Ceará: para sociólogo, vai-se acostumando com as mortes e com a brutalidade delas (foto/Divulgação)
Agência Brasil
Publicado em 15 de janeiro de 2018 às 17h40.
O número de crimes violentos letais intencionais (CVLIs) no Ceará atingiu, no ano passado, o número recorde de 5.134, 44% acima do registrado em 2016, quando houve 3.407 casos, e o mais alto índice de violência dos últimos cinco anos.
Para o sociólogo Ricardo Moura, pesquisador do Laboratório de Estudos e Pesquisas Conflitualidade e Violência da Universidade Estadual do Ceará, trata-se de uma questão que deve ser encarada como "prioridade máxima do governo e da sociedade." A informação foi divulgada sexta-feira (12) pela Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social.
No entanto, destacou Moura, o que ocorre é que vai-se acostumando com as mortes e com a brutalidade delas, como se tais vidas não fossem importantes.
"Investir fortemente em investigação criminal e inteligência policial é um fator que tem-se mostrado muito eficaz nos países que conseguiram reduzir suas taxas de assassinatos", afirmou o pesquisador.
O secretário da Segurança do Ceará, André Costa, atribuiu o aumento de tais crimes à dinâmica da presença das facções.
"Houve um acirramento das facções [criminosas]. Em grande parte, essas mortes são resultantes de disputas de território e de mercados. Temos que buscar trabalhar mais em cima das causas. Iniciamos um trabalho de territorialização da polícia", explica, destacando que o efetivo da Polícia Militar ganhou novos 2,7 mil policiais.
O sociólogo Ricardo Moura aponta a disputa entre facções como um dos componentes dos dados da violência de 2017 e ressalta que esses grupos organizados foram subestimados nos últimos dois anos, quando os índices de crimes violentos letais chegaram a cair de 4.019 em 2015 pata 3.407 em 2016. Segundo Moura, a rapidez de organização das facções e a imposição de normas em determinadas áreas da capital, Fortaleza, fizeram surgir territórios inteiros dominados por criminosos.
"Há um desafio imenso, que é o de fazer com que a população que mora em áreas socialmente vulneráveis sinta-se segura novamente. E é preciso ainda investir em tais territórios. Dotá-los de serviços, desenvolver projetos de geração de emprego e renda, mostrar às famílias e, principalmente às crianças e adolescentes, que é possível sonhar com uma vida melhor", acrescentou Moura.
Ele destacou que buscar a investigação e solução desses crimes é outro desafio que precisa ser enfrentado. Para tanto, é preciso investir na Polícia Civil, que, segundo o sociólogo, há anos passa por um processo de sucateamento.
De acordo com a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social, há 700 policiais civis, entre delegados, inspetores e escrivães em cursos de formação. "É preciso que os assassinatos sejam todos elucidados para que possamos descobrir a autoria e as motivações de cada um deles. Só assim poderemos traçar um perfil dos homicídios no Estado", concluiu o secretário André Costa.