Marçal é o o nome que vem se mostrando mais competitivo, se acordo com as pesquisas (Foto: Instagram/Pablo Marçal) (Leandro Fonseca/Exame/Band/Divulgação)
Repórter
Publicado em 25 de agosto de 2024 às 11h59.
Última atualização em 26 de agosto de 2024 às 21h01.
A disputa pela prefeitura de São Paulo até aqui se dividiu em dois pelotões: um, formado pelo deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) e o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB), à frente nas pesquisas acima dos 20% de intenções de votos; e outro, formado por candidatos como José Luiz Datena (PSDB), Tabata Amaral (PSB) e Pablo Marçal (PRTB), que variaram de 9% a 15%. Agora, após três debates, Marçal ganhou força nas pesquisas mais recentes, e até encostou em Boulos e Nunes em algumas delas.
A ascensão do candidato do PRTB mexe com um cenário eleitoral em que o protagonismo da disputa parecia consolidado entre Boulos e Nunes, e a avaliação da CEO do instituto de pesquisa Ideia, Cila Schulman, é de que essa visibilidade, em parte, foi favorecida pelos próprios adversários do influenciador.
“A eleição ainda está longe para a opinião pública. Quando afinal começou, marcada pelos dois primeiros debates, os candidatos não souberam lidar com Marçal. E a partir daí a agenda se resumiu ao candidato, deixando de lado os temas importantes, como saúde, transporte, educação”, observa a especialista.
O agregador de pesquisas EXAME/IDEIA mostra que até aqui Boulos e Nunes ainda formam o primeiro pelotão nos levantamentos de intenção de voto. Boulos manteve a liderança ao longo dos seis primeiros meses do ano, mas vem perdendo força. Na versão mais recente do agregador, foi ultrapassado por Nunes. Em um cenário de muitas pesquisas, um agregador de pesquisas harmoniza as curvas das pesquisas eleitorais e mostra tendências.
No Datafolha, divulgado nesta quinta, Marçal apareceu pela primeira vez em segundo lugar, à frente de Nunes. E, ao lado do apresentador José Luiz Datena (PSDB), está consolidado no segundo pelotão da pesquisa, segundo o agregador EXAME/IDEIA.
Apesar de não mostrar familiaridade com as questões municipais, o influenciador chamou a atenção pública pelo comportamento imprevisível, fazendo valer a pecha de franco-atirador ao disparar ataques pessoais, fake news e provocações variadas contra seus adversários, avalia Cila. Assim, os candidatos do primeiro pelotão perderam espaço para pautar a campanha. “Por isso [Nunes e Boulos] caíram”, destaca Cila.
O principal prejudicado, contudo, é o incumbente, Ricardo Nunes, na avaliação da CEO do Ideia. Com o horário eleitoral, que se inicia na próxima sexta-feira, 30, o candidato à reeleição terá agora o desafio de se apresentar e de mostrar seus feitos ao eleitor. "Mas agora terá que usar seus 55 comerciais diários de TV para, além de atacar o opositor óbvio, Boulos, o outsider Marçal”, diz.
Pouco conhecido até então no mundo da política e apoiado por um partido pequeno, Marçal se enquadra no fenômeno que marcou principalmente o pleito de 2016, com o avanço dos outsiders, como classifica Cila, aqueles que constroem suas carreiras fora dos partidos políticos estabelecidos.
Apesar disso, a especialista não acredita que o fato de Marçal não ser político explique o aumento de sua popularidade com o eleitorado. Para essa eleição, inclusive, ela acredita na “volta da política tradicional”. Um estudo da Arko Advice chega a apontar que a reeleição nas capitais pode ter um índice de 70%.
“Vejo o fenômeno Marçal mais como resultante do cenário único desta eleição em São Paulo do que de uma demanda de outsiders pelo eleitor brasileiro. Explico: a disputa na capital paulista tem um candidato desconhecido e que não foi eleito, pois era vice [Nunes] versus um candidato com alta rejeição [Boulos]. Este cenário abriu espaço para o desconhecido, no caso Marçal”, aposta a CEO.
Nesse cenário, o candidato do PRTB também tenta se firmar como “o candidato do bolsonarismo”, embora a figura de referência, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), esteja apoiando a reeleição de Nunes. A busca para se afirmar como o candidato da direita tem causado atritos a Marçal, que provocou um racha na direita e divisões de voto entre os próprios membros da família Bolsonaro.
O filho do ex-presidente Carlos Bolsonaro, por exempolo, foi às redes sociais para sugerir apoio à candidata Marina Helena (NOVO), e assim tentar tirar votos do influenciador. Já Eduardo Bolsonaro mantém a aliança com Nunes e tem chamado Marçal nas redes de “oportunista” em campanha contra seu crescimento.
“Bolsonaristas estão em conflito com Marçalistas, e a falta de uma liderança pra dar um freio de arrumação. Agora o dilema da campanha de Nunes é aderir de vez à pressão do bolsonarismo, calculando se este movimento será aceito pelo eleitor”, pondera Cila.
As campanhas dos candidatos do PSOL e do MDB tentam minimizar o crescimento de Marçal. “Somos a candidatura capaz de enfrentar o avanço do bolsonarismo na cidade de São Paulo, representado tanto por Nunes quanto por Pablo Marçal”, afirmaram aliados de Boulos.
Ao comentar os resultados do Datafolha, nesta semana, a equipe de Nunes falou em “serenidade”. “No levantamento sobre o primeiro turno, há um empate técnico na primeira colocação, e, sobre o segundo turno, larga vantagem a favor de Nunes”, argumentaram.
Como lembra Cila, do Ideia, é preciso aguardar se este quadro irá se consolidar. “Como disse, a eleição ainda está longe na cabeça do eleitor”, afirma.