Brasil

Como SP quer usar os terminais para resolver um velho problema

O projeto de concessão dos terminais de ônibus municipais quer transformá-los em epicentros do desenvolvimento regional

Terminal de ônibus em São Paulo  (Paulo Whitaker/Reuters)

Terminal de ônibus em São Paulo (Paulo Whitaker/Reuters)

Talita Abrantes

Talita Abrantes

Publicado em 13 de outubro de 2017 às 06h00.

Última atualização em 13 de outubro de 2017 às 06h00.

São Paulo – Até o início do próximo ano, a Prefeitura de São Paulo pretende lançar um edital para conceder à iniciativa privada a gestão de 27 terminais de ônibus hoje sob responsabilidade do município.

Com uma economia prevista de mais de 100 milhões de reais por ano aos cofres públicos, o projeto de concessão dos terminais municipais vai além das melhorias em zeladoria: a ideia é transformá-los em epicentros do desenvolvimento regional — um dos principais gargalos da cidade

“O objetivo é enxergar terminais e estações de metrô como grandes âncoras da transformação da cidade”, afirma Carlos Leite, diretor de intervenções urbanas da SP-Urbanismo, empresa pública ligada à Prefeitura de São Paulo.

Por trás dessa proposta está o conceito de desenvolvimento orientado pelo transporte, que estimula o encurtamento das distâncias nas grandes cidades e usos mistos da ocupação do solo.

A ideia é que as concessionárias aproveitem o espaço hoje restrito ao embarque e desembarque de passageiros para novos usos e exploração comercial – com a construção de hospitais, creches, centros comerciais e até unidades de habitação sobre a estrutura dos terminais e em seu entorno.

Além disso, as empresas terão a obrigação de revitalizar uma área correspondente a um raio de 600 metros a partir do terminal.

A inspiração londrina

A estação de King´s Cross, em Londres, na Inglaterra, é o exemplo mais clássico desse modelo. De uma área degradada na década de 1980, a região se tornou um dos espaços públicos mais pulsantes da capital britânica.

O plano de revitalização compreende uma área de 27 hectares a partir de duas estações, King´s Cross e Saint Pancras, que concentram seis linhas do metrô londrino, duas linhas de trem e uma linha internacional.

Quando o projeto for concluído em 2020, a região receberá 45 mil pessoas por dia e terá 2 mil novas residências, 10 praças públicas, 3 parques, 46 mil metros quadrados de restaurantes e lojas, além de 316 mil metros quadrados de escritórios.

“Foram construídos muitos metros quadrados tendo o espaço público como o grande norteador. Então, é uma série de espaços públicos que costura as conexões entre os novos e antigos edifícios e as duas estações. Dá vontade de ficar ali”, afirma a arquiteta mexicana Sol Camacho, do escritório de arquitetura Raddar.

Por adensar um volume elevado de pessoas, as estações e terminais urbanos são, segundo Antonio Rodrigues Netto, do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, polos naturais de serviços e comércios.  Planejar e revitalizar seu entorno, segundo o especialista, pode ter um impacto direto no trânsito da idade.

“Uma vez que você faz um adensamento e diversidade de usos próximos aos terminais, há a expectativa de que a os deslocamentos da população diminuam”, diz Rodrigues Netto, que é coordenador do curso de Arquitetura e Urbanismo da Belas Artes e especialista na área de Planejamento Urbano e Regional e de Projetos Urbanos de Sistema Viário e Transportes.

O plano paulistano

Até o momento, a Prefeitura de São Paulo lançou um chamamento público para que as empresas manifestem seu interesse na concessão de 24 terminais de ônibus urbanos.

Quatorze consórcios foram autorizados no último sábado a participar do processo e terão 90 dias para apresentar seus estudos.  Uma comissão especial avaliará os projetos enviados para planejar o modelo de concessão. Só depois disso, o edital para a concessão das unidades será lançado. A expectativa é que isso aconteça no início do próximo ano.

“Cada terminal tem a sua vocação. Não serão todos iguais. Alguns podem ter faculdades, habitação de interesse social e a gente pensa em colocar em quase todos uma espécie de Poupatempo, que, no âmbito municipal, vai se chamar Empreenda Fácil”, afirma Wilson Poit, secretário municipal de Desestatização e Parcerias.

Os terminais Capelinha, Campo Limpo e Princesa Isabel, nas proximidades da Cracolândia, servirão de projeto-piloto da concessão. Em julho, a prefeitura lançou uma consulta pública para ouvir as ideias da população para os três espaços. Os modelos adotados nesses terminais servirão de referência para as demais concessões, embora o setor privado não tenha a obrigação de seguir tais parâmetros.

Nos 27 terminais, embarcam diariamente mais de 835 mil passageiros. O desafio, de acordo com Sol Camacho, não será apenas valorizar o entorno desses locais, mas também impedir que seus atuais moradores e frequentadores acabem repelidos dali.

"A ideia não é só transformar uma cidade em linda, mas também torná-la diversa", diz a arquiteta. Como fazer isso? Segundo a especialista, só por meio de um bom planejamento urbano.

No último dia 4, o prefeito João Doria vetou a emenda aprovada na Câmara que obrigava os concessionários a construir habitações de interesse social em uma área correspondente a 5% do terreno concedido.

"Apesar do veto, a gestão se compromete com o Legislativo e com a sociedade de, através do Fundo Municipal de Desenvolvimento Social, fazer investimentos na área da habitação nas regiões dos terminais onde houver a concessão", diz nota da prefeitura sobre o assunto.

Acompanhe tudo sobre:cidades-brasileirasConcessõesmobilidade-urbanasao-pauloUrbanismo

Mais de Brasil

Banco Central comunica vazamento de dados de 150 chaves Pix cadastradas na Shopee

Poluição do ar em Brasília cresceu 350 vezes durante incêndio

Bruno Reis tem 63,3% e Geraldo Júnior, 10,7%, em Salvador, aponta pesquisa Futura

Em meio a concessões e de olho em receita, CPTM vai oferecer serviços para empresas