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Chapecó (SC) honra seus heróis um ano após tragédia

População da cidade se abraçou nesta terça-feira (28) para relembrar a pior noite de sua história

Setenta e uma pessoas morreram no acidente, entre elas 19 jogadores, 14 membros da comissão técnica e nove dirigentes da Chapecoense (Fredy Builes/Reuters)

Setenta e uma pessoas morreram no acidente, entre elas 19 jogadores, 14 membros da comissão técnica e nove dirigentes da Chapecoense (Fredy Builes/Reuters)

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AFP

Publicado em 29 de novembro de 2017 às 06h53.

Com um buquê de flores branco no centro de um gramado de luto e sua torcida cantando para o céu, Chapecó se abraçou nesta terça-feira (28) para relembrar a pior noite de sua história, que há um ano arrebatou seus "eternos campeões", quando iam buscar seu sonho.

Voltou a se ouvir o "Vamos, vamos, Chape" em uma Arena Condá que recebia os visitantes, lembrando a ferida que nunca vai se fechar neste pequeno clube catarinense, que teve a vida abalada na madrugada de 28 para 29 de novembro de 2016.

"Saudade. Para sempre na nossa história, eternamente em nossos corações!" - diz um cartaz na entrada do estádio, onde há exatos 12 meses começaram a chegar seus torcedores desesperados.

Uma forte chuva caía em Chapecó quando os veículos começavam a informar o que parecia um pesadelo: o avião levando a equipe havia caído nas montanhas de Medellín, onde o Atlético Nacional aguardava o Furacão do Oeste para disputar a final da Copa Sul-Americana.

Setenta e uma pessoas morreram, entre elas 19 jogadores, 14 membros da comissão técnica e nove dirigentes da Chapecoense.

Apenas seis pessoas sobreviveram ao acidente: uma aeromoça e um técnico em aviação bolivianos, um jornalista e três jogadores brasileiros.

Alisson da Cruz, um jovem que cresceu com o milagre deste clube, que em sete anos passou da quarta divisão a finalista continental, nunca se esquecerá daquela noite.

"Foi uma notícia triste. Lembro de acordar de madrugada com a notícia na TV já. Foi um momento muito triste, de choque para todo mundo. Ninguém acreditava, parecia que era um sonho", contou à AFP este auxiliar administrativo de 23 anos, que chega ao estádio vestindo a camisa e o gorro verdes do clube.

Ele acha que vai ficar até a meia-noite, quando está prevista uma oração em homenagem a seus heróis, iniciando uma marcha que levará até a Catedral.

Ali, à 01H15, os sinos tocarão para lembrar a hora do acidente que chocou o mundo.

"Foi o dia mais triste, acho, da cidade de Chapecó e não tem explicação, a gente fica muito emocionada ao lembrar", conta, com a voz embargada, Miriam Macari, gerente de 27 anos, que não tinha conseguido voltar ao estádio desde o acidente.

Após um ano se equilibrando entre a dor, a saudade e a necessidade de seguir adiante, o clube decidiu não realizar nenhum ato em "respeito a quem ficou e respeito às boas lembranças", mas abriu as portas de sua casa.

Pétalas do céu

As homenagens começaram horas antes na Colômbia, onde dois helicópteros da Força Aérea colombiana atiraram flores sobre a praça central do município de La Unión, perto das montanhas onde ocorreu o acidente.

"A glória estava próxima. A tragédia apagou esse sonho", afirmou Andrés Botero, presidente do Nacional de Medellín.

O atual campeão do futebol colombiano, que cedeu o título de campeão da Sul-americana 2016 à Chapecoense, organizou a homenagem que incluiu um minuto de silêncio.

Enquanto os helicópteros da Força Aérea da Colômbia deixavam cair as pétalas do céu, os nomes das vítimas eram lidos e imortalizados em uma placa.

"Meus amigos chapecoenses nunca serão esquecidos", disse Botero, que anunciou que um mural será dedicado à tragédia no estádio Atanasio Girardot, local da frustrada decisão da Sul-Americana. Além dos dirigentes, três jogadores assistiram o ato.

Ainda sem conclusões, as investigações revelaram que o avião viajava com pouco combustível e sobrepeso. O falecido piloto foi responsabilizado e dezenas de funcionários da companhia aérea e do Estado estão presos na Bolívia.

Cinzas no morro

Após a homenagem em La Unión, uma missa foi realizada no morro que agora leva o nome da Chapecoense. Um altar foi montado no local onde ficou a fuselagem. Duas cruzes de madeira se destacavam perante as dezenas de presentes, muitos vestindo a camisa do Nacional.

Aos pés da cruz, uma família chorava. Os pais de Silsa Arias, a co-piloto boliviana morta na tragédia, viajaram da Bolívia para se despedir de sua filha.

"Viemos para dar um abraço e dizer que vamos tentar continuar sem ela. Trouxemos um pouco de suas cinzas e jogamos (na montanha), uma imagem que certamente mostrarei a seus dois filhos quando começarem a fazer perguntas", contou à AFP Jorge, seu pai.

Na montanha, Luis Albeiro Valencia, de 53 anos, levantou um monumento em seu pequeno sítio lembrando o acontecido em La Unión há um ano. No alto de uma estaca está a réplica em madeira do avião, ao lado de duas colunas de tijolos, uma delas coroada com as rodas do trem de pouso e a outra com uma bola.

"Isto é para lembrar, para que não nos esqueçamos deles. Porque com o tempo todos se esquecerão deste morro", disse à AFP este agricultor.

Renascer

Após o choque da morte há um ano, a Chapecoense precisou encarar uma dolorosa reconstrução, marcada por altos e baixos. O time conseguiu se manter na elite do futebol brasileiro para o ano de 2018, objetivo principal da temporada, conquistou o campeonato catarinense e ainda pode beliscar uma vaga na Libertadores.

Dos três jogadores que sobreviveram, apenas o lateral Alan Ruschel voltou a jogar com o time, após uma recuperação quase milagrosa.

Enquanto isso, o goleiro Jackson Follmann perdeu a perna direita, e o zagueiro Neto, último dos sobreviventes a ser resgatado, ainda está em recuperação. A volta aos gramados está prevista para o ano que vem.

Outros dois que se salvaram da morte, a comissária Ximena Suárez e o mecânico Erwin Tumiri, retomam suas vidas pouco a pouco na Bolívia. A primeira atua como modelo e dá palestras motivacionais. O segundo estuda para ser piloto comercial. Quase todos voltaram a voar.

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