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Como presidente de Comissão, Eduardo acumula conflitos e acordos parados

Na liderança da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, Eduardo Bolsonaro teve quatro acordos internacionais assinados e 16 pedidos negados

Eduardo: o deputado é criticado por colegas por tenta acelerar votações sem saber se tinha maioria (Abner Rengel/Wikimedia Commons)

Eduardo: o deputado é criticado por colegas por tenta acelerar votações sem saber se tinha maioria (Abner Rengel/Wikimedia Commons)

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Reuters

Publicado em 17 de julho de 2019 às 12h31.

Última atualização em 17 de julho de 2019 às 13h46.

São Paulo — Escolhido pelo pai, o presidente Jair Bolsonaro, como o futuro embaixador do Brasil nos Estados Unidos, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) não conseguiu avançar com o principal acordo assinado com os americanos em discussão na Câmara dos Deputados.

Em cinco meses à frente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Casa, o filho do presidente acumulou desentendimentos com parlamentares, derrotas em votações e viu acumular outros 16 acordos internacionais assinados pelo Brasil. Na sua gestão, só quatro foram aprovados.

O mais significativo é o da base de Alcântara, anunciado como uma das principais conquistas de Bolsonaro em sua primeira viagem aos Estados Unidos, em março. O acordo de salvaguardas tecnológicas entre os dois países permitiria o uso de foguetes americanos na base, possibilitando a exploração comercial da estrutura.

Eduardo tentou acelerar a proposta colocando na relatoria um parlamentar alinhado com o governo. O deputado José Rocha (PL-BA) emitiu um parecer favorável à proposta no dia 11 de junho, cinco dias após o documento chegar oficialmente à comissão. Sem discutir com os demais membros do colegiado, o filho do presidente tentou levar a proposta direto à votação, mas foi barrado por deputados da oposição e de partidos de centro.

"Tratorar"

Deputados ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo afirmaram que Eduardo tentou "tratorar" - termo usado para quando se tenta acelerar uma votação - sem calcular se tinha maioria ou não para ganhar a votação. "Foi uma atitude de quem não sabe negociar", afirmou a deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC).

Eduardo teve de recuar e aceitar um cronograma de audiências que levará a discussão para a segunda quinzena de agosto.

Não foi a primeira vez que a comissão reagiu à condução do filho do presidente. Na primeira sessão do colegiado, o parlamentar tentou aprovar uma série de requerimentos de sua própria autoria para diminuir o espaço de atuação da oposição. A manobra foi criticada pela maioria do colegiado e ele recuou tirando parte dos pedidos.

O parlamentar também foi acusado de blindar aliados em áreas da política externa.

Em maio, ele rejeitou a convocação do chanceler Ernesto Araújo para explicar demissões na Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil). Em troca da convocação do chanceler, Eduardo sugeriu o convite à amiga Letícia Catelani, então recém-demitida da diretoria de Negócios da Apex.

O filho do presidente garantiu que ela compareceria "em breve" para dar esclarecimentos. Dois meses depois, a data da audiência ainda não foi marcada.

O jornal procurou o deputado Eduardo Bolsonaro para tratar da sua atuação à frente da comissão da Câmara, mas ele não se manifestou. 

Eduardo tem o apoio do chanceler

A indicação de Eduardo para ocupar a embaixada ajudaria a construir uma "parceria efetiva com os Estados Unidos", que é uma das prioridades na política externa do governo, afirmou nesta quarta-feira (17) o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo.

Questionado sobre a eventual nomeação, o chanceler elogiou a escolha e apontou qualidades do deputado para ocupar o cargo de embaixador nos EUA, mesmo sem formação de diplomata.

"Acho que seria um excelente nome se for realmente a decisão do presidente", afirmou Araújo, que está na Argentina, onde participa de reunião do Mercosul.

"O Eduardo Bolsonaro tem todas as condições de ajudar a construir uma parceira efetiva com os Estados Unidos, que é uma das nossas prioridades, consolidar isso que a gente já está construindo com todo o acesso que ele teria ao governo americano, com toda habilidade negociadora, capacidade política, seria um nome muito bom", acrescentou.

Eduardo Bolsonaro, que já confirmou que aceitaria a indicação e renunciaria ao mandato na Câmara, agradeceu nesta quarta-feira no Twitter a uma publicação do vice-primeiro-ministro e ministro do Interior da Itália, Matteo Salvini, que o parabenizou por ser "nomeado como o próximo embaixador do Brasil para os Estados Unidos".

"Obrigado pela força, meu amigo!", escreveu, em italiano. O presidente Jair Bolsonaro retuitou a troca de mensagens.

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