Petrobras: levantamento mira contratos de US$ 650 milhões firmados pela estatal com a Rolls Royce em 2011 (Tânia Rêgo/Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 9 de dezembro de 2014 às 18h21.
Brasília - A Controladoria-Geral da União (CGU) investiga a atuação do lobista Julio Faerman - suspeito de pagar propinas na Petrobras em troca de contratos para a SBM Offshore - como representante de outros grupos internacionais na estatal.
O órgão rastreia negócios intermediados por Faerman e duas de suas empresas - a Oildrive e a Faercom - para outros clientes, sediados em vários países.
O objetivo é a abertura de apurações específicas sobre eventuais irregularidades cometidas também nesses casos.
O levantamento mira contratos de US$ 650 milhões firmados pela Petrobras com a Rolls Royce em 2011, para fornecimento de turbogeradores para embarcações.
Conforme dados obtidos pelos auditores da CGU, Faerman e suas empresas teriam representado a multinacional inglesa no Brasil.
Documentos obtidos pelo jornal O Estado de S. Paulo mostram que o lobista e suas empresas também operaram na companhia petrolífera para outras cinco corporações.
Trata-se da Benthic, empresa australiana de serviços de geotecnia; da Welspun, indiana que fabricação tubos rígidos; da Tideway, que atua na dragagem e instalação de rochas; da Gall Thomson, inglesa que vende válvulas de contenção; e da Vertech, com sede na Noruega.
Esta última também fechou contrato com a estatal, de US$ 6 milhões, para reparo de plataformas em alto-mar com o uso de helicópteros.
Faerman é acusado de pagar propinas a funcionários da Petrobras para obter contratos para a SBM Offshore, que tem negócios de US$ 27 bilhões com a companhia.
Como representante, ele recebeu da empresa holandesa comissões de US$ 139 milhões. Parte desse dinheiro teria sido distribuído como suborno.
Investigações de autoridades suíças sobre o caso SBM confirmaram pagamentos indevidos a empregados da estatal no exterior, o que levou a empresa a pagar multa de US$ 240 milhões, por meio de um acerto com o Ministério Público da Holanda.
No Brasil, a SBM já informou à CGU a intenção de fazer um acordo de leniência, por meio do qual aceitaria pesadas multas para não ser proibida de participar de licitações.
A SBM rompeu seu vínculo formal com Faerman e outros representantes em 2012, após denúncias de irregularidades no Brasil e em outros países.
Depois disso, no entanto, o empresário e seus sócios continuaram frequentando a Petrobras. Foram 165 visitas desde 2012, conforme registros de entrada nos prédios da estatal, no Rio.
O Estado consulta a Petrobras sobre contratos firmados com as empresas representadas por Faerman desde 27 de outubro, mas a estatal não se pronuncia.
Procurada desde o dia 3 deste mês, a Rolls-Royce tem informado que aguarda dados de sua área de compliance (controle), em Londres, para se manifestar sobre a suposta relação com Faerman e suas empresas.
A Benthic explicou que nunca teve contratos com a Petrobras. Em nota, afirmou que tinha acordo com a Oildrive, de Faerman, até 2014 para serviços de consultoria. As demais empresas não se pronunciaram.
Os advogados de Faerman não retornaram aos contatos do Estado. Em nota, a Oildrive alegou que, "embora tivesse todo o interesse em responder perguntas e aclarar a verdade", não pode "desrespeitar o sigilo imposto à investigação pelas autoridades".
"Assim, lamentavelmente, por orientação de nossos advogados, não poderemos lhe encaminhar nossos esclarecimentos, conforme solicitado", acrescentou.