(Igo Estrela/Getty Images)
Valéria Bretas
Publicado em 9 de junho de 2017 às 21h06.
Última atualização em 9 de junho de 2017 às 21h06.
São Paulo – Mesmo com a absolvição de Michel Temer no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) — no processo que investigou suspeitas de irregularidades cometidas pela chapa que o elegeu vice-presidente do Brasil em 2014 — o mandato do peemedebista ainda corre riscos.
No Congresso, já é dado como certo que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresentará uma denúncia contra o presidente nos próximos dias – tomando como base as delações de Joesley Batista, dono do frigorífico JBS.
Pelas regras, porém, a denúncia só pode ser encaminhada para análise do Supremo Tribunal Federal (STF) caso dois terços da Câmara dos Deputados aprove o processo. Se acolhido no Supremo, Temer se tornaria réu e seria afastado temporariamente do cargo até a conclusão do julgamento.
Para tentar impedir o avanço da ação no STF e garantir sua permanência no Planalto, Temer já teria montado uma estratégia para negociar cargos e emendas com deputados e senadores. Afinal, para barrar a investigação ele precisaria do apoio de 172 dos 513 parlamentares.
Outros dois fatores devem ainda servir como instrumentos para desestabilizar o governo. EXAME.com consultou cientistas políticos e consultorias para entender as ameaças que estarão à espreita de Michel Temer daqui para frente. Veja quais são:
A tensão gerada pelas delações do empresário Joesley Batista e outros executivos da JBS, que acusam o presidente de prática de corrupção, fez a cúpula do PSDB articular um possível desembarque da base aliada do governo.
“O simples fato de a Procuradoria-Geral da República (PGR) protocolar uma denúncia contra Temer já é motivo suficiente para o desembarque da bancada tucana”, afirma Thiago Vidal, coordenador de análise política da consultoria Prospectiva. Segundo o especialista, outros fatores desestabilizadores podem acelerar a saída do partido.
A mudança de versão relatada pelo presidente sobre ter utilizado um avião particular de Joesley Batista para uma viagem particular, por exemplo, é um dos motivos que agravam a relação de Temer com a sigla.
De acordo com Vidal, é possível que aconteça um efeito cascata de desembarque. “Nenhum partido quer colocar a sua credibilidade em xeque por estar relacionado a um governo comprometido em escândalos de corrupção”, diz.
Se perder a base, o governo enfrentará dificuldades para barrar a denúncia da PGR no Supremo. A única saída, segundo Vidal, seria a renúncia de Temer.
“Se o PMDB comprovar internamente que ele será afastado do cargo pelo STF, a opção menos desgastante para a sua imagem é a renúncia”, diz. “Essa seria a melhor alternativa para evitar o constrangimento de passar pelo julgamento.”
A permanência do PSDB na base governista será decidida na próxima segunda-feira (12), durante a reunião da Executiva Nacional.
Por outro lado, na opinião de Antônio Flávio Testa, cientista político e professor da Universidade de Brasília (UNB), a saída dos tucanos não significaria o isolamento do presidente com os representantes do Congresso. “Ele ainda teria a alternativa de montar uma outra base de sustentação”, diz. “Não será fácil, mas é possível”.
A prisão de Rodrigo Rocha Loures, ex-assessor de Michel Temer, é outro fator que pode selar o destino do presidente. Loures, que está no Presídio da Papuda, na capital federal, foi preso preventivamente pela Polícia Federal (PF) no último sábado (3).
Em março deste ano, o ex-deputado foi filmado pela PF recebendo uma mala com R$ 500 mil de propinas da JBS. Segundo depoimento dos executivos da JBS, parte do dinheiro teria sido repassada para o presidente como pagamento de um acordo de propina.
Nos bastidores, há expectativa de que Loures negocie um acordo de delação premiada. Sua família estaria pressionando o ex-deputado a fechar o acordo – um agravante seria o fato de que sua esposa está grávida de oito meses.
Em tempo: tudo começou com a recusa do ex-ministro Osmar Serraglio para assumir o Ministério da Transparência, que fez com que Loures perdesse a cadeira que ocupava na Câmara dos Deputados (ele é suplente da bancada do Paraná) e, por consequência, o foro privilegiado.
Mesmo diante do clima de incerteza, a análise da a consultoria Eurasia mostra que, com a absolvição de Temer no TSE, as chances do peemedebista se manter na presidência até 2018 aumentaram de 40% para 70%.
“Acredito que o presidente irá sobreviver sim ao turbilhão político e encerrar o seu mandato. Mas isso não quer dizer que ele vá retomar as mesmas condições de governabilidade de antes", afirma Antônio Flávio Testa, cientista político e professor da Universidade de Brasília (UNB).
Ainda assim, o surgimento de novos fatos que comprometam o presidente pode impulsionar a mobilização popular e deixar o governo por um fio.
Segundo Thiago Vidal, coordenador de análise política da consultoria Prospectiva, a gestão de Temer já está enfraquecida. O desafio, agora, é acirrar a estratégia para tentar reverter o desgaste. Mas o pior ainda está por vir, diz Vidal.