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Cidades paulistas vacinam em ritmo desigual e cobertura varia de 11% a 63%

Algumas se queixam de falta de doses, enquanto outras estão mais adiantadas do que prevê o calendário do Estado

São Paulo: a Secretaria da Saúde do Estado informou que o ritmo da vacinação é determinado pelos municípios (Governo do Estado de São Paulo/Flickr)

São Paulo: a Secretaria da Saúde do Estado informou que o ritmo da vacinação é determinado pelos municípios (Governo do Estado de São Paulo/Flickr)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 15 de junho de 2021 às 13h33.

Apesar dos avanços no calendário de vacinação contra covid-19 no estado de São Paulo, com previsão de imunizar todos os adultos até 15 de setembro, o ritmo nas cidades ainda é desigual, com variações na primeira dose de 11% a 63% de cobertura total. Algumas se queixam de falta de doses, enquanto outras estão mais adiantadas do que prevê o calendário do estado.

Enquanto Campinas vacinou 33,34% da população, segundo dados do Vacinômetro estadual, a cidade de Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo, atingiu cobertura de 20,38%. "Temos recebido menos doses, embora nossa população seja maior", informou a prefeitura. Até esta segunda-feira, Campinas havia recebido 644 mil e Guarulhos, 579 mil. A cidade da Grande São Paulo tem 1,39 milhão de habitantes e a do interior, 1,21 milhão.

Segundo a prefeitura da cidade vizinha da capital, o atraso na vacinação em Guarulhos também pode ser explicado pela reserva da segunda dose. "Estávamos reticentes quanto à disponibilidade de vacinas. Hoje estamos em condições de fazer o uso pleno da vacina e aceleramos a aplicação", informou o município.

Já a Secretaria de Saúde de Campinas abriu ontem agendamento para vacinar a população em geral (sem comorbidades) a partir de 50 anos. "O município está antecipando para alguns públicos", informou.

Segunda dose

Em Ilhabela, dos 9.674 moradores que receberam a primeira dose, apenas 3.648 tiveram a segunda aplicação. A cidade do litoral norte apresenta 27,18% da população vacinada, mas tem dificuldade para completar a imunização. A prefeitura informou que recebeu apenas um terço das doses necessárias para vacinar, a partir desta quinta-feira, os profissionais de educação acima de 18 anos. Em nota, o município informou que também depende do recebimento das doses para iniciar a vacinação da população em geral. "Frequentemente o Estado anuncia a abertura de novos grupos, mas não envia doses suficientes."

Limeira vacinou 23,75% da população, totalizando 120.850 doses aplicadas - 38.996 da segunda aplicação. A prefeitura informou que, desde o início do mês, passou a antecipar a vacinação em relação ao cronograma do Estado. Já vacina com 54 anos ou mais e busca " vacinar todos mais breve possível."

Em Mogi Mirim, com 26,75% da população vacinada, a prefeitura está reforçando os quadros de aplicadores. Segundo o município, gestantes e puérperas estão sendo incluídas agora na vacinação, que está liberada desde o dia 10. Segundo a prefeitura, embora munícipes tenham reclamado da falta de vacina, muitas pessoas com deficiência permanente e profissionais de educação não foram para receber nem sequer a primeira dose.

São José do Rio Preto convocou pessoas de 58 anos ou mais sem comorbidades para receber a vacina. Motoristas e cobradores do transporte coletivo também já têm doses à disposição. A cidade acompanha o calendário estadual e antecipa a vacinação quando há doses disponíveis - já vacinou 32,87% da população. "Sempre conseguimos imunizar com a primeira dose na data prevista e aplicar a segunda dose no intervalo indicado", informou. Já a prefeitura de Sorocaba, que sofreu com a falta de doses no início da vacinação, agora acelera para cumprir o cronograma estadual.

Cárcere e comorbidade

Pior cidade do Estado no ranking de vacinação, Balbinos, de 5.934 habitantes, vacinou apenas 11,58% da população. A cidade da região central do Estado tem também o pior índice de vacinas aplicadas - 53,17%. A enfermeira Nayara Roberto Amadeu, responsável pela Vigilância Epidemiológica, disse que a vacinação atrasou para a população encarcerada, que representa 50% do total. Os dois presídios de Balbinos abrigam 2.956 detentos. "O Ministério Público obteve liberação para vacinarmos os presos, mas houve atraso no início da vacinação", disse.

A cidade também teve problema para imunizar os moradores com comorbidade, segundo Nayara. "A gente recebeu as doses, mas essa população deixou de comparecer porque não conseguia apresentar os documentos exigidos pelo governo, como exames comprovando doenças. Chegamos a falar com a Vigilância estadual, mas não houve flexibilização. Para não perder as vacinas, abrimos a imunização para a faixa de 45 anos sem comorbidades", disse.

Em Flora Rica acontece o inverso. Até já se usou a "xepa" - sobra de vacina nos frascos - para adiantar a imunização para a faixa a partir de 48 anos da população em geral. Um trabalho de busca ativa de idosos e pessoas com comorbidade colocou a cidade de 1.430 habitantes com um dos maiores índices de vacinação do Estado, com 62,45% da população imunizada.

O município só fica atrás de Turmalina, com 63,2% com primeira dose e líder do ranking estadual - excluindo Serrana e Botucatu que tiveram ações para imunização em massa.

Planejamento

A infectologista Rachel Stucchi, docente da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, acredita que a diferença entre as cidades pode ser explicada pelo planejamento do município em avançar a vacinação de outros grupos prioritários - "Uma cidade resolve vacinar aqueles de 55 anos, enquanto outra espera que todos com 60 sejam vacinados, o que cria um avanço desigual."

Outra possibilidade, segundo ela, é que alguns municípios preferiram guardar a segunda dose para aqueles que receberam a primeira. "Isso, sobretudo no caso da Coronavac, dá alguma diferença. Qualquer um dos motivos, a partir do momento que os municípios tenham a garantia de um aporte maior de doses, todos têm capacidade para acelerar a vacinação e se igualar, vacinando toda a população até setembro. O que se espera é que não se incorra no erro de usar todas as doses, se não tiver a segurança de receber as que faltam."

A Secretaria da Saúde do Estado informou que o ritmo da vacinação é determinado pelos municípios, uma vez que cabe às prefeituras adotar as estratégias para cumprir o cronograma definido pelo governo estadual.

A pasta informou que acompanha a vacinação nos municípios e, quando solicitada, colabora para apoiar a imunização, conforme a logística definida pelas prefeituras. Sobre a quantidade de vacinas enviadas a Campinas e Guarulhos, a secretaria atribuiu à diferença na composição dos grupos prioritários em cada cidade. Esse deve ser ainda o caso de Ilhabela, segundo o estado.

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