Ciro Gomes: candidato pedetista à Presidência admitiu em entrevista que a decisão do PSB fechar acordo com o PT é um revés, mas que não o surpreendeu (Marcello Casal/Agência Brasil)
Reuters
Publicado em 2 de agosto de 2018 às 09h11.
Brasília - No dia em que o PSB fechou acordo com o PT para se manter neutro nas eleições presidenciais e praticamente enterrou a possibilidade de apoiar o PDT, o candidato pedetista à Presidência, Ciro Gomes, admitiu em entrevista à Globonews que a decisão é um revés, mas que não o surpreendeu e que sabia ser o "cabra marcado para morrer" por PT, PSDB e MDB.
"No momento em que eu lhes falo, eu não recebei nenhuma carta, nenhum sinal de fumaça, nenhuma mensagem. E eu me comporto mais ou menos assim: eu costumo ligar para as pessoas, dar satisfação das minhas coisas, então, estou aguardando que se confirme isso", disse Ciro na entrevista na noite de quarta-feira.
"E se isso se confirmar, é um revés, mas não me abate nem me surpreende. Quando entrei nessa luta, sabia bastante bem que eu era o cabra marcado para morrer. Trabalharam para me isolar o MDB de Temer, o PSDB e o PT de Lula. Eu devo ter alguma coisa de muito interessante".
Apesar de afirmar que politicamente não se abala com as negociações encabeçadas pelo PT para lhe enfraquecer na disputa, Ciro admite que pessoalmente se sente frustrado e não entende o "desapreço e hostilidade" do partido em relação a ele. Afirmou ainda que se surpreendeu com o "nível de radicalismo e miudice" com que foi tratado pelo PT, e acusou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de "operar freneticamente" para isolá-lo.
"No pessoal claro que eu tenho sentimentos de frustração, porque eu não sei o que eu fiz para merecer esse tipo de tratamento. Mas nosso ramo não aceita esse tipo de coisa, a vida é assim. O trabalho do cidadão é viabilizar-se e inviabilizar os adversários", disse. "Eu nunca rompi minha palavra, fui extremamente leal ao Lula porque achei que estava melhor servindo ao Brasil".
Ciro acusou o PT de "ensaiar uma valsa na beira do abismo" ao apostar na candidatura do ex-presidente quando, segundo ele, o "senso comum" no país sabe que Lula não poderá ser candidato, já que é condenado em segunda instância por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, o que o enquadra na Lei da Ficha Limpa.
"E aí a disputa é comigo. Eles não estão pensando no país, essa burocracia do PT. Eles simplesmente não querem que eu seja o candidato que vai representar uma renovação do pensamento progressista brasileiro", disse.
Ciro negou na entrevista que tenha cogitado uma aliança com o PT, apesar de o candidato ter conversado com o partido, antes mesmo de Lula ser preso, por iniciativa do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, com autorização do ex-presidente.
O pedetista chegou a dizer que uma chapa com Haddad seria um "dream team". No entanto, as conversas não foram adiante e, depois de preso, Lula vetou qualquer aproximação com Ciro para uma frente unida de esquerda.
Enfrentando uma bancada de oito jornalistas, Ciro passou boa parte do programa respondendo sobre seu temperamento, conhecido por ser explosivo e por não medir palavras. O candidato admitiu que sua postura pode prejudicá-lo, mas reafirmou que é "um indignado" e "não cultiva a hipocrisia", mas nunca abusou de poder quando estava em um cargo público.
Ciro ainda foi questionado sobre a aproximação com o blocão - DEM, PP, PR, PRB e SD -, em outra negociação de aliança que não deu certo, e contou que não foi ele que procurou o grupo.
"Quando eles me procuraram para conversar não estava na minha cogitação nem a mais remota chance que haveria essa possibilidade. Mas eu cheguei à conclusão que eu preciso ter um olho na eleição e outro no dia seguinte, porque eu pretendo ser presidente do Brasil", respondeu. "Tenho um conjunto de reformas que vai exigir um quorum altamente sofisticado. Portanto, eu tenho que bailar com essa gente. Veja, eu não sou candidato a madre superiora do convento, sou candidato a presidente do Brasil".
O candidato foi novamente questionado sobre suas declarações de que, se fosse presidente, o Ministério Público e Judiciário voltariam para "suas caixinhas".
"Voltar à caixinha é uma metáfora para cada um voltar às suas atribuições constitucionais", defendeu, ressaltando que hoje prefeitos e governadores são denunciados por improbidade administrativa por qualquer coisa que o Ministério Público avalie que está inadequado.
Segundo o pedetista, sua intenção é discutir com o Ministério Público uma nova lei de abuso de autoridade, mas não a que está hoje no Congresso e que é bastante criticada pelos procuradores.