Os cientistas políticos Bolivar Lamounier e Ricardo Sennes no EXAME Fórum (Divulgação/Exame)
João Pedro Caleiro
Publicado em 9 de abril de 2018 às 19h53.
Última atualização em 7 de maio de 2019 às 14h57.
São Paulo – Seis meses antes das eleições e poucos dias após a prisão de Luiz Inácio Lula de Silva – que lidera as pesquisas de intenções de votos – tentar prever quem será o próximo presidente da República é tarefa ingrata.
Esse foi o diagnóstico de dois cientistas políticos que participaram nesta segunda-feira (09) do EXAME Fórum PPPs e Concessões, realizado no teatro Opus, em São Paulo.
“Nós temos uma eleição rigorosamente incerta. Não sabemos nem o script”, diz Bolívar Lamounier, cientista político e sócio-diretor da Augurium Consultoria.
Ele acredita que um dos fatores decisivos será a recuperação econômica: quanto mais acelerada, maior a chance de que a sociedade crie algum otimismo e veja as instituições de forma mais benévola.
O presidente Michel Temer e seu ex-ministro da Fazenda recém-filiado ao MDB, Henrique Meirelles, teoricamente seriam os beneficiados com isso – mas não devem ser candidatos, de acordo com Ricardo Sennes, economista e sócio da Prospectiva Consultoria.
Ele vê seis pessoas consolidadas no páreo: Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (Rede), Geraldo Alckmin (PSDB), Álvaro Dias (Podemos), Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT). A grande incógnita é o potencial de crescimento dos dois últimos.
Sennes diz que o ex-presidente Lula tem a seu favor, logo de largada, a presença ideológica, a máquina do partido e o recall eleitoral. E, com isso, poderia chegar ao segundo turno. Mas Lula, pela Lei da Ficha Limpa, está legalmente impedido de concorrer por ter sido condenado por corrupção e lavagem de dinheiro.
Fernando Haddad, se for o candidato escolhido pelo PT, terá o gigantesco desafio de reorganizar um partido órfão – e isso sem falar em decidir o que fazer caso seja eleito.
“O Haddad [teria de] controlar um governo com sindicatos, CUT e movimentos sociais que convivem mais ou menos debaixo do mesmo guarda-chuva. Alguns vão buscar lutas mais radicais, falando em luta armada, enquanto outros serão ainda mais 'pelegos' do que já são”, diz Lamounier.
Uma coisa é certa: Lula preso não significa Lula irrelevante: “Eu acho que o STF ainda vai ter muita dor de cabeça com ele e, mesmo da prisão, ele mantém uma capacidade de influenciar. Não o dou como morto de jeito nenhum”, diz Bolívar.
A outra dúvida é a real consistência da candidatura de Jair Bolsonaro, que lidera as pesquisas sem Lula na disputa, com um discurso fortemente baseado na segurança pública.
Para Lamounier, ele é um candidato forte, pois criou vantagem em todas as regiões do pais. A partir de agora, pode tanto emular a vitória de Fernando Collor em 1989 como “se esvair no ar e sumir de uma hora para a outra”.
Sennes nota que a fraqueza de Bolsonaro é entrar na campanha sem recursos básicos de campanha que contam muito. A grosso modo, não tem partido, não tem aliados, não tem dinheiro e não tem alianças.
Além disso, tem fragilidades claras que podem ser exploradas por adversários, como o fato de ter apenas um projeto aprovado após 6 mandatos.
“Ele é rigorosamente nulo do ponto de vista político. Ele era uma piada (...) Tem 7 deputados num universo de 553. Não tem nenhuma condição de governabilidade. Esse cara sofre impeachment em um ano. Não é liberal e não consegue nem fingir”, diz Sennes.
Sua aliança com o economista Paulo Guedes, conhecido pelo pensamento liberal, é vista por ambos os cientistas políticos como uma tentativa de agradar ao mercado que é artificial demais para sobreviver às necessidades do governo e às personalidades de ambos.
Para Lamounier, a parceria é um "curto circuito" e não duraria três meses. Para Sennes, bastaria uma crise internacional para Bolsonaro tirar o presidente do Banco Central e colocar um general no lugar.
O tom incerto da eleição também se traduz no contraste entre duas outras candidaturas: Geraldo Alckmin, representante do PSDB e associado ao establishment político, e Joaquim Barbosa, ex-ministro do STF e recém-filiado ao PSB, como um outsider.
“Barbosa é o oposto de um político. Não é gregário nem em nível mínimo. Aposto que ele não sai candidato. Ou, se sair, vai ter menos votos porque não dá tapinha nas costas, não conversa nos corredores do Congresso. É totalmente fora do baralho, na minha análise”, diz Bolívar.
Alckmin parece ter melhores chances. Para Sennes, a força do ex-governador de São Paulo é justamente a capacidade que ele teria, com seus recursos de campanha, de agregar de oito a nove partidos na reta final, incluindo PTB, DEM e PP.