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5 estados concentram metade da abstenção nas eleições; veja onde mais eleitores ficaram sem votar

Resultado da eleição pode ser influenciado por abstenção, que foi recorde no primeiro turno

Moradores na Rocinha, no Rio, durante o primeiro turno: abstenção foi recorde no Brasil (Wagner Meier/Getty Images)

Moradores na Rocinha, no Rio, durante o primeiro turno: abstenção foi recorde no Brasil (Wagner Meier/Getty Images)

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Carolina Riveira

Publicado em 29 de outubro de 2022 às 12h52.

Última atualização em 29 de outubro de 2022 às 13h08.

Do ex-presidente Lula (PT) ao presidente Jair Bolsonaro (PL), as campanhas dos candidatos à Presidência têm se esforçado para garantir que o maior número possível de eleitores compareçam às urnas no domingo, 30.

"Neste momento, eu peço a vocês: me ajude junto ao seu município, junto à sua região, a conseguir mais votos para que a gente possa continuar aqui em Brasília", disse Bolsonaro em vídeo que circulou nas redes sociais. "[Vamos] tentar ganhar cada voto, tentar facilitar que as pessoas vão votar", disse Lula.

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O objetivo é o mesmo: garantir que sua base de eleitores não deixe de votar. No primeiro turno, a abstenção foi recorde, de 20,8%, sem contar a abstenção no exterior, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Foi a maior desde 1998 e com mais de 32 milhões de brasileiros sem votar.

Lula e Bolsonaro em debate: os dois candidatos fizeram apelo para que eleitores se desloquem para votar no domingo (Band/Divulgação)

Para o segundo turno, historicamente, a abstenção aumenta ainda mais, o que pode ser um movimento crucial no resultado da eleição.

Para entender como esse comportamento se deu na primeira etapa, e o que pode estar por vir no domingo, a EXAME compilou os destaques sobre a abstenção no primeiro turno, além de matérias especiais sobre cinco maiores colégios eleitorais do país, São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia e Rio Grande do Sul. Veja abaixo.

DOSSIÊ ABSTENÇÃO: clique para ver em detalhes a abstenção nos maiores colégios eleitorais

De onde vem a abstenção no Brasil

Com exceção do Rio de Janeiro (que teve a terceira maior abstenção do Brasil), os maiores colégios não são os estados com maior taxa de abstenção proporcionalmente.

Porém, por serem muito populosos, cada ponto percentual de eleitores ausentes conta mais. Juntos, os cinco maiores colégios eleitorais responderam por 18 milhões de eleitores ausentes, quase metade de toda a abstenção no Brasil.

Individualmente, cidades específicas, na capital e no interior, concentram sozinhas milhares (e até milhões) de eleitores que não foram votar no primeiro turno.

Em uma eleição tão apertada, em que a diferença entre Lula e Bolsonaro foi de pouco mais de 6 milhões de votos (e pode estar ainda menor agora, a depender da pesquisa), cada percentual desses votos será decisivo.

Cidades pequenas e médias com alta abstenção

Percentualmente, as maiores taxas de abstenção ocorreram em cidades pequenas no interior, muitas com mais de 30% ou 40% dos eleitores sem votar.

Isso ocorre porque, em muitos desses lugares, alguns dos eleitores já não residem mais no município. Assim, não votam no dia da eleição (embora os motivos variem de cidade a cidade).

É o caso da campeã de abstenção no Brasil, a mineira Rio Vermelho, que tem menos de 8 mil eleitores registrados, dos quais mais de 40% não votaram no primeiro turno, segundo o TSE.

No geral, Minas Gerais é um destaque nessa abstenção no âmbito municipal: das 50 cidades com maior taxa de abstenção, 34 estão em Minas.

As cidades com maior taxa de abstenção no Brasil foram:

  • Rio Vermelho (MG) — 40,5%
  • Santo Antônio do Itambé (MG) — 40,3%
  • Maraã (AM) — 39,4%
  • Novo Cruzeiro (MG) — 38,9%
  • Chapada do Norte (MG) — 38,3%

Enquanto isso, é nas maiores cidades brasileiras, com ao menos 100 mil eleitores, que está o maior potencial individual de impactar no resultado.

Dentre as grandes cidades, o município com mais abstenção foi Governador Valadares, também em Minas Gerais, que teve abstenção de 29%. De seus mais de 215 mil eleitores, quase 63 mil não votaram.

Em seguida vieram Teófilo Otoni (MG), Presidente Prudente (SP) e Itabuna (BA). Veja no gráfico abaixo.

O estrago das grandes cidades

A taxa de abstenção, porém, não conta toda a história. O maior "estrago" da abstenção vem mesmo das cidades extremamente populosas, que têm alto número absoluto de ausentes.

É o caso de São Paulo capital, que, embora tenha tido abstenção mais perto da média nacional (pouco mais de 21%), é a campeã de abstenção em números totais: foram quase 2 milhões de eleitores ausentes só na cidade de São Paulo.

Puxado pelos votos da periferia, Lula venceu na capital paulista, com 47,5% dos votos ante 38% de Bolsonaro. A capital paulista deu ao ex-presidente o maior saldo de votos contra Bolsonaro do Brasil, quase 650 mil a mais. Já no estado de São Paulo, Bolsonaro venceu no primeiro turno com 48% dos votos, com ajuda das cidades do interior.

Outro exemplo claro é Brasília, que teve uma abstenção muito abaixo da média do Brasil, pouco mais de 17%, mas, ainda assim, foi uma das cidades com mais eleitores ausentes em números absolutos, quase 390 mil. Em Brasília, Bolsonaro venceu com folga, com quase 52% dos votos.

O que esperar para o segundo turno

A região Sudeste, vista como decisiva no segundo turno por ser altamente populosa e com disputa mais acirrada entre Lula e Bolsonaro, teve abstenção acima da média na primeira etapa da eleição. É um comportamento que se repete historicamente na região e pode fazer a diferença no domingo, para um lado ou para o outro.

Um ponto de atenção é que Minas e Rio de Janeiro, respectivamente o segundo e terceiro maiores colégios eleitorais, não terão segundo turno para governador. Isso pode aumentar ainda mais a abstenção, uma vez que o eleitor terá de se deslocar apenas para votar em um presidente. Ao todo, só 12 dos 26 estados (além do Distrito Federal) terão segundo turno para governador.

Ao mesmo tempo, mais de 300 cidades brasileiras, incluindo todas as capitais, implementaram passe livre para o dia da votação. A aposta é que a gratuidade na passagem possa incentivar mais eleitores a não desistir de votar. No primeiro turno, em análises por zona eleitoral nas grandes cidades, a abstenção foi maior nas periferias, que concentram estratos de menor renda.

VEJA TAMBÉM: Governo de SP anuncia passe livre também em metrô e CPTM no dia da eleição

A leitura geral é de que as abstenções prejudicaram mais Lula do que Bolsonaro no primeiro turno, com ausências numerosas de eleitores em bairros de menor renda e entre eleitores menos escolarizados, grupos que votam mais no petista.

Por outro lado, homens também votaram menos do que mulheres (com abstenção de 22% deles e 20% delas). A maior abstenção masculina é um comportamento que já ocorreu em outras eleições e pode também tirar milhares de votos de Bolsonaro, que é preferido por esse eleitorado, sobretudo em cidades grandes e médias na região Sudeste, onde o presidente tem alto número de votos, mas onde a abstenção também foi alta.

Já os estados da região Nordeste tiveram abstenção abaixo da média no geral, embora a Bahia tenha tido abstenção ligeiramente mais alta do que a média.

Em cidades pequenas no interior do Nordeste, onde Lula tem vantagem larga, a abstenção foi baixa, mas o comportamento também terá de ser observado com atenção no segundo turno. Individualmente, essas cidades menores não fazem diferença no placar final, mas, se o efeito for amplo e consistente em muitas cidades, pode impactar o resultado para um lado ou para o outro. O objetivo da campanha de Lula é ampliar para mais de 70% a vantagem do candidato no Nordeste, ponto crucial para uma vitória nacional.

Pela lei eleitoral, mesmo eleitores que não votaram no primeiro turno podem votar no segundo. Segundo o TSE, cada turno é tratado como uma eleição independente pela Justiça Eleitoral. Porém, em 2018, enquanto 117,4 milhões votaram no primeiro turno, só 115,9 milhões votaram no segundo. Uma diferença como essa, se repetida em 2022, pode fazer a diferença. A questão é qual grupo vai se ausentar de maneira mais decisiva.

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