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Como tendências globais na gestão pública podem servir de exemplo para o Brasil

Há bons exemplos no mundo todo e, em sua maioria, eles só foram viabilizados pela combinação de esforços entre sociedade civil organizada, empresas, academia e governo

Relatório da Deloitte "Tendências governamentais 2024" faz uma análise global do tema, com mais de 200 casos de diversas partes do mundo (Luis Alvarez/Getty Images)

Relatório da Deloitte "Tendências governamentais 2024" faz uma análise global do tema, com mais de 200 casos de diversas partes do mundo (Luis Alvarez/Getty Images)

Da Redação
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Redação Exame

Publicado em 4 de fevereiro de 2025 às 06h03.

Por Edson Cedraz*

Ao redor do mundo, governos têm sido percebidos como lentos e burocráticos. É possível, entretanto, identificar bons exemplos de práticas na gestão pública que contrariam essa percepção geral.

O relatório da Deloitte "Tendências governamentais 2024" faz uma análise global do tema, com mais de 200 casos de diversas partes do mundo que são verdadeiras provas de transformações radicais em serviços públicos.

São muitos os exemplos em que a convergência entre tecnologias, regulamentações adaptadas e políticas públicas que de fato favoreçam a sociedade permitiram que governos aprimorassem mais de 10 vezes índices como eficiência operacional e experiência do cliente.

Destravar a produtividade é uma das tendências apontadas. Avanços na inteligência artificial (IA), especialmente na IA generativa, abrem caminho para oportunidades únicas de acelerar o ritmo de produtividade governamental.

Um exemplo vem de Queensland, na Austrália, onde hospitais públicos passaram a usar IA para prever fatores como admissões de pacientes, tipos de ferimentos e disponibilidade de leitos. Como resultado, os hospitais puderam conciliar melhorias na condição dos pacientes com a economia de valores expressivos do orçamento.

Ganhar velocidade também pode fazer a diferença. Usando o princípio "apenas 1 vez", a Áustria tornou possível que hospitais, postos de atendimento, médicos e demais profissionais de saúde possam acessar informações de pacientes através de uma plataforma de dados compartilhada, reduzindo significativamente o tempo de resposta e atendimento à população.

Cultivar ecossistemas, além de destravar a produtividade, também potencializa a inovação. Para isso, é preciso quebrar os silos de onde diversos órgãos enxergavam apenas sua parcela no emaranhado de processos e demandas. Um exemplo da Dinamarca ilustra esse caso.

Por lá, o governo estabeleceu 14 setores para agilizar a descarbonização do país, cuja meta é, em 2030, reduzir em 70% os níveis de 1990. Cada setor ficou responsável por desenvolver parcerias específicas, inclusive com o setor privado em áreas como construção e comércio.

Cada parceria dessas envolvia insights da sociedade civil, da academia e de ministérios específicos, gerando 432 recomendações. Em 2023, cerca de 80% dessas recomendações foram total ou parcialmente seguidas.

Para que essas evoluções sejam percebidas efetivamente pela sociedade, a administração pública deve enxergar o cidadão como o principal foco das suas ações – o seu verdadeiro "cliente".

O estudo da Deloitte mostra que melhorar as interações com o "cliente" não apenas reduz o tempo que se leva para acessar serviços públicos como ajuda a construir uma boa vontade em relação às futuras interações com o governo.

A regulamentação, aliás, deve acompanhar essas melhorias. Temos um bom exemplo no Brasil de como políticas públicas, combinadas com o uso de tecnologia e a atuação das entidades públicas, puderam favorecer a inclusão financeira digital de milhares de pessoas e pequenos negócios com o advento dos meios de pagamento digitais, em especial o PIX.

Como mostra o estudo da Deloitte, há bons exemplos no mundo todo – e, em sua maioria, eles só foram viabilizados pela combinação de esforços entre sociedade civil organizada, exercendo seu papel de controle social das políticas públicas; empresas, através da colaboração tecnológica ou diretamente por parcerias público-privadas, para viabilizar os investimentos necessários; academia, para prover capital intelectual e um ambiente de pesquisa que favoreça o aprimoramento tecnológico contínuo; e governo, fomentando os demais agentes deste processo e provendo um ambiente de negócios seguro e colaborativo, com políticas públicas que favoreçam essa convergência.

*Edson Cedraz é líder de Government & Public Services da Deloitte

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