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Com saúde à beira do colapso, DF enfrenta protestos contra lockdown

Alta de casos e mortes levou governador Ibaneis Rocha a decretar medidas restritivas desde domingo, 28

Comércio e atividades consideradas não essenciais fecham as portas durante lockdown no Distrito Federal (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Comércio e atividades consideradas não essenciais fecham as portas durante lockdown no Distrito Federal (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

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Alessandra Azevedo

Publicado em 2 de março de 2021 às 15h13.

Última atualização em 2 de março de 2021 às 15h29.

O Distrito Federal vive um dos momentos mais preocupantes da pandemia de covid-19, com casos e mortes crescentes nos últimos dias. Na segunda-feira, 1º, foram registrados 2.142 novos infectados, maior número desde agosto de 2020, e 27 óbitos, recorde desde outubro do ano passado. Para tentar conter o avanço do vírus, o governo local determinou lockdown por 15 dias, desde domingo, 28. As respostas foram variadas: enquanto alguns setores reagiram com protestos, outros reconhecem que a iniciativa é necessária.

Na sexta-feira, 26, o DF amanheceu com 95,85% dos leitos de UTI para covid-19 da rede pública lotados. Em questão de horas, quase todas as vagas disponíveis foram ocupadas, e, à tarde, sobrava apenas um leito para internação de adultos. O painel da Secretaria de Saúde do DF mostrava que os hospitais particulares não estavam longe de atingir números parecidos. Naquele dia, a rede privada chegou ao nível de 86,19% dos leitos ocupados.

O alerta preocupou o Palácio do Buriti, sede do governo local. Na quinta-feira, 25, um dia antes de a ocupação dos leitos chegar ao índice mais crítico até agora, de 98,12%, o governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB), anunciou um toque de recolher, entre 20h e 5h, a partir de segunda-feira, 1º, para conter o avanço da doença. Bastaram algumas horas assistindo à ameaça de colapso nos hospitais, no dia seguinte, para que ele decidisse endurecer as regras. 

Na sexta-feira, antes que o decreto anterior entrasse em vigor, o governador resolveu ampliar as medidas de restrição e antecipá-las para domingo. O novo decreto fechou boa parte do comércio. Escolas, academias, restaurantes, salões de beleza e bares fazem parte dos estabelecimentos proibidos de abrir as portas pelas próximas duas semanas. Mesmo com uma lista de exceções, como igrejas e lojas de conveniências, as medidas foram rechaçadas por empresários.

No domingo e na segunda-feira, 1º, houve protestos em frente ao Palácio do Buriti e à casa de Ibaneis, pedindo o fim do lockdown. Faixas carregadas pelos manifestantes diziam que quem decreta lockdown deveria decretar também isenção do pagamento de impostos, aluguéis e salários de funcionários. O comércio, segundo eles, não resistirá a mais um período de restrições.

Divergências

As críticas foram reforçadas pelo Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal (CRM-DF), que, em nota, afirmou ser contra a medida adotada pelo governo. O CRM-DF afirma que "tal medida já se mostrou ineficaz, condenada até mesmo pela própria Organização Mundial da Saúde (OMS)". A restrição ainda maior, segundo o CRM, "causa aumento da incidência de transtornos mentais, abuso de álcool e drogas e agravamento das demais doenças crônicas”.

Entidades ligadas à saúde, no entanto, têm posicionamentos diferentes. A Sociedade de Infectologia do DF (SIDF), por exemplo, diz que não foi consultada antes da publicação da nota do CRM-DF e que não concorda com as colocações. "São lícitos os debates e os questionamentos sobre quais atividades devem, ou não, ser afetadas pelas restrições, bem como a duração desse período. Não é admissível, entretanto, que haja um posicionamento radical, contra a medida de forma geral, como fez o CRM-DF", afirma a SIDF.

A Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB) também se manifestou contra a nota do conselho. "Surpreende-nos sobremaneira a afirmação do CRM-DF ao argumentar contra uma medida destinada a evitar a morte das pessoas afetadas pela doença, em prol de interesses de natureza econômica e alheios ao seu dever de zelar pelo bom exercício da profissão médica”, diz, em nota.

Enquanto as entidades tomam partido na discussão, o governo saiu para negociar com os empresários. Diante da pressão, Ibaneis já flexibilizou alguns pontos do decreto. Além de ter estabelecido uma data para o fim do lockdown — antes não havia previsão —, ele permitiu que funcionem cartórios, hotéis, papelarias, bancadas de jornal e escritórios de profissionais autônomos, como advogados e contadores.

 

Políticos envolvidos

Diante das discussões públicas, políticos também se manifestaram sobre o lockdown. Contrário ao fechamento do comércio, o presidente Jair Bolsonaro publicou, nas redes sociais, um vídeo de manifestantes em frente à casa de Ibaneis. O protesto contou com a participação de parlamentares bolsonaristas, como as deputadas federais Bia Kicis (PSL-DF), e Paula Belmonte (Cidadania-DF).

Em vídeo publicado nas redes sociais, Bia Kicis disse que o objetivo do ato era conversar com o governador, para "pedir que ele reabra leitos o mais rápido possível e não faça lockdown" na cidade. "Lockdown só traz pobreza, só traz desemprego e dor”, afirmou. Também nas redes, Paula Belmonte acusou Ibaneis de não ter preparado o DF para a segunda onda de contágio.

O Cidadania, partido de Paula Belmonte, foi na contramão do discurso da deputada e divulgou nota de apoio total ao lockdown. Os atos em frente à casa de Ibaneis "atentam contra a sensatez e a solidariedade e pretendem manipular a opinião pública, por meio de desinformação e fake news, para sabotar os esforços realizados pelas autoridades mais responsáveis", diz, em nota, a executiva regional do partido.

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