Brasil

Com vacinação lenta e casos em alta, Brasil pode ter novo pico de covid-19

Em até duas semanas após o Carnaval o país deve ter um aumento da pandemia. O que preocupa os especialistas é que os números já estão altos

 (Amanda Perobelli/Reuters)

(Amanda Perobelli/Reuters)

GG

Gilson Garrett Jr

Publicado em 15 de fevereiro de 2021 às 10h18.

Última atualização em 15 de fevereiro de 2021 às 10h42.

O Brasil está há 25 dias com a média diária de mortes por covid-19 acima de mil, segundo os dados do consórcio de imprensa atualizados no domingo, 14. A média de casos está acima de 40 mil por dia. O país vacinou um total de 5 milhões de pessoas desde o dia 17 de janeiro, 2,4% da população.

Apesar de avançar, a imunização ainda vai demorar para atingir a chamada imunidade de rebanho. Com todo este conjunto de fatores, é possível que o Brasil enfrente um novo pico da pandemia de coronavírus. Isso pode ocorrer em até duas semanas após o Carnaval - o período de 14 dias é o tempo de incubação do vírus.

“Vai depender muito do comportamento das pessoas. A gente não sente uma preocupação. Essa segunda onda está mais difícil de ser mitigada. Eu me preocupo. Provavelmente a gente vai ter um pequeno repique duas semanas depois do Carnaval”, alerta Eliseu Waldman, epidemiologista do Departamento de Epidemiologia e Saúde Coletiva da Universidade de São Paulo.

O que chama atenção - e o mais preocupante agora segundo os especialistas - é que no meio do ano passado, quando atingimos o pico de casos e de mortes, boa parte da população estava em algum tipo de isolamento. Neste momento, praticamente toda a atividade econômica está funcionando, e muitos estados e municípios autorizaram o retorno das aulas presenciais.

“No geral, voltamos à situação gravíssima em que estávamos no primeiro semestre de 2020. Olhando com mais detalhe, há muitas situações diferentes pelos estados do Brasil, como sempre aconteceu com a pandemia.  Mas chama a atenção que muitos estados têm agora seu recorde de casos, óbitos ou internações”, explicam os pesquisadores e membros do Observatório Covid-19 BR, Roberto Kraenkel, Monica De Bolle e Paulo Inácio Prado.

Outro ponto preocupante, na avaliação dos especialistas em saúde ouvidos por EXAME, são as variantes do coronavírus, que potencialmente são mais transmissíveis. No caso de Manaus especificamente, vimos nas últimas semanas o colapso do sistema de atendimento hospitalar e, mesmo com ajuda de outros estados e do governo federal, os casos, mortes e internações não diminuíram.

"Sem o isolamento social adequado, Manaus deve enfrentar uma terceira onda ainda em 2021. É necessária uma fiscalização forte da polícia para garantir o fechamento de Manaus. Além disso, é impensável a volta às aulas presenciais para qualquer local do Brasil neste momento, justamente para impedirmos o espalhamento da variante que surgiu no Amazonas", destaca Lucas Ferrante, biólogo e doutorando do programa de Biologia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA).

Ferrante faz parte de um grupo de cientistas que deve publicar um novo artigo nas próximas semanas com as projeções da covid-19 para 2021.

O grupo de pesquisadores do Observatório Covid-19 BR pontua também que ainda não há estudos claros sobre a transmissibilidade da variante de Manaus. Mas até termos uma resposta é preciso um esforço de vigilância sanitária de controle do vírus.

“Não se sabe ainda se a variante de Manaus é mais transmissível, ou se ela tem potencial de infectar pessoas que já tiveram a doença antes. O que podemos dizer hoje é que existe a possibilidade desta variante ser o motor de um novo crescimento de casos. Vale porém lembrar que esta não é a única variante que preocupa”, dizem.

Mais vacina só no fim do mês

Além do isolamento, a velocidade da vacinação precisa aumentar para combater a pandemia. “A principal medida é tentar acelerar o processo de vacinação. O Brasil está começando a ter uma porta irregular de insumos. Existe também a possibilidade de outras vacinas com desempenho semelhante. Aparentemente o Ministério da Saúde está sendo pressionado e se mexendo”, afirma o epidemiologista Eliseu Waldman.

Com a chegada de mais dois lotes do chamado IFA (Ingrediente Farmacêutico Ativo), o Instituto Butantan vai começar a liberar a partir do dia 23 de fevereiro 600 mil doses do imunizante diariamente ao Ministério da Saúde.

“A partir do dia 23 de fevereiro nós estaremos liberando 600 mil doses da vacina por dia pelos 30 dias seguintes. Obviamente que chegará mais matéria-prima da China, que não haverá mais interrupção. Vamos produzir 46 milhões de doses e outras 54 que estão em contratação pelo Ministério da Saúde”, disse o diretor do Butantan, Dimas Covas, em entrevista coletiva na semana passada.

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) recebeu na semana passada o primeiro lote do IFA, capaz de produzir até 2,8 milhões de vacinas contra a covid-19. Está programa a chegada de mais lotes na próxima semana e a liberação das vacinas deve começar em março. Paralelamente, a Fiocruz ainda negocia a aquisição de mais 2 milhões de vacinas prontas, para tentar agilizar o processo.

(Com Estadão Conteúdo)

Acompanhe tudo sobre:CoronavírusFiocruzInstituto ButantanPandemiavacina contra coronavírus

Mais de Brasil

Banco Central comunica vazamento de dados de 150 chaves Pix cadastradas na Shopee

Poluição do ar em Brasília cresceu 350 vezes durante incêndio

Bruno Reis tem 63,3% e Geraldo Júnior, 10,7%, em Salvador, aponta pesquisa Futura

Em meio a concessões e de olho em receita, CPTM vai oferecer serviços para empresas