Vandalismo: bandeira com escritos homofóbicos na sala de aula do curso de comunicação da FAAP (Gabriela Vonn/Divulgação)
Clara Cerioni
Publicado em 26 de setembro de 2018 às 16h53.
Última atualização em 26 de setembro de 2018 às 16h56.
São Paulo — Em menos de 48 horas, os alunos da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP) se depararam com duas situações de tensão envolvendo o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL).
Na tarde de domingo (25), dois textos críticos ao presidenciável foram incluídos em uma prova aplicada aos alunos do 3º ano e do cursinho, do colégio de Ribeirão Preto.
Segundo colunista do jornal O Estado de S.Paulo, um dos textos, da escritora Tati Bernardes, chama os eleitores do ex-militar de “desorientados” e afirma que o presidenciável é um “boçal”.
O outro, do servidor federal Celso Rocha de Barros, garante que, se eleito, Bolsonaro dará um golpe de estado. “Se você quiser eleger Bolsonaro, aproveite, porque deve ser seu último voto”, diz no primeiro parágrafo.
Dois dias depois, na manhã de terça-feira (25), os estudantes do curso superior de comunicação, que fica em São Paulo, encontraram uma das salas de aula vandalizada.
Todos os trabalhos expostos pelos alunos foram danificados com palavras de teor homofóbico e machista, além de dizerem favoráveis a Bolsonaro e a ditadura militar.
De acordo com Gabriela Von Ammon Eifler, estudante de animação da FAAP, o responsável pelo vandalismo atuou entre segunda e terça-feira. "Às 20h da segunda, uma colega nossa já havia nos alertado sobre depredações. Mas quando chegamos na terça, o choque foi grande, inclusive da nossa professora", afirmou em entrevista à EXAME.
Segundo a aluna, a universidade afirmou que já identificou o responsável. No entanto, sua identidade não será revelada.
Procurada para esclarecer, a FAAP se posicionou por nota. "A propósito de uma prova realizada no último dia 23 de setembro no Colégio FAAP de Ribeirão Preto, em que foram reproduzidos textos com opiniões políticas veiculadas na mídia nacional, a Fundação reitera sua posição apolítica e totalmente voltada ao conhecimento acadêmico, esclarecendo que o texto lá reproduzido não reflete a neutralidade da Instituição."
Já sobre o ato de vandalismo, a instituição afirmou que está tomando as medidas necessárias. "Repudiamos qualquer tipo de desrespeito, violência e discriminação. O fato ocorrido se restringe a uma divergência entre os alunos, que são capazes e estimulados a debater entre eles. Em relação à violação do espaço da sala de aula, já foram tomadas as providências cabíveis para garantir a manutenção desse ambiente que estimula a criatividade, a autonomia e a livre expressão de seus alunos."
Na manhã desta quarta-feira (26), os alunos da faculdade organizaram um ato para repudiar o vandalismo e a intolerância no ambiente acadêmico.
Mais de cem estudantes participaram do protesto. "No ato, a principal questão que quisemos abordar, tanto para os alunos quanto para a instituição, foi de que isso [o vandalismo] aconteceu devido a um constante crescimento de preconceito e intolerância no espaço acadêmico", afirmou Gabriela.