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Com 8% da população com duas doses, SP decide vacinar apenas moradores

Com a ampliação da faixa etária que poderá receber o imunizante, a prefeitura decidiu passar a exigir comprovante de residência, restringindo a aplicação a moradores da cidade

 (SeongJoon Cho/Bloomberg)

(SeongJoon Cho/Bloomberg)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 28 de maio de 2021 às 14h33.

Última atualização em 28 de maio de 2021 às 16h16.

Pouco mais de 1 milhão de moradores da cidade de São Paulo foram vacinados com as duas doses contra a covid-19 até o início desta semana, quatro meses após o início da campanha nacional. O número representa 8,25% do total da população local, porcentagem que é menor do que a média do estado (9,74%). Com a ampliação da faixa etária que poderá receber o imunizante, a prefeitura decidiu nesta quinta-feira, 27, passar a exigir comprovante de residência, restringindo a aplicação a moradores da cidade.

Um levantamento feito pelo Estadão com base nos dados do Ministério da Saúde mostra que 17% do total de doses aplicadas em São Paulo atenderam pessoas de fora da cidade. Foram 4 milhões de doses aplicadas (entre primeira e segunda dose) e 686.000 acabaram no braço de pessoas que vivem em outros municípios que não a capital paulista. A prefeitura não culpou esse "desvio" pela porcentagem atual de imunizados, mas ponderou que era a única cidade até hoje que não fazia a exigência do comprovante.

"Daqui para a frente, os grupos prioritários que serão vacinados têm grande quantidade de pessoas. A partir de amanhã serão mais de 200.000. A faixa etária está diminuindo progressivamente, são pessoas que, diferentemente de idosos, se deslocam com maior facilidade. Portanto, é natural que a cidade de São Paulo, que tem uma estrutura de vacinação muito grande, atraia pessoas que se desloquem para cá", disse em nota o secretário municipal de Saúde, Edson Aparecido.

Novos grupos serão incluídos na lista de vacinação a partir de hoje. Estudantes do último ano de cursos da área da saúde e trabalhadores da saúde acima de 18 anos podem se vacinar na cidade. A vacinação de pessoas com comorbidades e com deficiência permanente cadastradas no Benefício de Prestação Continuada (BPC) será ampliada e passará a abranger todos que têm mais de 40 anos. Caso o comprovante de residência exigido esteja no nome de algum parente, disse a prefeitura, haverá a necessidade de demonstrar o grau de parentesco. Para aquelas pessoas que já tomaram a primeira dose, não haverá a exigência do documento para a segunda.

Ranking

Entre as 645 cidades do estado, a capital ocupa a 393ª posição no ranking da vacinação completa. As cidades do topo da lista são as com a menor população. Em Flora Rica, que tem 1.430 habitantes, metade dos moradores já recebeu as duas doses da vacina contra a covid. Entre as maiores cidades do estado, com mais de 400.000 habitantes, São José dos Campos apresenta o melhor índice, com 24,42% dos moradores vacinados com a primeira dose. Santos lidera o ranking de aplicação da segunda dose, com 11,2% dos moradores imunizados.

Especialistas apontaram que a exigência do comprovante de residência criada em São Paulo pode impor um empecilho para o acesso à vacinação contra a covid-19, além de ser facilmente burlável e poder desfavorecer uma parcela dos residentes na metrópole. "Se a pessoa estiver dentro do grupo alvo, acho que não importa onde ela mora. Isso é um fator que vai desincentivar e dificultar a vacinação, principalmente para quem mora em outra cidade e passa o dia trabalhando em São Paulo", avalia Monica Levi, presidente da Comissão de Revisão de Calendários de Vacinação da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

Para o epidemiologista José Cassio de Moraes, ex-diretor do Centro de Vigilância Epidemiológica de São Paulo e responsável por campanhas de vacinação desde 1975, o esforço seria melhor empregado na divulgação da imunização. O foco, aponta, deveria ser nas populações com comorbidades, que é onde ele avalia que está o maior ruído. "Que o ritmo está lento não precisa nem dizer. Uma parte é porque não tem vacina, mas o problema é que quem divulga a vacinação é só a imprensa. Uma parte das redes sociais até divulga, mas a maioria cria fake news. Quem tem como fonte de informação as redes sociais não recebe uma posição governamental, e sim propagandas contra a vacina", avalia.

Walter Cintra, sanitarista e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), defende que "é preciso ter um controle de garantia para que a pessoa tome a segunda dose". "De um modo geral, o país está apanhando feio do coronavírus. São Paulo não está em situação melhor", observa. 

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