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5 respostas sobre febre amarela

Um dos mais respeitados médicos infectologistas do país, Marcos Boulos responde dúvidas sobre surto da doença no país

Vacinação

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Bárbara Ferreira Santos

Bárbara Ferreira Santos

Publicado em 18 de fevereiro de 2017 às 07h00.

Última atualização em 18 de fevereiro de 2017 às 07h00.

São Paulo – O surto de febre amarela acendeu um alerta vermelho para os brasileiros e causou uma correria aos postos de saúde, levando até mesmo à falta de vacinas em alguns locais.

Mas, afinal, o que é essa doença e quem deve se preocupar com a vacinação? É precisa sair correndo para um posto agora?

O médico infectologista Marcos Boulos, coordenador do controle de doenças da secretaria estadual de Saúde de São Paulo, respondeu a cinco perguntas sobre a febre amarela e sobre o surto no país.

EXAME.com: Qual a diferença entre a febre amarela urbana e silvestre?

Marcos Boulos: A febre amarela silvestre é transmitida pelo mosquito Haemagogus. O que acontece é que o Haemagogus transmite o vírus para os macacos nas áreas silvestres, mas, quando acabam os macacos, ele acidentalmente pica o homem que está nesses locais.

Nós estamos há 75 anos sem a transmissão da febre amarela pelo Aedes Aegypti, a febre amarela urbana. A transmissão nas grandes cidades acontece quando o Aedes Aegypti pica uma pessoa infectada anteriormente pelo Haemagogus, acaba se contaminando com isso, e depois pica uma outra pessoa, que contrai a febre amarela.

Nesse surto tem havido apenas a transmissão da febre amarela silvestre ou a urbana também?

Temos certeza que até agora a transmissão tem sido de febre amarela silvestre. A febre amarela pelo Aedes dá explosões epidêmicas, todo mundo pega quando o Aedes é o transmissor. Pela falta de explosão em centros urbanos, a gente sabe que não existe outra vez a transmissão da febre amarela urbana.

Pode acontecer? Difícil falar sim ou não porque não sabemos se o Aedes que entrou tinha a mesma “competência” que o anterior. Vamos saber neste ano. O epicentro da febre amarela no Brasil é em Minas Gerais, em uma cidade chamada Teófilo Otoni. Lá, estão acontecendo dezenas de casos de mortes por febre amarela e eles têm uma infestação de Aedes enorme na cidade.

Se não tivermos uma febre amarela urbana pelo Aedes Aegypti agora, acho que não vamos ter mais. Mas o cenário está montado. Hoje 13% dos focos de Teófilo Otoni têm Aedes. Então, ou seja, é uma infestação enorme de Aedes e está tendo febre amarela sem parar lá. Até agora não tivemos febre amarela urbana lá, mas ainda não acabou a epidemia.

Quais são os sintomas da febre amarela?

A febre amarela, como todas as doenças infecciosas, é uma doença febril com dores no corpo. Então os sintomas são dor de cabeça, dores musculares e febre alta. Cerca de 90% dos casos desaparecem em quatro dias, uma doença autolimitada, que termina sozinha.

Mas 10% têm a forma mais grave da doença, quando a pessoa fica ictéria, amarela, porque o vírus vai para o fígado, aí começa a liberar as enzimas hepáticas e a pessoa começa a ter aumento de bilirrubinas (substância amarelada encontrada na bile).

A pessoa tem febre e começa a ter todas as complicações do comprometimento hepático, depois renal, podendo ter até cerebral. São esses casos que a gente fala que são internados, vão até para a UTI, porque nos outros as pessoas nem sabem que tiveram febre amarela.

Quem deve se vacinar?

A gente sempre recomenda que quem mora em grandes centros urbanos não deve se vacinar neste momento. Deve se vacinar apenas quem mora ou vai viajar para uma área de risco de transmissão da febre amarela silvestre (veja lista completa de áreas de risco no site do Ministério da Saúde).

Tem pessoas que não podem receber a vacina, a não ser que o risco de contraírem a doença seja muito grande, como pessoas com déficit imunitário, crianças com menos de 6 meses, idosos acima de 60 anos, pessoas que têm uma depressão imunitária por qualquer causa, gestantes, pessoas que têm alergia a ovo. Se essas pessoas vão viajar para algum lugar de recomendação de imunização, eu sempre pergunto se pode evitar a viagem, para não correr o risco dos efeitos da vacina. Se não podem adiar, aí sim vacina.

Não tem necessidade de vacinar toda a população agora, apenas quem vai para áreas de risco, mas não descarto que isso tenha que ser feito em uma próxima epidemia. A gente observou que nas últimas décadas a febre amarela se aproximou muito da serra do mar, está se aproximando dos centros urbanos. Não descarto que tenhamos que começar a recomendar, em uma próxima epidemia, a vacina de febre amarela para crianças nestas regiões. Ela já é obrigatória nas áreas de recomendação. No estado, 60% do território tem recomendação de vacina.

O Carnaval acende uma luz de alerta nas políticas de combate e vacinação por causa do deslocamento de pessoas? 

Sim, não tem dúvida. Em todo grande centro artístico-cultural que recebe muita gente as pessoas precisam se prevenir se forem para região de transmissão. Então, vai passar o Carnaval fazendo uma trilha, um ecoturismo, vacine. Vai passar o Carnaval em região do interior de São Paulo, que tem transmissão de febre amarela, vacine. Se for principalmente para Minas Gerais, vacine. Agora, vai ficar brincando no centro de São Paulo ou na escola de samba no centro do Rio de Janeiro, não tem recomendação. Depende de para aonde você vai. A doença é silvestre, então precisa ter contato com região de matas para estar em situação de risco.

Veja abaixo a entrevista feita com o Dr. Marcos Boulos no estúdio da EXAME.com:

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