Bolsonaro: normalmente é o presidente quem recebe os ministros no Palácio do Planalto (Sebastián Vivallo Oñate/Agencia Makro/Getty Images)
Estadão Conteúdo
Publicado em 25 de abril de 2019 às 19h35.
Brasília - O presidente Jair Bolsonaro estreou nesta quinta-feira, 25, um plano de visitar pessoalmente os ministérios subordinados ao Executivo, em uma espécie de peregrinação para "tomar pé na pratica" - como ele próprio observou - sobre o que está acontecendo nas pastas. A primeira visita foi feita hoje ao Ministério da Educação, comandado desde o início de abril por Abraham Weintraub, após a demissão de Ricardo Vélez.
"Pretendo ter uma rotina de pelo menos uma vez por semana visitar um ministério e conversar direto com o respectivo ministro. A conversa foi bastante produtiva hoje, o ministro expôs a situação do MEC, o que ele está buscando, pelo menos uns oito assessores dele diretos usaram da palavra, e todos nós estamos afinados", disse Bolsonaro ao conversar com jornalistas após a reunião, em coletiva junto de Abraham.
O governo Bolsonaro reduziu o número de ministros para 22. Os que comandam as pastas relativas ao Gabinete de Segurança Institucional, Casa Civil, Secretaria Geral da Presidência e Secretária de Governo ficam sediados no mesmo prédio do presidente, Palácio do Planalto. Os demais funcionam, em sua maioria, na chamada Esplanada dos Ministérios.
O presidente não respondeu qual será o próximo ministério que irá receber sua visita, mas observou que os outros ministros devem ligar para ele depois desta primeira reunião, que foi tratada em "segredo" e no "escuro", disse Bolsonaro. A agenda do presidente previa o encontro com Weintraub, mas não indicava o local. Normalmente é o presidente quem recebe os ministros no Palácio do Planalto. Questionada, a assessoria do Planalto respondeu que não há agenda definida até o momento sobre as próximas visitas.
"Todos os ministros conversam entre si, todos têm o mesmo propósito. Lógico que vão ligar para mim, depois dessa primeira (reunião), que foi quase que tratada em segredo, no escuro, o que interessa é que a gente toma pé na prática do que está acontecendo", respondeu Bolsonaro.
Segundo o presidente, a intenção é demonstrar que o governo está unido "por uma causa maior, que é o Brasil". "Apresento sempre, como aqui apresentei algumas ideias, sugestões, e o ministro vai analisar. Até para saber se minhas ideias são boas ou não. E essa é a intenção, demonstrar aqui que nós estamos unidos por uma causa maior que é o nosso Brasil", completou.
O ministério da Educação, escolhido para a primeira visita no molde em que o presidente quer fazer repetir nas outras pastas, rendeu polêmicas no início da gestão de Bolsonaro, quando estava sob o comando de Vélez. Um dos episódios envolveu um comunicado enviado pela pasta para todas as escolas do País em que se pedia que crianças fossem gravadas em vídeo após serem perfiladas para cantar o Hino Nacional.
O que as crianças cantam nas escolas acabou voltando à pauta nesta quinta-feira. Depois da reunião com Abraham, Bolsonaro disse que uma das preocupações levadas ao ministro são as escolas dos "Sem Terrinha", onde, segundo o presidente, alunos cantam "dia sim dia não" o hino do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e da Internacional Socialista "em vez do Hino Nacional".
"Eu sei que hoje em dia, aproximadamente 2 mil escolas ditas "Sem Terrinha", onde aproximadamente 200 mil alunos frequentam - são alunos pobres da área rural - ali, dia sim dia não, se canta de manhã, em vez do Hino Nacional, a internacional socialista ou hino do MST. Há uma forte doutrinação ideológica dessa garotada. No meu entender não tem que ter política em sala de aula, nem esquerda nem direita, ou se tiver, que tenha os dois lados", afirmou Bolsonaro, quando questionado sobre quais ideias discutiu no encontro com o ministro da Educação.
Ao comentar sobre o assunto, Abraham afirmou que "muitos recursos públicos" estavam sendo direcionados para áreas que "têm forte viés ideológico", e que várias escolas dos "Sem terrinhas" são sustentadas com o dinheiro do contribuinte. "Não é fechar a escolinha, é cortar a gasolina. Quer fazer, faz com o dinheiro deles, não com o nosso", disse o ministro.