Brasil

Cobrança de propina no governo do Rio era replicado na prefeitura

Os procuradores da Operação Lava Jato ressaltaram que tanto o estado e a prefeitura eram comandados pelo PMDB

Sérgio Cabral: o ex-governador do Rio está preso (Valter Campanato/AGÊNCIA BRASIL/Agência Brasil)

Sérgio Cabral: o ex-governador do Rio está preso (Valter Campanato/AGÊNCIA BRASIL/Agência Brasil)

AB

Agência Brasil

Publicado em 3 de agosto de 2017 às 16h22.

Os procuradores da força-tarefa da Operação Lava Jato no Rio de Janeiro afirmaram hoje (3), que o esquema de cobrança de propinas em obras do estado - e que levou à prisão o ex-governador Sérgio Cabral - era replicado nas obras sob responsabilidade da prefeitura.

Os procuradores ressaltaram que tanto o estado e a prefeitura eram comandados pelo PMDB.

"A organização criminosa liderada pelo governador Sérgio Cabral de fato também se estendeu a outras ramificações do PMDB [no estado do Rio], inclusive mantendo o nome que se dava a propina cobrada, que era 'taxa de oxigênio'", disse o procurador da República Sérgio Pinel.

O procurador Rafael Barreto disse que as investigações - que pela primeira vez tem como alvo a prefeitura do Rio - foi possível após acordo de leniência da Carioca Engenharias, uma das empreiteiras responsável pela construção do BRT Transcarioca, trecho de ligação da Penha ao Aeroporto do Galeão.

Deflagrada a partir de acordo de leniência assinado entre o Ministério Público Federal e empreiteira, a Operação Rio 40 graus - conduzida pela Polícia Federal - visa desarticular um esquema criminoso envolvendo o pagamento de propina a servidores públicos nas esferas federal e municipal, em um esquema comandado pelo PMDB em obras do BRT Transcarioca e o do Programa de Despoluição da Baía de Jacarepaguá.

A operação foi autorizada pelo juiz da 7ª Vara Federal, Marcelo Bretas, e resultou na prisão de dez pessoas. Três conduções coercitivas ainda estavam em andamento no final da manhã.

Entre os presos está o ex-secretário municipal de Obras Alexandre Pinto, que exerceu o cargo na gestão do prefeito Eduardo Paes.

Questionados sobre a possibilidade de participação de Eduardo Paes no esquema, os procuradores da República ressaltaram que estão sendo investigados fatos e não pessoas, e agora irão apurar se o esquema também envolveu outras secretarias municipais e obras relacionadas aos Jogos Olímpicos de 2016.

Sobre a prisão do ex-secretário, Eduardo Paes disse em nota que a nomeação dele não teve motivação política.

"O Alexandre Pinto é um servidor de carreira da Prefeitura do Rio. A política não teve qualquer relação com sua nomeação para a função de secretário de obras. Ao contrário! Caso confirmadas as acusações, será uma grande decepção o resultado dessa investigação."

Armas

Durante a execução da Operação Rio 40 Graus, a Polícia Federal apreendeu joias, dinheiro (inclusive em moeda estrangeira) e armas.

A PF Iinformou que ainda está contabilizando a quantidade de bens apreendidos. Entre as armas, foram pelo menos 12 de grosso calibre: fuzis, metralhadoras e submetralhadoras, que estavam em poder de um dos fiscais presos, cujo nome não foi revelado.

Segundo a polícia, ele tinha autorização para colecionar armas, mas o prazo de validade estava vencido. "Me parece preocupante que ele tenha essas armas em casa, mesmo sendo colecionador", disse o delegado Frederico Skora.

Propina

As obras da etapa 2 do BRT Transcarioca foram contratadas por cerca de R$ 540 milhões.

As investigações revelaram o pagamento de propina ao Ministério das Cidades, ao secretário municipal de Obras e aos fiscais responsáveis por acompanhar a obra.

Outro preso foi Laudo Dalla Costa Ziani, representante do Ministério das Cidades, que, conforme as investigações, solicitou a Antonio Cid Campelo, representante da OAS e do Consórcio Transcarioca Rio, o pagamento de 1% do valor do contrato para repassar a agentes públicos vinculados ao Ministério das Cidades para viabilizar a liberação dos recursos para o projeto.

Pelas investigações, Laudo recebeu R$ 6,5 milhões.

"Neste braço do esquema, foi identificado o pagamento de R$ 6,49 milhões por meio de contrato fictício com o escritório de advocacia de Vanuza Sampaio, que repassava os valores a Laudo". A advogada também foi presa na operação.

A propina era paga ao secretário municipal de Obras Alexandre Pinto diretamente pelos empreiteiros, em canteiros de obras, e em locais próximos, como postos de gasolina.

Já os fiscais Eduardo Fagundes de Carvalho, Ricardo da Cruz Falcão e Alzamir de Freitas Araújo, a quem eram destinados 3% do valor executado, o recebiam em dinheiro ao final do expediente no próprio canteiro de obras.

A propina era paga sempre que a prefeitura liquidava parte do contrato.

Segundo os procuradores, ao todo, foram cobrados R$ 27 milhões em propinas na obra da Transcarioca e outros R$ 9 milhões das obras da Bacia de Jacarepaguá, orçadas em R$ 540 milhões e R$ 230 milhões, respectivamente.

De acordo com o procurador Sérgio Pinel, o valor total da propina não chegou a ser repassado integralmente ao esquema criminoso, "porque as obras de recuperação da Bacia de Jacarepaguá não foram finalizadas".

Segundo ele, apenas 70% delas foram concretizadas, mas este não chegou a ser o percentual repassado.

Em nota, o Ministério das Cidades informou que até o presente momento não foi notificado e não teve acesso ao teor das investigações realizadas no âmbito Operação Rio 40 Graus.

Ressaltou, porém, que a pasta "já está tomando as devidas providências em busca da apuração interna dos fatos".

Acompanhe tudo sobre:CorrupçãoOperação Lava JatoPrefeiturasRio de JaneiroSérgio Cabral

Mais de Brasil

Justiça nega pedido da prefeitura de SP para multar 99 no caso de mototáxi

Carta aberta de servidores do IBGE acusa gestão Pochmann de viés autoritário, político e midiático

Ministra interina diz que Brasil vai analisar decisões de Trump: 'Ele pode falar o que quiser'

Bastidores: pauta ambiental, esvaziamento da COP30 e tarifaço de Trump preocupam Planalto