STF: Supremo retoma suas atividades nesta segunda-feira (3) (Nelson Jr./SCO/STF/Divulgação)
Agência O Globo
Publicado em 3 de fevereiro de 2020 às 11h19.
Última atualização em 3 de fevereiro de 2020 às 13h12.
Brasília — O ministro Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), abriu na manhã desta segunda-feira (3) o ano judiciário com um discurso em que ressaltou o papel da Justiça "em promover a segurança jurídica necessária à retomada do desenvolvimento".
"Gerar confiança, previsibilidade e segurança jurídica: esse é o objetivo primordial do Poder Judiciário na atual quadra da história do país, em que se anseia pela retomada do crescimento econômico e do desenvolvimento social sustentável", disse Toffoli em discurso de quase 20 minutos.
Em sua fala, Toffoli destacou que o próximo semestre terá julgamentos de grande impacto econômico, como aquele sobre a tabela do frete rodoviário, marcado para 19 de fevereiro, e o que trata sobre as regras da distribuição dos royalties do petróleo, marcado para 29 de abril.
O presidente do Supremo fez também acenos ao Legislativo e ao Executivo, ao dizer que o trabalho do Supremo será feito "mantendo o devido diálogo institucional com os demais Poderes". No plenário, encontravam-se os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), bem como o vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, e ministros como Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública) e Jorge Oliveira (Secretaria-Geral da Presidência).
Antes de encerrar, Toffoli dirigiu-se ao cidadão brasileiro, a quem reafirmou "o compromisso do Poder Judiciário com a promoção dos direitos e garantias fundamentais". Na ocasião, ele anunciou o lançamento de uma Carta de Serviços, que explica ao cidadão como pode acessar e utilizar os serviços prestados pelo Supremo.
Depois de ter uma liminar (decisão provisória) sua, sobre o juiz de garantias, revogada pelo ministro Luiz Fux durante o recesso do Judiciário, Toffoli buscou ainda apaziguar ânimos entre os colegas de Supremo, afirmando ser "óbvio que em todo colegiado há divergências, porque a razão de ser é a multiplicidade das visões".
"Ao fim e ao cabo, a síntese daquilo que deve prevalecer é como uma somatória das diferentes visões", acrescentou o presidente do Supremo. Dois ministros que compõem a Corte não estiveram presentes à cerimônia: Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes.
O ministro afirmou também que a corte desempenhou papel-chave no equilíbrio da República e na manutenção da paz social e que o tribunal enfrentou temas polêmicos, complexos e de grande impacto político, social, econômico e cultural.
"A corte estabilizou as relações institucionais, promoveu segurança jurídica e garantiu direitos fundamentais", disse o presidente do STF, no discurso de abertura do Ano Judiciário de 2020. Segundo ele, em 2019, o Poder Judiciário brasileiro cumpriu bem a missão de garantir "a efetividade dos direitos e liberdades do cidadão, de promover a segurança jurídica e a pacificação social'.
Para o presidente do Supremo, o objetivo primordial do Poder Judiciário é gerar "confiança, previsibilidade e segurança jurídica" no momento em que se "anseia pela retomada do crescimento econômico e do desenvolvimento social sustentável".
Assim como tinha feito no ano passado, Toffoli divulgou a pauta de julgamentos com antecedência de seis meses. Nesse primeiro semestre de 2020, o presidente do Supremo construiu uma agenda menos polêmica do que em anos anteriores, dando ênfase sobretudo a temas tributários e trabalhistas, embora ainda com importantes discussões na área penal.
O primeiro julgamento do ano, na quarta-feira (5), será dedicado a um tema penal. O plenário deve analisar se a confirmação de uma condenação em segunda instância interrompe ou não o prazo de prescrição de um crime. Na pauta do dia está também um recurso sobre a possibilidade de alguém que responde a processo criminal participar de concurso público.
Ainda na seara criminal, em 12 de fevereiro, o plenário deve julgar se pessoas condenadas pelo Tribunal do Júri devem ser presas de imediato, mesmo que ainda restem recursos a tribunais superiores, tema que deve retomar debates ocorridos na análise da prisão após segunda instância, ocorrida no ano passado.
Em 25 de março, por sua vez, está marcada a conclusão do julgamento sobre a ordem de apresentação das alegações finais de delatores e delatadas, assunto que tem impacto sobre grandes operações de combate à corrupção, como a Lava Jato. Em 17 de junho, deve ser julgada a validade da delação da empresa JBS.
Em 20 de fevereiro, o plenário deve se dedicar a temas tributários, como a redução na cobrança de Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre as saídas interestaduais de agrotóxicos e o prazo para a realização de perícias médicas dos segurados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
Na área fiscal, um dos julgamentos mais esperados é o que dará continuidade à análise de pontos da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), entre os quais a possiblidade de estados e municípios em crise financeira reduzirem o salário de servidores.
Em agosto do ano passado, formou-se uma maioria de 6 a 4 para vetar a medida, mas uma definição acabou adiada devido à ausência do ministro Celso de Mello. O assunto estava previsto para ser retomado em 5 de fevereiro, mas foi remarcado por Toffoli para 2 de abril, em razão de uma licença médica do decano do Supremo, que realizou uma cirurgia no quadril e deve ficar afastado ao menos até 19 de março.
No âmbito trabalhista, o Supremo tem marcado para 14 de maio o julgamento de pontos contestados da reforma trabalhista de 2017, entre os quais a constitucionalidade do contrato de trabalho intermitente.