Escolha do vice: Dirigentes do Centrão queriam que o presidente convidasse Tereza sob o argumento de que ela ajudaria a conquistar o voto das mulheres (Carolina Antunes/PR/Flickr)
Estadão Conteúdo
Publicado em 28 de junho de 2022 às 07h15.
A escolha do general Walter Braga Netto como vice na chapa do presidente Jair Bolsonaro (PL) à reeleição contrariou o Centrão, grupo de partidos que apoia o governo e defendia o nome da deputada Tereza Cristina (Progressistas-MS) para a dobradinha. A avaliação de dirigentes do bloco e até da equipe de comunicação da campanha é a de que Braga Netto não atrai votos e reforça o perfil militar da chapa, quando o presidente precisaria de apoio no espectro de centro.
Bolsonaro está em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No diagnóstico do comando da campanha, ele precisa de um "fato novo" e de impacto. Nos últimos dias, porém, o governo tem enfrentado mais desgastes, após desdobramentos das investigações sobre o gabinete paralelo instalado no Ministério da Educação, com suspeitas de cobrança de propina por pastores para liberar verbas a prefeituras.
Dirigentes do Centrão queriam que o presidente convidasse Tereza sob o argumento de que ela ajudaria a conquistar o voto das mulheres - eleitorado considerado avesso a Bolsonaro - e a consolidar o apoio do agronegócio. O presidente, porém, acha que um militar representa uma espécie de "seguro" contra um possível impeachment. Ex-ministra da Agricultura, Tereza vai disputar o Senado por Mato Grosso do Sul.
"Pretendo anunciar nos próximos dias o general Braga Netto como vice", afirmou Bolsonaro, na noite de anteontem, em entrevista ao programa 4 por 4, veiculado no YouTube. Ex-ministro da Defesa e da Casa Civil, o general deixou o cargo em março e, logo depois, se filiou ao PL, mesmo partido de Bolsonaro. Mas o próprio presidente do PL, Valdemar Costa Neto, era um dos principais defensores de Tereza Cristina.
A forma escolhida por Bolsonaro para confirmar Braga Netto na chapa - durante uma entrevista - também foi considerada por aliados uma descortesia com o atual vice, Hamilton Mourão. "Não me sinto chateado. O presidente tem o livre-arbítrio de escolher quem ele acha mais apropriado. Braga Netto vai agregar aquilo que ele acha que necessita", disse o general, que se filiou ao Republicanos e deve concorrer ao Senado pelo Rio Grande do Sul.
A deputada estadual Janaína Paschoal (PRTB-SP) disse que Bolsonaro deveria "repensar" a decisão. "Precisamos caminhar para o centro", afirmou ela no Twitter. "Trocar os generais só endurece mais a imagem do presidente. Eu não sei o que Braga Netto pensa. Ele precisa se expor mais. Todo vice pode virar titular."
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