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Como a Galera.bet quer liderar setor de apostas e abrir capital no Brasil

Conheça os planos da 'bet' para o dia seguinte à iminente regulamentação das apostas esportivas no país. Leia entrevista com o CEO, Marcos Sabiá

Apostas esportivas: CEO da Galera.Bet vê com bons olhos a regulamentação do setor (Galera.bet/Divulgação)

Apostas esportivas: CEO da Galera.Bet vê com bons olhos a regulamentação do setor (Galera.bet/Divulgação)

André Martins
André Martins

Repórter de Brasil e Economia

Publicado em 2 de junho de 2023 às 17h29.

Ansiosamente aguardada pelo setor, a regulamentação das casas de apostas no Brasil, proposta pelo Ministério da Fazenda, deve provocar uma diminuição considerável de plataformas no país. Essa é a tese defendida por Marcos Sabiá, CEO da Galera.bet. A expectativa da empresa é liderar o mercado de apostas e até abrir capital no país.

Hoje, segundo o executivo, 1.000 casas de apostas operam no país, mais que o dobro de 2021. “Com a regulamentação, esperamos que entre 50 e 100 casas sigam operando no Brasil”, diz Sabiá em entrevista exclusiva à EXAME.

Ao comentar a proposta do governo, o executivo afirmou que acredita que o texto está "muito perto do ideal" e que tudo depende de a legislação estimular que o mercado formal se fortaleça. "Se temos o prejuízo de ser um dos últimos mercados a regular o setor, em contrapartida, temos o benefício de olhar para as experiências e tirar as lições aprendidas. Não podemos correr riscos de como alguns países que viram seus mercados entrarem na informalidade", afirma.

Para ele, é essencial que a proposta contenha princípios sobre o "jogo responsável" e evite a possibilidade de comportamento abusivo entre os apostadores. O CEO da Galera.bet tem especial interesse na pauta. Advogado de formação, com MBA em gestão executiva pela Brazilian Business School e passagens pela Odebrecht e Braskem, ele é pastor evangélico. O público, como se sabe, sempre foi sensível ao tema das apostas esportivas. Por isso, estabelecer um mercado calcado na ética é missão do executivo.

No cargo de presidente da plataforma de aposta em 2022, Sabiá conta que a Galera.bet foi criada de uma joint venture entre a Playtech, empresa de jogos eletrônicos com capital aberto na bolsa de Londres, e um investidor brasileiro. A licença da plataforma está registrada em Curaçao, uma ilha holandesa no Caribe.

A plataforma tem mais de 2,5 milhões de usuários e espera dobrar essa quantidade com a regulamentação do setor. "O desafio é dobrar a meta e dobrar de novo. Com o setor regulado, vai aumentar o mercado de jogadores, além de muitos usuários que serão refratários de outras casas que não devem se manter no país", explica Sabiá.

Na entrevista, o CEO também fala sobre o objetivo da Galera.bet em ser a líder do mercado, as expectativas para o dia seguinte da regulamentação, a preocupação com o jogo responsável e a operação Penalidade Máxima, que investiga um grupo que se organizou para realizar esquema de apostas esportivas após aliciar jogadores de todas as divisões do futebol brasileiro. 

Abaixo, os principais trechos da entrevista com Marcos Sabiá:

Como você recebeu os detalhes da MP de regulamentação do setor de apostas no Brasil?

É difícil comentar algo que ainda não é concreto. Estamos falando de coisas abertas em reportagens. A medida provisória está para sair. O governo tem mérito inegável de ter buscado conversas com as casas de aposta, associações e operadoras. Respeito as pessoas que possam ter algo contra, mas não dá para manter o entendimento de que não é salutar regulamentar esse mercado. Vai ser saudável para a sociedade em geral. Estou empolgado que teremos um bom texto, que traga avanços para o setor. Acredito que a MP e as portarias que vão detalhar outros pontos devem sair em algumas semanas. A MP vai para o Congresso e terá uma longa e salutar discussão. A Galera.Bet e a Associação Nacional de Jogos e Loterias (ANJL) devem participar.

O que você considera um desenho ideal para a regulamentação das casas de apostas? 

Como qualquer segmento regulado, o desafio é encontrar o ponto de equilíbrio. O governo precisa ter o retorno de impostos e ser atrativo para o investidor para manter bons operadores no segmento. Esse equilíbrio é importante. Quando tem tributação excessiva ao jogador, cria resistência e estimula a informalidade, além de desestimular os investidores sérios de estarem no país. Se temos o prejuízo de ser um dos últimos mercados a regular o setor, em contrapartida, temos o benefício de olhar para as experiências e tirar as lições aprendidas. Não podemos correr riscos de como alguns países que viram seus mercados entrarem na informalidade. O que eu espero é que esse segmento, que é muito relevante para o país, traga boas práticas, melhoria de governança e relacionamento entre organizações esportivas. É necessário um ambiente punitivo e fiscalizador para evitar que a informalidade exista. O projeto precisa ser desestimulante para quem quiser ficar na informalidade. Quando entramos nessa fase de iminência de um marco legal existe muito ruído, mas vejo o texto [do governo] muito próximo do ideal. As portarias vão sair em breve. Acredito que assim que for público, conseguimos falar dos detalhes de requisitos, da tributação e do que vai ser exigido para o mercado de publicidade.

Você consegue dizer quantas casas de apostas operam hoje no Brasil? Após a regulamentação, quantas casas de apostas vão seguir no Brasil?

Existe uma dificuldade de analisar o mercado de apostas no Brasil. Ele não é regulado e as plataformas operarem fora do país. Mas eu estimo que temos pelo menos 1.000 bets. Sem dúvida alguma, você não vai ter 1.000 empresas com condições de atender o consumidor. Com a regulamentação, esperamos que entre 50 e 100 casas sigam operando no Brasil. Todos terão que seguir os requisitos para a operação. Não pode existir empresas no mercado sem condições de arcar com os prêmios. A outorga (valor da licença), que deve ser de até R$ 30 milhões, é um dos indicadores que vão demonstrar que a casa tem capacidade de investimento. Outro requisito muito importante é ter estruturas no país, com representantes legais que possam falar em nome da empresa. E reforço que não se trata de criar barreira de entrada para as plataformas médias e pequenas. Uma das coisas que eu mais estudei foi direito de concorrência, que é um direito de consumidor. Não tenho dúvida que terá muita concorrência nesse setor se ficarem até 100 empresas no país. Um arcabouço de tributação e capacidade administrativa sem dúvida vão criar ambiente de negócio saudável.

Qual é a base de apostadores na plataforma hoje? Com a regulamentação vocês esperam aumentar esse número?

Hoje, a Galera.bet tem 2,5 milhões de usuários na base. São 500 mil apostadores recorrentes por mês. E temos a meta de dobrar essa quantidade. O desafio é dobrar a meta e dobrar de novo. Com o setor regulado, vai aumentar o mercado de jogadores, além de muitos usuários que serão refratários de outras casas que não devem se manter no país. Esperamos ser líder do segmento em alguns anos.

Como será o dia seguinte da regulamentação? Vocês pretendem ter uma operação funcionando no Brasil? Existe algum plano de geração de emprego?

Estamos nos preparando bastante para esse momento. Queremos ser uma das primeiras plataformas com licença no Brasil. Temos estrutura que responde por compliance, jurídico e finanças, além de uma área de atendimento ao consumidor. Já construímos parceria com o Reclame Aqui e com órgãos de apoio ao consumidor. Estamos em um ambiente em que vamos nos adequar à regulamentação o mais rápido possível. No futuro, inclusive, pensamos na abertura de capital no país. Sobre empregos, teremos nossa operação e vamos contratar pessoas. O segmento inteiro vai precisar de mão de obra qualificada para desenvolvimento de produto e solução para os jogos. A indústria no mundo é quase trilionária. O Brasil tem a oportunidade de se tornar uma das maiores indústrias de apostas do mundo.

Como a Galera acompanha a operação Penalidade Máxima? Estão planejando algum tipo de ação para coibir essa prática? 

As casas de apostas são vitimas desse tipo de crime. Nós perdemos quando existe manipulação porque o criminoso tem a certeza de retorno. Estamos planejando uma ação para coibir essa prática e devemos anunciar em breve.

Como a casa atua em casos de compulsão? Existem mecanismos para bloquear usuários com alto volume de apostas? 

Estudos mostram que a compulsão em apostas atinge 2% a 5% dos apostadores, uma taxa muito similar a outras compulsões. De qualquer forma, o jogo responsável faz parte do nosso DNA. Temos ferramentas para monitorar os apostadores. No nosso site existe orientação de manter essa prática divertida e casual.

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