Brasil

Como foi a sabatina de Cristiano Zanin no Senado? Veja os principais pontos

Nome do indicado por Lula ao STF foi aprovado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e, agora, passará por votação no plenário da Casa

Confira os principais pontos da sabatina de Zanin no Senado (Pedro França/Agência Senado)

Confira os principais pontos da sabatina de Zanin no Senado (Pedro França/Agência Senado)

Agência o Globo
Agência o Globo

Agência de notícias

Publicado em 21 de junho de 2023 às 18h37.

Aprovado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, o advogado Cristiano Zanin fica um passo mais perto de ocupar uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF). Durante a sessão, que durou quase oito horas, o advogado respondeu a questionamentos de 33 inscritos, entre titulares e suplentes, sobre pontos sensíveis à sua indicação. O nome de Zanin deve ser avaliado no plenário do Senado ainda nesta quarta-feira.

Na arguição, Zanin falou, por exemplo, sobre sua relação próxima com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O advogado, indicado pelo petista para a cadeira do ministro aposentado Ricardo Lewandowski, ganhou notoriedade ao defender Lula em processos da Lava-Jato.

Confira, abaixo, os principais pontos da sabatina de Zanin no Senado.

Embates com Moro

No começo da segunda rodada de perguntas, Cristiano Zanin voltou a ficar frente a frente com o ex-juiz e agora senador Sergio Moro (União-PR). Os dois protagonizaram uma série de embates no curso da Operação Lava-Jato, enquanto o advogado atuava na defesa do então ex-presidente Lula.

Moro, conhecido opositor do petista, bateu recorde na sabatina e fez 14 perguntas ao indicado — seis delas relacionadas à operação. Entre os questionamentos, o ex-juiz indagou sobre a atuação de Zanin para transferir processos referentes ao então ex-presidente da Vara de Curitiba para a Justiça Federal no Distrito Federal.

Na CCJ, Moro também quis saber se Zanin se declararia suspeito no STF em julgamentos relacionados à Operação Lava-Jato, por ter advogado em defesa de um dos réus. Zanin respondeu que é impedido de julgar casos passados, mas nada o impediria de julgar processos futuros, alegando que se deve "analisar os fatos" caso a caso.

Aceno a conservadores

Durante a sabatina, o indicado de Lula a uma cadeira no STF também fez acenos a parlamentares mais à direita. Os posicionamentos de Zanin em temas espinhosos, como a descriminalização das drogas e a legalização do aborto até 12 semanas, ambos na fila de votação do Supremo, agradaram deputados da oposição.

Sobre a descriminalização das drogas, o postulante à vaga no STF defendeu que a legislação deve delinear a atribuição do agente público no ato da apreensão. Ele, no entanto, se esquivou de responder se era favorável ou contra a descriminalização:

"Então, não é uma questão de ser favorável ou não ao combate às drogas. Eu acho que a minha visão, efetivamente, é a de que a droga é um mal que precisa ser combatido. E, por isso, este Senado tem, inclusive, aprimorado a legislação com esse objetivo, acredito, de promover o combate às drogas e os temas que estão relacionados".

Em aceno à bancada evangélica, Zanin reforçou posição contrária à legalização do aborto até 12 semanas de gestação. O advogado de Lula afirmou, na sabatina, que o direito à vida está previsto na Constituição:

"O direito à vida está previsto no antigo 5º da Constituição, é uma garantia fundamental. Nesta perspectiva, temos que enaltecer o direito à vida. As hipóteses de interrupção (do aborto) estão previstos no Código Federal".

Marco Temporal

Zanin também foi questionado sobre o marco temporal para a demarcação de terras indígenas. O texto, que já passou na Câmara dos Deputados em maio, também pende de votação no Supremo Tribunal Federal. A expectativa é que a discussão seja pautada antes da aposentadoria da ministra Rosa Weber, presidente da Corte, em outubro.

Aos parlamentares, Zanin reconheceu os pontos de vista dos povos indígenas e de proprietários de terras:

"As questões do marco temporal estão em discussão no Senado, a partir da atividade da Câmara, e estão sob análise do Supremo. Eu teria dificuldade. Em tese, a nossa Constituição prevê direito à propriedade e dos povos originários. O julgamento deve sobrepesar esses valores de modo a conciliar esses valores", disse.

Relação com Lula

Outro ponto muito questionado durante a sabatina foi a relação entre o advogado e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e em que medida isso poderia interferir o entendimento do indicado em temas sensíveis ao Palácio do Planalto no STF. Logo no começo da sessão, Zanin agradeceu a escolha para a vaga aberta na Corte, mas destacou: "Um ministro do Supremo só pode estar subordinado à Constituição".

Zanin, que por anos atuou em processos enfrentados por Lula no âmbito da Operação Lava-Jato, se aproximou do petista por intermediação do sogro, o também advogado Roberto Teixeira. A proximidade do petista na esfera pessoal chegou a ser questionada pelo senador Sergio Moro na sabatina, ao perguntar se o advogado teria sido padrinho do casamento de Lula com a socióloga Janja da Silva.

A informação, que o senador alega ter visto na internet, é falsa, já que a cerimônia não contou com nenhum padrinho. O indicado também sublinhou que o único encontro que teve com o presidente neste ano foi durante visita ao Palácio do Planalto em que recebeu o convite para a vaga na Corte.

"A minha relação com o presidente Lula é uma relação que se estabeleceu ao longo do tempo na condição de advogado. Eu tive uma convivência bastante frequente. Não fui padrinho do casamento do presidente Lula e prezo muito essa relação, assim como a que tenho com outras pessoas, inclusive deste Senado da República", afirmou Zanin.

Defesa de Bolsonaro

Em sua fala, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), integrante da CCJ, aproveitou para realizar defesa do pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que vai enfrentar julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nesta quinta-feira que pode torná-lo inelegível.

Flávio lembrou o julgamento da chapa Dilma e Temer no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em 2017, quando o plenário, por 4 votos a 3, decidiu pela não condenação. O desfecho manteve Michel Temer na presidência, já que a petista havia sofrido o impeachment no ano anterior.

"[isso de] usar provas após o prazo legal, dentro de um processo para condenar alguém... Com a decisão de não levar em conta as delações, a denúncia perdeu forças e a votação inocentou a chapa formada por Dilma e Michel Temer", lembrou o senador, que criticou a inclusão, no processo contra seu pai, de informações relativas aos ataques em Brasília no 8 de janeiro.

Regulação de redes

Questionado sobre a regulação de redes sociais, Zanin defendeu a necessidade de regulamentar o setor, mas sem interferir na liberdade de expressão da população. Ele argumentou, contudo, que esse conceito "não protege o cometimento de crimes".

"O tema das redes sociais está em discussão em âmbito global, alguns países fizeram legislação específica (sobre o tema). Acredito que haja necessidade de o Congresso Nacional se debruçar para analisar a necessidade de disciplinar a questão das redes sociais sem jamais comprometer a liberdade de expressão", afirmou.

Acompanhe tudo sobre:Cristiano ZaninSupremo Tribunal Federal (STF)Senado

Mais de Brasil

Acidente com ônibus escolar deixa 17 mortos em Alagoas

Dino determina que Prefeitura de SP cobre serviço funerário com valores de antes da privatização

Incêndio atinge trem da Linha 9-Esmeralda neste domingo; veja vídeo

Ações isoladas ganham gravidade em contexto de plano de golpe, afirma professor da USP