisão importante é postergada. "O que significa contar? Que cada dia postergado pode ser tarde demais." Lyra diz que esse é o momento de solidariedade e união, principalmente dos governos. "As lideranças não podem dividir a população, estamos em um labirinto. É desesperador ver o desencontro dos governos."

Ele parabenizou a iniciativa do Congresso em aprovar o pacote emergencial de 600 reais para desempregados, informais e intermitentes inativos. Mas indicou que "velocidade neste momento é fundamental. Porque quem tem fome tem pressa".

Desafios

Lyra destacou que a pandemia é um "game em que a gente só vai ganhar usando ciência, liderança, comunicação e tecnologia". Na sua visão, o maior risco do pós-coronavírus para o país é que tudo volte ao normal. "Não dá pra gente viver em um país tão desigual. Precisamos distribuir mais", não só em relação à parte financeira, mas ao conhecimento também.

O empreendedor cita que há uma urgência também para os governos se digitalizarem, trabalhando com uma base de dados. "Há uma preocupação sobre como os benefícios vão chegar às pontas, isso só será possível pela tecnologia", disse, acrescentando que "esta crise precisa trazer lições".

A Gerando Falcões é um empresa de transformação social nas favelas do Brasil, mas que criou uma estrutura para atuar na transferência de renda durante a pandemia. A ONG tem um time de bilionários como investidores, entre eles Jorge Paulo Lemann, um dos homens mais ricos do país.

Lideranças unidas

No bate-papo, Lyra defendeu que "as crises testam a capacidade de liderança dos líderes" e, neste momento, está sendo colocada à prova a importância do papel das lideranças em todos os âmbitos da sociedade.

Na favela é ainda mais fundamental, porque ela passa a ser uma ponte para as pessoas que estão fora das comunidades mas que também querem se mobilizar. "Essa liderança é reconhecida pela favela, tem credibilidade."

O empreendedor reforçou que esse é um papel de toda a sociedade, porque isso não será resolvido em cinco dias. "Precisamos ter fôlego, este momento vai exigir muito dos brasileiros."

Programação

Assista abaixo à entrevista completa com Edu Lyra e veja também a lista das próximas transmissões da série exame.talks. Os vídeos ficam disponíveis no canal EXAME no YouTube, onde você pode vê-los quando for conveniente.

1º de abril, quarta-feira, 15 h
Sofia Esteves, presidente do conselho do grupo Cia de Talentos, fala sobre dicas para a carreira neste momento de crise.
Com André Portilho, head do exame.academy

1º de abril, quarta-feira, 17 h
Luiz Barroso (CEO da PSR e ex-presidente da EPE) e Claudio Sales (presidente do Instituto Acende Brasil).
A covid-19 e o setor elétrico: uma visão dos impactos em seus diferentes segmentos.
Com João Pimentel, head de utilities do BTG Pactual

2 de abril, quinta-feira, 12 h
Augusto Lins, presidente da Stone
Com Gabriela Ruic e João Pedro Caleiro, jornalistas da EXAME

2 de abril, quinta-feira, 18 h
André Bona, educador financeiro
Como investir na crise com tranquilidade

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