Rio de Janeiro: a ciclovia Tim Maia voltou a desabar com as fortes chuvas que atingem a cidade (Sergio Moraes/Reuters)
Agência Brasil
Publicado em 9 de abril de 2019 às 16h00.
Mais de R$ 40 milhões foram gastos para que cariocas e turistas pudessem pedalar entre o Leblon e a Barra da Tijuca, sobre um costão de pedra que guarda um dos mais belos cenários do Rio de Janeiro. A obra permitiria percorrer grande parte da orla da cidade de bicicleta, do Leme ao Pontal, como cantou Tim Maia, cujo nome foi escolhido para batizar a ciclovia. Pouco mais de três anos depois da inauguração, os 9 quilômetros ficaram mais tempo com interdições que totalmente liberados, e a história da Ciclovia Tim Maia já soma furtos, quatro desabamentos, duas mortes e 16 pessoas denunciadas por homicídio culposo.
Com uma lesão no pé, o então prefeito do Rio de Janeiro Eduardo Paes inaugurou o primeiro trecho da Ciclovia Tim Maia, de 3,9 quilômetros, em um triciclo elétrico. Era janeiro de 2016, mas a alegria com o projeto durou poucos meses: no feriado de 21 de abril, a pista suspensa sobre a rocha costeira sofreu seu primeiro desabamento, ao ser atingida por uma onda. A queda de um trecho de 26 metros matou Eduardo Marinho Albuquerque, de 54 anos, e Ronaldo Severino da Silva, de 60 anos, que passavam pelo local. Depois do primeiro desabamento, a prefeitura fechou o trecho do Vidigal a São Conrado, mas, semanas depois, a Justiça mandou interditar também o percurso Leblon-Vidigal.
Em setembro de 2016, a Prefeitura do Rio inaugurou o segundo trecho, de 3,1 quilômetros, entre São Conrado e a Barra da Tijuca, enquanto o primeiro trecho continuava interditado. A ciclovia soma nove quilômetros se somados os 3,9 km do primeiro trecho, os 2 km da Praia de São Conrado e os 3,1 km do segundo trecho, que também enfrentou problemas com o furto de parte das grades e chegou a ser temporariamente fechado para reparos mais de uma vez.
Em fevereiro de 2018, a ciclovia teve seu segundo desabamento: cerca de 30 metros do segundo trecho, na saída de São Conrado para a Barra da Tijuca, cederam durante um temporal. Sob a gestão de Marcelo Crivella, a prefeitura explicou que uma galeria que passava sob a via se rompeu e encharcou o solo, provocando o afundamento. Após o incidente, a Justiça interditou completamente a ciclovia a pedido do Ministério Público.
Em janeiro deste ano, um perito designado pela Justiça avaliou que a ciclovia poderia ser reaberta. No dia 25 do mesmo mês, o prefeito Marcelo Crivella gravou um vídeo em que testava a segurança da ciclovia e afirmava que estrutura havia sido reforçada para resistir ao impacto das ondas. Passou apenas uma semana, e chuvas fortes causaram o terceiro desabamento. No início de fevereiro, um deslizamento de terra derrubou outra parte da via na Avenida Niemeyer, na altura de São Conrado.
Apesar de ter sido construída em um costão de pedra entre o mar e montanhas na orla carioca, a Ciclovia Tim Maia deve um desabamento durante uma ressaca, dois colapsos em episódios de chuva forte e um trecho que não resistiu a um deslizamento de terra.
Em um relatório divulgado em março de 2017, o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea) do Rio de Janeiro apontou sinais precoces de deterioração, causados por falhas na construção. A apuração foi iniciada em função da tragédia que deixou dois mortos, em 2016, e o Crea disse em 2017 que a causa desse primeiro desabamento foi o impacto da onda, de baixo para cima, que virou as bandejas sobre a qual a ciclovia passava. Essas bandejas estavam apenas posicionadas sobre os pilares, sem fixação.
Na época, o Crea identificou que a maioria dos blocos de fundação da ciclovia apresenta fissuração considerável devido à incompatibilidade dos materiais com o ambiente agressivo. "Essa degradação comprometerá a integridade e a segurança da estrutura em curto prazo", alertava o texto.