Cloroquina: a orientação dada pelo órgão vai na contramão da defesa enfática que o presidente Jair Bolsonaro faz do uso dos medicamentos sem comprovação de eficácia do chamado "kit Covid" para tratar a doença (Andressa Anholete/Getty Images)
Reuters
Publicado em 17 de maio de 2021 às 15h58.
Última atualização em 18 de maio de 2021 às 08h15.
Após revisão de oito diretrizes nacionais e internacionais para o tratamento da covid-19, um grupo de especialistas coordenado pelo Ministério da Saúde elaborou um documento em que contraindica cloroquina, hidroxicloroquina, azitromicina, ivermectina, colchicina e outros medicamentos que não têm eficácia comprovada cientificamente contra a doença, para pacientes hospitalizados.
O documento foi apresentado à Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) na semana passada e recebeu parecer favorável. Nesta segunda-feira, 17, foi aberta consulta pública para que o documento receba contribuições nos próximos dez dias. O grupo autor das diretrizes é composto por um painel de especialistas sob coordenação de um departamento do ministério. O painel inclui médicos de diferentes especialidades, farmacêuticos e representantes da pasta federal, de universidades e de sociedades médicas, entre elas a Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB), a Associação Paulista de Medicina (APM) e a Sociedade de Infectologia (SBI).
"Alguns medicamentos foram testados e não mostraram benefícios clínicos na população de pacientes hospitalizados, não devendo ser utilizados, sendo eles: hidroxicloroquina ou cloroquina, azitromicina, lopinavir/ritonavir, colchicina e plasma convalescente. A ivermectina e a associação de casirivimabe + imdevimabe não possuem evidência que justifiquem seu uso em pacientes hospitalizados, não devendo ser utilizados nessa população", informa o documento, denominado "Diretrizes Brasileiras para Tratamento Hospitalar do Paciente com covid-19".
Sobre hidroxicloroquina ou cloroquina, medicamentos amplamente divulgados pelo presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores, e o antibiótico azitromicina, o documento é enfático na contraindicação e apresenta motivos. "Não há evidência de benefício seja no seu uso de forma isolada ou em associação com outros medicamentos. A cloroquina e a hidroxicloroquina não devem ser utilizadas, independentemente da via de administração (oral, inalatória ou outras)."
No documento do ministério, a exceção é para pacientes que já utilizam as medicações, por estarem em tratamento contra doenças reumatológicas ou malária, ou pessoas com quadros de infecção bacteriana, no caso do uso do antibiótico.
As indicações
Também foram avaliados estudos com corticoesteroides e anticoagulantes. Seguindo a linha de estudos científicos, a dexametasona foi recomendada para pacientes em estado grave em uso de oxigênio suplementar. Os anticoagulantes são indicados "em doses de profilaxia para tromboembolismo venoso em pacientes hospitalizados com covid-19".
Coordenador do grupo que elaborou o documento, Carlos Carvalho, professor de pneumologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (Famusp), diz que a construção das diretrizes foi uma solicitação do ministro da Saúde Marcelo Queiroga diante de problemas como a falta de oxigênio e dos medicamentos para o kit intubação, além da necessidade de proteger pacientes em ventilação mecânica e de oferecer orientações farmacológicas para pacientes internados. "Está agora em consulta pública. Decidimos fazer essas recomendações para pacientes mais graves, abordando medicamentos para intubação para o médico que estiver na ponta poder executar essas manobras, como estratégias de ventilação."
Desde o ano passado, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já alertava para a ineficácia das medicações na luta contra o novo coronavírus, comprovada em um estudo publicado em outubro.