Brasil

CNI: educação básica fraca compromete competitividade

Conforme a pesquisa, 69% das companhias enfrentam dificuldades com a falta de trabalhador qualificado e, por isso, 78% desse grupo investe em capacitação de funcionários

Embora níveis de emprego sejam elevados, ineficiência da mão-de-obra brasileira preocupa, de acordo com Gilberto Guimarães (Jorge Rosenberg/VEJA)

Embora níveis de emprego sejam elevados, ineficiência da mão-de-obra brasileira preocupa, de acordo com Gilberto Guimarães (Jorge Rosenberg/VEJA)

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Da Redação

Publicado em 6 de abril de 2011 às 16h13.

São Paulo - Os resultados da Sondagem Especial - Trabalhador Qualificado, divulgada hoje pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), reforçam a urgência do aumento de investimentos para elevar a qualidade da educação básica no Brasil. Conforme a pesquisa, 69% das companhias enfrentam dificuldades com a falta de trabalhador qualificado e, por isso, 78% desse grupo investe em capacitação de funcionários. Porém, cerca de metade (52%) aponta dificuldades na qualificação por conta de uma educação básica ruim dos trabalhadores.

"Temos de agir agora porque esse é um problema que leva gerações para resolver", disse o gerente-executivo da Unidade de Pesquisa da CNI, Renato da Fonseca. "Quanto mais tarde o Brasil enfrentar o problema, mais vai demorar para termos um desenvolvimento social forte no País".

De acordo com Fonseca, o trabalhador com uma base educacional fraca apresenta maior dificuldade para aprender processos e operar máquinas. "Quanto maior o obstáculo para o profissional aprender, mais demorada e cara se torna a qualificação". A consequência, afirma o gerente-executivo, é a perda de competitividade da indústria brasileira. "Quando não consegue ser competitiva, a empresa começa a perder mercado para as importações", afirma.

Segundo a sondagem, a dificuldade em qualificar o profissional não esbarra somente na educação básica. O receio das companhias em treinar o funcionário e depois perdê-lo para a concorrência foi apontado por 38% das 1.616 empresas consultadas pela CNI. Se consideradas apenas as grandes companhias, esse porcentual chega a 46%. Por isso, 40% das empresas em geral informaram que investem em políticas de retenção de talentos, segunda ação mais apontada para enfrentar a falta de mão de obra qualificada, atrás apenas de ações para capacitação de funcionário.

Outro fator mencionado que dificulta a capacitação do trabalhador é a falta de cursos adequados às necessidades da empresa. Esse item foi citado por 33% delas. O problema pode estar tanto na falta de aproximação entre o mercado e os centros de formação quanto na necessidade de o trabalhador aprender processos ou operar máquinas específicas para determinada empresa. Neste último caso, apenas a capacitação da própria empresa pode solucionar a questão.

Mercado

No entanto, para o analista de Políticas e Indústria da CNI, Marcelo Azevedo, em alguns casos há um distanciamento entre a formação de profissionais e o que deseja o mercado. "É necessário que a academia, ao formar o engenheiro, por exemplo, atenda também a demanda da economia. Esse distanciamento é o que torna necessário, hoje, uma pós-graduação do profissional", disse.

Os setores nos quais o problema da falta de mão de obra qualificada é mais comum, conforme a Sondagem Especial, são vestuário (a dificuldade foi apontada por 84% das empresas do setor); outros equipamentos de transporte - segmento que vai de bicicletas a aviões, com exceção de automóveis -, com 83%; limpeza e perfumaria, com 82%; e móveis, com 80%. Em 25 dos 26 setores analisados ao menos metade das companhias informou sofrer com a falta de trabalhador qualificado. Refino de petróleo foi o único a ficar abaixo dessa proporção: 48% das empresas citaram ter o problema.

A falta de qualificação da mão de obra afeta, primeiramente, a busca por redução de desperdícios na cadeia de produção e, em segundo lugar, a qualidade dos produtos. A área da produção é afetada principalmente pela falta de engenheiros (61% delas apontaram dificuldade em encontrar esse profissional), técnicos (82%) e operadores (94%). "Temos engenheiros e técnicos no Brasil, mas não para aquela atividade específica que a empresa precisa. A dificuldade agora é casar esse conhecimento com a demanda do mercado", afirma Renato da Fonseca.

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