Brasil

Com Temer, mudam os nomes, mas desafios permanecem

Ele chega ao poder sem o aval das urnas e com um reduzido apoio popular: apenas entre 1% e 2% dos brasileiros votariam nele para presidente


	Temer: ele chega ao poder sem o aval das urnas e com um reduzido apoio popular: apenas entre 1% e 2% dos brasileiros votariam nele para presidente
 (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Temer: ele chega ao poder sem o aval das urnas e com um reduzido apoio popular: apenas entre 1% e 2% dos brasileiros votariam nele para presidente (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

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Da Redação

Publicado em 12 de maio de 2016 às 09h07.

Michel Temer assumirá o governo e, apesar de contar com o apoio dos mercados, o presidente interino enfrenta uma onda de problemas, quase os mesmos que provocaram o colapso do governo do PT e o traumático afastamento de Dilma Rousseff.

Ele chega ao poder sem o aval das urnas e com um reduzido apoio popular: apenas entre 1% e 2% dos brasileiros votariam nele para presidente, de acordo com uma pesquisa recente.

Sua administração, concordam até os aliados mais próximos, deve acertar desde o primeiro dia no Palácio do Planalto.

Política

Considerado um hábil gestor de relações políticas, Temer é, ao mesmo tempo, uma peça permanente do xadrez do poder no Brasil e uma figura relativamente desconhecida para o grande público.

O advogado de 75 anos ocupará a presidência do Brasil durante os 180 dias - período máximo - de afastamento de Dilma Rousseff do cargo, enquanto aguarda a sentença final do Senado no julgamento de impeachment. Se a destituição de Dilma for definitiva, Temer ficaria no cargo até 31 de dezembro de 2018.

Bombardeado de acusações de golpista por Dilma, Temer não pode se apoiar no carisma ou em uma grande retórica.

"É discreto, menos conhecido que Dilma, mas vai herdar boa parte da insatisfação que existe com a política tradicional, que ele representa. Não vai ser fácil apresentar-se como um homem novo, sem relação com os que caíram", afirma Thiago Bottino, analista da Fundação Getúlio Vargas.

Seus assessores projetam um governo bem articulado com o Congresso e de perfil tecnocrata.

Para Lincoln Secco, historiador da Universidade de São Paulo, ele terá uma dificuldade adicional e inédita: Dilma Rousseff.

"Vamos ter de cinco a seis meses a presidente, mas sem exercer o cargo. Temer terá a sombra da presidente como uma pressão para que seu governo apresente resultados rápidos", disse o acadêmico, para quem a falta de legitimidade obtida com as urnas pode prejudicar sua tarefa (Rousseff caiu depois de receber mais de 54 milhões de votos).

Social

Casado com uma mulher que tem menos da metade de sua idade e autor de um livro de poesias massacrado pela crítica, Temer representa o poder estabelecido no Brasil.

Em contraste, o PT levantou a bandeira dos direitos trabalhistas, programas sociais e uma agenda de novos direitos, que incluem uma definição ampla de família e permitiu a adoção de crianças por casais homossexuais.

"O assunto mais complexo para a perspectiva do novo governo é o possível retrocesso dos direitos adquiridos", disse Debora Messenberg, especialista e Sociologia Política da Universidade de Brasília.

"Há um grande receio de que uma série de avanços dos últimos anos dos governos do PT, avanços sociais, direitos trabalhistas, retrocedam em um novo cenário onde os políticos evangélicos terão um espaço importante", completou.

E a crise política deixou a sociedade brasileira muito dividida.

"Os movimentos sociais vão paras ruas. Temer não vai ter uma vida fácil", afirma a professora.

Economia

Talvez a maior esperança do governo Temer e um dos capítulos mais espinhosos do Brasil em 2016: passar de um modelo de maior intervenção na economia para um de tendência liberal.

O país terá que movimentar-se rápido para minimizar os danos em um momento no qual se encaminha para o primeiro biênio recessivo desde a década de 1930 e a maior perda de riqueza em um século. Com a queda de 3,8% do PIB em 2015 e as perspectivas de repetir o resultado negativo este ano e de um crescimento zero em 2017, a estrutura macroeconômica do Brasil passa por um longo ciclo de paralisia.

O desemprego chegou a 10,9% no primeiro trimestre, a inflação ficou em 9,28% em abril e o déficit fiscal primário foi de 2,28% pontos do PIB na última medição a 12 meses.

Com um horizonte de dívida complexo, os mercados têm muitas expectativas com o plano liberal mencionado no programa "Uma ponte para o futuro", que apresenta um pacote de medidas de choque para tirar o Brasil da recessão.

Corrupção

A corrupção na Petrobras, um escândalo que envolve empresários e políticos que desviou bilhões de dólares da empresa estatal, atingiu em cheio o partido presidido por Temer, o PMBD. Mas ele não foi afetado, apesar de seu nome ter sido citado em alguns depoimentos de réus confessos que buscam uma redução de suas penas.

A investigação dos casos de corrupção se tornou a principal bandeira dos movimentos que apoiaram o impeachment e que não são exatamente admiradores das antigas práticas políticas nem da cúpula do PMDB.

"O problema da corrupção não vai acabar. E tenho dúvidas sobre o que acontecerá com a Operação Lava Jato. Poderia ser estrangulada. Espero que não, mas este risco existe", destacou Bottino.

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